Celso Limongi, atual Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, me chamou de "deseducada" (isso parece início de coluna do Diogo Mainardi. Não é). Os motivos - jurídicos - são irrelevantes aqui. O fato é que tal termo, pouco usual, levou-me à reflexão. Penso que, ao atribuir a mim adjetivo de sonoridade tão incomum, o chefe do Judiciário paulista teve receio em ser....deseducado. Porque a pecha de "mal-educada" ou até mesmo "sem educação" é demasiadamente forte e explícita. Também um pouco ofensiva. Insinua que meus desafortunados genitores desempenharam com displicência a árdua tarefa de tornar sua pimpolha uma pessoa civilizada. Ou pior: que esse casal me largou ao Deus-dará, negligenciando por completo o dever de ensinar à sua descendente valores básicos de convivência e respeito. "Deseducada", parece, é a pessoa que se desfez da educação que de fato recebeu. Então, mamãe já pode respirar aliviada. Ela cumpriu sua parte. A crítica não foi dirigida a essa pobre mulher, e sim à degenerada na qual me transformei.
Mas o "deseducada" atiçou meu pensamento. Lembrei que, durante os anos de faculdade, um professor de Direito Processual Penal demonstrava profunda afeição pela palavra "inverdade". Mais uma vez, a questão da suavidade do vocábulo. É feio e...ahnn..."deseducado" dizer que "o réu contou uma mentira". Melhor: "o acusado afirmou uma inverdade". O "inverdadeiro" não ficará magoado com o comentário. E, esteticamente, a grafia nos autos sairá elegante.
Mas o "deseducada" atiçou meu pensamento. Lembrei que, durante os anos de faculdade, um professor de Direito Processual Penal demonstrava profunda afeição pela palavra "inverdade". Mais uma vez, a questão da suavidade do vocábulo. É feio e...ahnn..."deseducado" dizer que "o réu contou uma mentira". Melhor: "o acusado afirmou uma inverdade". O "inverdadeiro" não ficará magoado com o comentário. E, esteticamente, a grafia nos autos sairá elegante.
Já percebi: profissionais do Direito têm esse vício. A tendência, às vezes inconsciente e mecânica, de injetar glamour no banal e de travestir de classe o pejorativo. Nas sentenças, denúncias e petições em geral, "carros" não são furtados, leiloados ou danificados. Somente "veículos". Ora, apenas vendedores de concessionárias e narradores de comerciais televisivos pronunciam "veículos" ao invés de "carros". Se tiver coragem, pare seu possante em um posto de gasolina e peça ao frentista que abasteça o seu "veículo". Eu não tenho. Qual o problema da injustiçada palavra "carro"? É gíria? Palavrão? Não. Talvez seja a aspereza do som. Os dois erres machucam os ouvidos e olhos. Não merecem integrar o chique linguajar jurídico.
E por aí vai: "fugir" vira "empreender fuga"; um simples e comunzinho "entrar" é elevado à categoria de "adentrar" ou "ingressar". E nenhum policial "consegue" prender o bandido. Todos "logram êxito em". Medonho. Agora, já tem até gente trocando o mundano "maconha" por...."diamba"! Socorro, Pai dos Burros.
E, na vida cotidiana, "o preconceito contra palavras perseguidas" continua. Por que um sujeito não pode jantar no Fasano e perguntar ao garçom onde fica o sanitário? E por que o mesmo rapaz seria motivo de chacotas se, no Terminal Rodoviário Tietê, pedisse informações sobre a localização do toalete? Afinal, ambos os espaços são destinados à idêntica colheita de materiais!
Mas enfim. Deixa para lá. Desculpa, Celsão! Foi mal. Prometo: não voltarei a ser grosseira. Ops! "Grosseira" é uma palavra muito...."grosseira". Perdão, eu não aprendo mesmo. Coisa de gente deseducada.
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