Thursday, December 31, 2009
2009 - Parte 2 - Música (a Música)
Saturday, December 26, 2009
2009 - Parte 1 - Música (discos)
Monday, December 14, 2009
Jabá, de novo
Demorei mais tempo para escrever esse profile do que costumo demorar para fazer um recurso de apelação em tráfico de drogas com quadrilha e cinco réus!
Saturday, November 28, 2009
500 Days of Summer & Morrissey
Mas John Hughes morreu mesmo? Há controvérsias. Meses depois de sua morte, chega aos cinemas a comédia americana “500 Days of Summer”, dirigida pelo jovem Marc Webb, roteirizada por Scott Neustadter e Michael H. Weber.
É fácil encontrar John Hughes dentro do filme. Quando Tom (Joseph Gordon-Levitt) desafina “Here Comes Your Man”, da banda Pixies, em um karaokê, você sabe que o cinema desse século já tem seu novo Ferris. Tom paga tamanho mico porque está apaixonado pela colega de escritório, Summer (a fofa Zooey Deschanel, vocalista da dupla She & Him). E o sentimento de Tom nasce por culpa do cupido mais melancólico e fracassado que um apaixonado sem esperanças poderia desejar: a música pop. É no elevador da firma que Summer escuta “There’s a Light That Never Goes Out”, canção dos Smiths escapando pelos fones nos ouvidos de Tom. Summer comenta que ama a banda. E Tom percebe que está perdido. Mas o que esperar de uma relação abençoada pela tristeza e pessimismo de Morrissey? O narrador do filme já avisa logo no início: “Essa é a história - garoto encontra garota. O garoto se apaixona. A garota, não.”
“500 Days of Summer” são os quinhentos dias – mostrados em ordem não cronológica - ao longo dos quais Summer esteve presente na vida do recém-formado Tom, que sonha ser arquiteto mas trabalha escrevendo frases para cartões comemorativos. O amor platônico, a conquista desajeitada. O primeiro beijo e a primeira transa – motivo para Tom sair dançando na rua, contangiando outros pedestres em uma coreografia hilária (outra vez, John Hughes dá as caras). Os momentos felizes da relação (que Summer não assume como namoro). E o pé-na-bunda. Que tem tudo para se consagrar como o pé-na-bunda mais cruel - e pop – da história do cinema: Summer diz que não está feliz, que as brigas do casal são constantes. Compara o relacionamento dos dois à relação destrutiva dos punks Sid Vicious e Nancy Spungen. Tom se ofende, argumentando que Sid havia esfaqueado Nancy – atitude que seria incapaz de tomar. Summer devolve: “EU sou Sid”.
Marc Webb foi capaz de contar uma história fictícia – e comum, sobre jovens fictícios – mas comuns, embalada por canções que foram e serão a trilha sonora de histórias reais – e comuns. Da sua, da minha. O diretor Marc Webb entendeu e assimilou a mágica de John Hughes. Morrissey estava mesmo certo: there’s a light that never goes out.
Friday, November 06, 2009
Monday, November 02, 2009
Tuesday, October 06, 2009
Mrs. Magoo
Wednesday, September 23, 2009
Berlim, Mark
Ele fez uma cara engraçada, tipo..."ai, se eu ganhasse um dólar cada vez que me perguntam isso..."
Monday, September 14, 2009
Jello Biafra em Londres
Você é mulher no meio de uma platéia punk 98% masculina. Os 2% restantes são compostos por damas de aparência tão frágil quanto a de gladiadoras. Boa notícia: um banheiro sem filas, vazio e limpo do início ao fim do show, só pra você. Péssima notícia: comece a se preocupar com sua integridade física, porque, com muita sorte, você será apenas estuprada. O mezanino foi a salvação: lá em cima, isolados do gentio, somente punks de boutique que pelo menos pareciam saber ler e escrever. E que tinham tomado no mínimo um banho nas últimas duas semanas. Arranjei um lugar bom pra ver o show.
