Saturday, April 01, 2006

Einstein e Squash

"Em um mundo onde o tempo é um sentido, como a visão ou o paladar, uma seqüência de episódios pode ser rápida ou lenta, branda ou intensa, salgada ou doce, motivada ou sem motivo, ordenada ou aleatória, dependendo da história anterior do observador. Filósofos sentam-se nos cafés da Amthausgasse e discutem se o tempo realmente existe fora da percepção humana. Quem pode dizer que um evento acontece rápido ou devagar, com ou sem motivo, no passado ou no futuro? Quem pode dizer que os eventos realmente acontecem? Os filósofos sentam-se com olhos semi-abertos e comparam suas estéticas do tempo". ("Einstein´s dreams", Alan Lightman)

Para Einstein, toda medição do espaço e do tempo é subjetiva. Essa é a idéia fundamental da Teoria da Relatividade, que ele sintetizou usando um exemplo divertido: "Quando você está namorando uma bela garota, uma hora parece um segundo. Quando você senta numa brasa viva, um segundo parece uma hora. Isso é Relatividade".
Será que Einstein chegou a acompanhar um jogo de squash? Porque squash é uma atividade completa não apenas por aliar força, rapidez e elasticidade. Esporte algum é tão feliz ao fundir as noções de espaço, velocidade e tempo.
Espaço. Fala-se em "quadra" de squash. Quadra, no entanto, é o retângulo gigante no qual tenistas, jogadores de basquete e de vôlei se movimentam freneticamente em busca de uma esfera, a bola. Mas uma quadra é um espaço unidimensional. Um quadrado ou retângulo, nunca um cubo. Squash, sim, rola dentro de um cubo. "Sala", ao invés de "quadra". Ao fechar a porta de vidro desse espaço, para iniciar o treino ou a partida, a sensação é de ingresso em uma big caixa. Como se o jogador de squash fosse uma pecinha dentro do painel de uma máquina de fliperama (que é uma enorme caixa).
Velocidade. Quer se dar bem no squash? Então nada de preguiça nas pernas, OK? E prepare seu braço preferido. Ele terá que desenhar ligeiras parábolas no ar. Esqueça seus dedos. Seu membro superior agora termina no ápice de um arco de titânio: a raquete. Aliás, o corpo que rejeita essa prótese resistente e leve transforma o jogador em inevitável perdedor. Acostume-se a sentir que suas veias e nervos ultrapassam "your fingertips" e que também se ramificam pela trama de cordas da raquete. Suas chances começam aí. E corra. Corra muito. Sebo nas canelas, para usar expressão antiga. Persiga a bolinha com passadas velozes. Mas atenção. Perseguir não significa necessariamente correr atrás. Squash não é tênis. O chão não é o limite. A bola terá à sua disposição cinco superfícies. Cabe a você ir de encontro à sua trajetória, seja à direita, à esquerda ou em altura superior à sua (lembre-se: seu braço encompridou). Monte estratégias. Para ganhar o ponto, module sua velocidade na batida. Se você não matar a jogada, com sorte poderá prever aonde será seu próximo encontro com a pequena esfera. Posicione-se e espere por ela.
Tempo. Aulas de squash duram meia hora. Se todas as batidas de bolinhas e pegadas de tênis deixassem marcas de tinta na "quadra".....jogadores experientes (e obviamente velozes) decorariam boa porcentagem de solo e paredes no espaço de trinta minutos.....
E provavelmente a mesma meia hora seria insuficiente para um pintor preencher com pinceladas um muro de dimensões semelhantes à parede lateral do caixote de squash....
Será que Einstein aprovaria minha Teoria da Relatividade da Aula de Squash?

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