Saturday, April 08, 2006

Girl Power

Começou com a Mulher-Maravilha. Culpa da televisão. Era um seriado tosco, a atriz principal, ex-Miss Estados Unidos. Mas qual menininha não ficaria abismada vendo uma séria executiva girar em torno de si mesma, levantar fumaça....e aparecer vestida como um traveco egresso da parada gay!? Bom....naquela época, aos cinco anos de idade, obviamente não via qualquer restrição ao berrante figurino da minha heroína favorita. Eu amava a Mulher-Maravilha. Mais do que a minha mãe. Mulher-Maravilha era sagrada. E também todos os acessórios relacionados a ela: revistinhas em quadrinhos (que meu pai era obrigado a ler em voz alta, pois eu ainda era analfa), lancheira, uniforme (o top da fantasia era vestido sobre uma malha(!), pois ganhei o conjuntinho de presente em um inverno....), desenhos para colorir (caseiros. Papai, again). Aí passou. Ou melhor, aí passou para outra. Mulher-Biônica. Fiquei encantada com a moça que levantava carros com o dedo mindinho, sem lascar esmalte e sem precisar usar calção azul com estrelas estampadas. Mas a série acabou. Tudo bem, adotei "As Panteras". Não tinham super poderes. Mas possuíam super laquês armando os super cabelos. E eram muito melhores do que a Mulher-Maravilha: essa, folgada, prendia bandidos após arremessar um laço. Tipo peão de rodeio. Nem precisava sair do lugar. As detetives, não. Corriam atrás dos meliantes, equilibradas em saltos-agulha!
Anos 80...."Dama de Ouro". Policial ruiva, Kate Marrone. Os maldosos a apelidaram de "Kate Machone". Injusto. Em um episódio, ela até chorou. Vi todos.
Fiquei grandinha. E pensei que tivesse me curado da febre do heroísmo feminino.
Ledo engano. Em 1997, o vício adormecido aflorou. "La Femme Nikita", o melhor e mais injustiçado seriado de todos os tempos. Melhor porque os enredos eram repletos de armadilhas; a gente mordia a poltrona de nervoso (os roteiristas do LFN futuramente criaram o aclamado "24"). Melhor porque todos personagens apresentavam caráter dúbio (os mocinhos não valiam muito mais do que os vilões: torturavam, encomendavam assassinatos, fingiam sentimentos e puxavam o tapete uns dos outros). Melhor porque a trilha sonora foi escolhida a dedo. Rolou PJ Harvey, Curve, Depeche Mode, Massive Attack, Hooverphonic, Prodigy e uma infinidade de sons bacanas. E seriado injustiçado porque.....só eu vi, hehe. Cheguei a propor pagamento para que amigos dessem uma espiada nos capítulos e me proporcionassem a alegria de alguns comentários no dia seguinte.
Comprei botas e roupas pretas iguais às da Nikita, repetindo o efeito Mulher-Maravilha (o fato da minha idade já ser quase seis vezes superior a cinco anos não me envergonhou). Terminado o último episódio, respirei aliviada. Estava livre!
Sim....livre. Mas só até a estréia de....."Alias". Cópia descarada de "La Femme Nikita". Agente da CIA empenhada em salvar o mundo (e mundo, nesses casos, limita-se aos EUA) de toda a sorte de terroristas. E lá voltei eu pra frente da TV....

Desisti. E resolvi assumir. Sou fanática por seres humanos com dois cromossomos X que ganham a vida tentando botar malfeitores atrás das grades!
Tão fanática, que virei um.

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