E o show era Jello Biafra com sua recente banda, The Guantanamo School of Medicine. Jello Biafra é Eric Reed Boucher, 51 anos, ex-vocalista da banda punk californiana Dead Kennedys, que esteve em atividade durante a década de 80. Então o clima era de saudosismo: olhando para a concentração de homens lá embaixo, o número de cabeças calvas e grisalhas se destacava entre a minoria de cabelo verde, espetado por claras de ovos e sabão.
Uma hora esperando, a banda entrou. Só tios. Jello veio depois, pulando, vestindo jaleco branco sobre a camiseta preta e calça jeans. Todo sujo de sangue falso, concentrado nas luvas cirúrgicas que cobriam as mãos. A velharada entrou em êxtase, formou-se a tradicional roda de pogo (a dança empurra-empurra punk, dessa vez na hilária versão geriátrica). Santo mezanino.
Entre uma música e outra, Jello discursava contra as atrocidades do governo Bush. No meio do show, tirou o avental e as luvas, mostrando a camiseta preta com mensagem: I support Iraq veterans against the war. Dançando, Jello parecia um mímico, contorcendo o rosto com caretas, gesticulando, simulando estar sendo torturado.
O set list do show? Sei lá! Fui ao show só para ver o Jello. O álbum de estreia do Guantanamo School vai ser lançado em outubro. Do Dead Kennedys, conheço apenas “California Über Alles”. Foi durante essa música que Jello voou sobre fãs. Foi bizarro: um tiozinho meio careca, dono de uma senhora pança, dando um mosh pra cima da roda de pogo formada por outros tios pelancudos e barrigudos. O roadie não sabia se ria ou se salvava o patrão das mãos enrugadas da galera. Fez as duas coisas.
Intervalo para o bis. No corredor lateral ao palco, uma mulher de cento e trinta anos de idade, vestindo minissaia e blusinha regata, estava desmaiada e tentava ser reanimada pelo staff. Ela bateu a cabeça enquanto balançava os dreadlocks compridos, que batiam na altura da cintura. Mas foi só Jello retornar ao palco para a Medusa punk ressuscitar e voltar a chacoalhar os minhocões. Temperatura explodindo os termômetros, Jello se livrou da camiseta, orgulhoso em revelar a gravidez de seis meses. Incansável, cantou mais três ou quatro músicas (que me pareceram todas iguais...).
Jello e a banda voltaram para o segundo bis, a platéia delirou. Mas eu já estava satisfeita. E faminta. Dei uma passadinha no meu banheiro particular, ainda perfumado de desinfetante e abastecido de papel. Desviei da fila que se estendia diante da porta do banheiro dos desafortunados do sexo oposto, pisei em vários pés até alcançar a porta de saída. E fui embora do inferno, catando as esperanças deixadas na chapelaria. Foi divertido. A banda é competente, acho que o disco novo vai ser aprovado pelos fãs do Dead Kennedys. E Jello é figuraça. Cinquentão plugado na tomada, punk sempre inconformado, esperançoso para que sua música seja entendida como uma denúncia sarcástica contra a hipocrisia da sociedade e política americanas. Bacana. Tiozinho, mas ainda querendo mudar o mundo. Naquela noite, voltei ao mundo dos vivos sorrindo. Contente por ter descoberto que sim, de boas intenções, o inferno está cheio.
Sunday, August 30, 2009
Nick & Norah's Infinite Playlist
Baseado no livro de Rachel Cohn e David Levithan, “Nick and Norah’s Infinite Playlist” (“Nick e Norah, Uma Noite de Amor e Música”, lançado no Brasil em DVD e Blu-ray) é o filme de uma noite em Nova York. Uma noite na Nova York do pós pós-punk, agora povoada e comandada pelos filhos dos fãs de Ramones, Velvet Underground, Blondie e Television. Contando a história do baixista Nick (Michael Cera, o pai adolescente de “Juno”) e de Norah (Kat Dennings), herdeira riquinha de um produtor musical, o jovem diretor Peter Sollet apresenta a nova trilha sonora que embala a madrugada da metrópole elétrica dos táxis amarelos. Ao som de Vampire Weekend, The National, Raveonettes, We Are Scientists, Shout Out Louds, Nick e Norah vagam pelos bastidores da cena roqueira mais invejada do planeta. Em busca não apenas do show de música ideal, mas daquela sensação sublime de pertencer a alguém que vai apertar forte sua mão, tão logo as caixas de som te surpreendam com os primeiros acordes da melhor canção da Banda de Rock da Sua Vida.
