Saturday, April 15, 2006

Femme Fatale

"Here she comes, you better watch your step. She’s going to break your heart in two, it’s true. It’s not hard to realize. Just look into her false colored eyes. She builds you up to just put you down, what a clown’cause everybody knows (she’s a femme fatale). The things she does to please (she’s a femme fatale). She’s just a little tease (she’s a femme fatale). See the way she walks. Hear the way she talks. You’re written in her book. You’re number 37, have a look. She’s going to smile to make you frown, what a clown. Little boy, she’s from the street. Before you start, you’re already beat. She’s gonna play you for a fool, yes it’s true’cause everybody knows (she’s a femme fatale). The things she does to please (she’s a femme fatale). She’s just a little tease (she’s a femme fatale). See the way she walks. Hear the way she talks." ("Femme Fatale", Velvet Underground)
Se os advogados de Suzane Von Richtofen queriam mesmo convencer a opinião pública de que a moça é uma boneca inofensiva, deveriam ter passado a ela a lição de casa correta: aproveitar o resto de liberdade pré-julgamento e ir ao cinema para ver "A Dama de Honra". E se inspirar em Senta, a personagem principal, para compor a personagem que iria mostrar na sua entrevista para a TV Globo. "A Dama de Honra" é filme francês, de Claude Chabrol. Conta a história de um rapaz certinho, excelente filho, que se apaixona pela dama de honra no dia do casamento da irmã. Ela é prima do noivo. Maluquete, impulsiva, jura amor eterno ao moço logo após o conhecer. E o arrasta para sua casa: uma mansão abandonada, onde ela mora no porão. Passado nebuloso, doçura interrompida por repentes de fúria, comportamento amoral e um pedido imoral....aos poucos o filme vai abrindo a personalidade de Senta, apelido de Stephanie, aos olhos do espectador que se remexe incomodado na poltrona. Esse desconforto é provocado pela sensacional atuação de Laura Smet, a Senta. Quando séria, a atriz não causa simpatia: tem um rosto muito redondo e duro, olhos claros bastante oblíquos, típicos das pessoas indignas de confiança. Ar de tédio. Contudo, ao sorrir, suas feições se alteram a ponto de induzir remorso naquele que ousou cogitar que a mocinha era dissimulada e desagradável. E tal sensação dura até o final de "A Dama de Honra", quando o quebra-cabeça se completa e os segredos são escancarados.
O filme é de 2004. Laura Smet nasceu em novembro de 1985. Sua Senta já reuniu todos os atributos para entrar para a galeria das psicóticas célebres do cinema. Não fica atrás das mulheres de Hitchcock. Laura Smet compôs uma pós-adolescente que amedronta, sem precisar recorrer a caretas de perversidade, sangue cenográfico (ou ao famoso furador de gelo empunhado pela retocada Sharon Stone em "Instinto Selvagem", essa sim, caricata). E o efeito que Senta surte nos outros é explicado pela própria, em cena na qual ela conta ao namorado Philippe a razão de seu fracasso como atriz iniciante: um teste com John Malkovich foi mal sucedido. Philippe pergunta então se ela se saiu mal. Senta: "Malkovich se saiu mal. Disse que eu o deixava nervoso".

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