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Mas o "deseducada" atiçou meu pensamento. Lembrei que, durante os anos de faculdade, um professor de Direito Processual Penal demonstrava profunda afeição pela palavra "inverdade". Mais uma vez, a questão da suavidade do vocábulo. É feio e...ahnn..."deseducado" dizer que "o réu contou uma mentira". Melhor: "o acusado afirmou uma inverdade". O "inverdadeiro" não ficará magoado com o comentário. E, esteticamente, a grafia nos autos sairá elegante.
Já percebi: profissionais do Direito têm esse vício. A tendência, às vezes inconsciente e mecânica, de injetar glamour no banal e de travestir de classe o pejorativo. Nas sentenças, denúncias e petições em geral, "carros" não são furtados, leiloados ou danificados. Somente "veículos". Ora, apenas vendedores de concessionárias e narradores de comerciais televisivos pronunciam "veículos" ao invés de "carros". Se tiver coragem, pare seu possante em um posto de gasolina e peça ao frentista que abasteça o seu "veículo". Eu não tenho. Qual o problema da injustiçada palavra "carro"? É gíria? Palavrão? Não. Talvez seja a aspereza do som. Os dois erres machucam os ouvidos e olhos. Não merecem integrar o chique linguajar jurídico.
E por aí vai: "fugir" vira "empreender fuga"; um simples e comunzinho "entrar" é elevado à categoria de "adentrar" ou "ingressar". E nenhum policial "consegue" prender o bandido. Todos "logram êxito em". Medonho. Agora, já tem até gente trocando o mundano "maconha" por...."diamba"! Socorro, Pai dos Burros.
E, na vida cotidiana, "o preconceito contra palavras perseguidas" continua. Por que um sujeito não pode jantar no Fasano e perguntar ao garçom onde fica o sanitário? E por que o mesmo rapaz seria motivo de chacotas se, no Terminal Rodoviário Tietê, pedisse informações sobre a localização do toalete? Afinal, ambos os espaços são destinados à idêntica colheita de materiais!
Mas enfim. Deixa para lá. Desculpa, Celsão! Foi mal. Prometo: não voltarei a ser grosseira. Ops! "Grosseira" é uma palavra muito...."grosseira". Perdão, eu não aprendo mesmo. Coisa de gente deseducada.
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