Friday, August 21, 2009
The Pretender
O poeta é um fingidor./Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente ("Autopsicografia", Fernando Pessoa).
Elsa Kagan se casou com o francês André Triolet depois da revolução. Moraram no Tahiti até a relação se deteriorar. Triolet retornou para Paris. Berlim foi o destino da linda Elsa, escritora como Viktor.
Em Berlim, Viktor Shklovsky amou a Rússia e Elsa Triolet. Mas sua musa se mostrou tão inacessível quanto sua pátria. Ao escritor não era permitido estar em seu lar, da mesma forma que não era autorizado a demonstrar o seu amor. Viktor e Elsa se comunicavam por cartas. Ela vetou suas visitas, negou telefonemas. Ele escreveu uma carta. “I seem to be sinking, but even there, underwater, where the phone doesn’t ring and rumors don’t reach, where it’s impossible to meet you – I’ll go on loving you. (…) in Russia, I was strong, here I have begun to weep”. A resposta dela foi uma ordem. “Don’t write to me about love. I do not love you and I will not love you. Be light-hearted or else you’ll fail at love”.
“Zoo – or Letters Not About Love” é o livro no qual Shklovsky reuniu suas cartas enviadas para Elsa. E as poucas que recebeu dela. Na obra, o nome de Elsa é modificado. Em cada carta de Viktor, um esforço para burlar a proibição de Alya (Elsa)....e escrever sobre seu amor. Metáforas foram escolhidas como disfarces para declarações apaixonadas e desabafos frustrados do poeta fingidor. Descrições sobre chuvas e enchentes na cidade ocultam o desejo de confessar seu choro convulsivo. A sua desesperança é implicitamente comparada a um carro quebrado. A menção de uma ilha distante insinua o amor inatingível.
Na Alemanha da década de 20, Viktor Shklovsky não teve permissão para falar de amor. Solitário em Berlim, o russo talvez necessitasse de consolo. E conselhos também. De uma voz que pudesse pronunciar palavras semelhantes às quais havia sido obrigado a calar. Que traduzisse em poesia (e melodia) o desespero de um sentimento abafado. E que delicadamente o lembrasse de que o desamor pode ser digno de uma compaixão menos trágica - e mais patética. Viktor precisava das letras e canções Matt Berninger.
Matt Berninger é o frontman do The National, banda novaiorquina que se formou em 1999. Guitarras, piano, violino e os vocais barítono de Berninger se unem em músicas cuidadosamente criadas para serem ouvidas com o coração. Berninger é mestre em converter desilusão, saudade, melodrama e obsessão em letras breves e marcantes, homenagens para quem ama em silêncio. Matt escreve canções para aqueles que convivem com fantasmas na memória, que encenam diálogos imaginários com quem passou, marcou, foi embora – e nunca vai responder. Versos de “Fashion Coat” por coincidência revelam a angústia do expatritado Shklovsky: “I die fast in this city/outside I die slow/I’m not stupid I swear/I read the foreign news to understand my nation (…) everywhere I am is just another thing without you in it”. Quando, em uma carta, Viktor inventou um conto de fadas para driblar a proibição de Elsa (“A hermit once fell in love with a mouse – a strange love, but in Berlin, loneliness will make a person do anything – and he turned her into a girl”), anos e anos depois, na linda “Patterns of Fairytales”, Matt escancarou: “I’m turning on the stereo/And I’m turning into fairytales/Yes, I’m turning on the stereo/And I’m turning into you”. E na vigésima terceira carta, o escritor não aguentou mais: “I am tired of writing not about love. Set my words free, so that they can come to you like dogs to their master and curl up at your feet”. Se de alguma forma Shklovsky pudesse ouvir a advertência de Berninger em “Val Jester” (“Take your time when you tell her how she lives in your blood”), quem sabe seria poupado da explosão impaciente e impiedosa de Elsa Triolet: “You are violating our pact. You are writing me two letters a day. A lot of letters have accumulated. I have filled the drawer of my writing desk, my pockets and my purse are overflowing. On various pretexts, you keep writing about the same thing. Quit writing about HOW, HOW, HOW much you love me, because at the third ‘how much’, I start thinking about something else”. Um salto no tempo e Matt complementaria os temores de Viktor: “You clean yourself to meet the man who isn’t me/You’re putting on a shirt/A shirt I’ll never see/The letter’s in your coat but no one’s in your head/Cause you’re too smart to remember/You’re too smart/Lucky you” (“Lucky You”).
Em 1923, Viktor Shklovsky escreveu uma última carta em Berlim. Que não foi endereçada para Alya, e sim para o comitê central executivo russo. “Bitter is the anguish of being in Berlin, as bitter as carbide dust. Don’t be surprised that this letter follows some letters written to a woman. I’m not getting a love affair involved in this matter. The woman I was writing never existed. Perhaps there was another, a good comrade and friend, with whom I was unable to come to terms. Alya is a realization of a metaphor. I invented a woman and love in order to make a book about misunderstanding, about alien people, about an alien land. I want to go back to Russia”.
Viktor Shklovsky aprendeu e acostumou-se a fingir. Fingindo, teve seu amor recompensado. Elsa Triolet casou-se de novo. Mas Viktor Shklovsky morreu em Moscou, em 1984. Sessenta e um anos após ser novamente acolhido pela Rússia.
Sunday, July 26, 2009
Quando a Arte vira Rock, Parte CXLIII
Friday, July 17, 2009
Quando a Arte vira Rock, Parte CXLII
Thursday, July 02, 2009
I Got You On My Skin
Friday, June 26, 2009
A Visita do Rei e o Retorno da Rainha
Tuesday, June 23, 2009
Site da MTV
Sunday, May 31, 2009
Friday, May 22, 2009
Tuesday, May 05, 2009
Quem avisa...
Olá!Informamos que as reservas para o show "Uma noite com Greg Dulli e Mark Lanegan", que acontecerá no dia 01/07, já podem ser feitas.As reservas serão mediante antecipação do couvert artístico.Podem ser feitas pessoalmente no Bourbon Street, ou por telefone através de nosso Call Center.O horário de atendimento do Call Center é de 2ª a 6ª feira das 09h00 às 20h00 e Sábado e Domingo das 12h00 às 18h00.O valor do couvert artístico será de R$80,00 por pessoa em pé na pista, ou R$125,00 por pessoa em mesa.Para mais informações e reservas, entre em contato conosco pelo telefone 11-5095-6100.Obrigado,Call Center
***BOURBON STREET MUSIC CLUB***Rua dos Chanés, 127 - São PauloTel: 5095-6100 - Fax: 5095-6110Site: www.bourbonstreet.com.br
Thursday, April 30, 2009
Thursday, April 23, 2009
Quando a Arte vira Rock, Parte CXL
"Neptuno" (detalhe), de Bartolomeo Ammannati, e Tim Wheeler, vocalista e guitarrista do Ash. Para a Anna. (Daniel, já reparou que o Tim Wheeler é a sua cara, hehe?)
Sunday, April 19, 2009
Rob Fleming X Steven Stelfox
Friday, April 10, 2009
Mark Lanegan em São Paulo!!
No dia 21 desse mês sai a nova música dele com as Breeders, "The Last Time". E ele também tá fazendo música nova com o Slash (é, aquele). E preparando disco solo! Produtivo, o moço.
1 jul 2009
20:00
Bourbon Street
Sao Paolo BR
4 jul 2009
20:00
Teatro Oriente
Santiago CL
7 jul 2009
20:00
La Trastienda
Buenos Aires AR
11 jul 2009
20:00
Cactus Festival
Bruges BE
12 jul 2009
20:00
Paradiso
Amsterdam NL
13 jul 2009
20:00
Doornroosje
Nijmegen NL
15 jul 2009
20:00
Savoy Theatre
Düsseldorf DE
16 jul 2009
20:00
Stage Club
Hamburg DE
17 jul 2009
20:00
Vega
Copenhagen DK
19 jul 2009
20:00
Royal Festival Hall
London UK
20 jul 2009
20:00
Komedia
Brighton UK
23 jul 2009
20:00
York Theater
Sydney AU
24 jul 2009
20:00
Athenaeum
Melbourne AU
26 jul 2009
20:00
Splendour in the Grass
Byron Bay AU
Tuesday, April 07, 2009
Caravaggio, o pintor punk rocker
Nova Iorque, 1978. No quarto número 100 do Hotel Chelsea, dividindo a mesma cama com a namorada Nancy Spungen, Sid Vicious – baixista do Sex Pistols – dormia rodeado por seringas de heroína. Um hábito. Um vício.
Caravaggio foi um arruaceiro. Rebelde, temperamental, impaciente, beberrão autodestrutivo. Sua presença em tavernas, bordéis, becos e feiras era sinônimo de confusão, de duelos, derramamento de sangue. Sua vida durou apenas trinta e nove anos. Trinta e nove anos de problemas com a lei: Caravaggio foi processado por agredir um garçom, por ofender e assediar mulheres. Por atirar pedras na polícia e portar espada pelas ruas. Foi preso diversas vezes. Feriu um carcereiro e escapou de uma fortaleza, prisão de segurança máxima. E matou um homem em Roma, por causa de aposta firmada durante um jogo de tênis.
Mas o boêmio e competitivo pintor era movido não somente por álcool e sangue fervendo nas veias. Havia um ideal. Caravaggio desejava provar que a Pintura poderia ser acessível, popular, incômoda, provocativa, instigante....e continuar lucrativa. E ainda ser reconhecida e respeitada como Arte.
Como Caravaggio, Sid Vicious foi um desordeiro. Também rebelde, temperamental. Viciado autodestrutivo, acumulou um número considerável de ocorrências policiais: usou uma corrente de moto para surrar um jornalista da revista inglesa New Music Express. Em um clube noturno, ameaçou Bob Harris, respeitado DJ da BBC. Agrediu o irmão da cantora Patti Smith. Vivia fora de controle devido aos efeitos da heroína. E foi preso, suspeito de ter assassinado Nancy no quarto do hotel. A moça foi esfaqueada na barriga e sangrou até morrer. Solto sob fiança, o baixista tentou o suicídio, foi socorrido e salvo. Em fevereiro de 1979, Sid morreu da maneira que Caravaggio temia morrer: dormindo. A combinação entre drogas e sono foi letal para o rapaz de vinte e um anos.
Se na Itália do século XVII Caravaggio foi o pioneiro de um novo movimento artístico - o Barroco - na Londres de 1975 Sid Vicious foi um dos representantes de um novo tipo de rock, que nasceu nos Estados Unidos. O punk. Sid aprendeu a tocar baixo sozinho, ouvindo Ramones, banda americana precursora do punk.
Caravaggio foi criticado por seus contemporâneos. Suas telas não reproduziam a Beleza, e sim o Feio, o Profano, o Mundano. Caravaggio não buscava inspiração nas feições dos quadros e esculturas clássicas para retratar santos, mártires e devotos. O pintor convocava ladrões, músicos de rua, ciganos, pequenos golpistas, prostitutas e os vestia como personagens bíblicos, madonas, cristãos fiéis ou pecadores arrependidos. Pintava os rostos contorcidos, os pés sujos, as mãos calejadas, os corpos castigados e a postura derrotada dos marginalizados e excluídos, transformando criminosos em protagonistas de passagens do Novo Testamento, putas em virgens, órfãos delinquentes em anjos. Na pintura de Caravaggio, os papéis principais eram sempre reservados aos desafortunados. Como nas letras das canções de Lou Reed. Pelas mãos do italiano, o submundo preto-e-branco ganhava cor, passava a adornar as paredes de burgueses endinheirados e os tetos das capelas.
O punk também foi criticado do mesmo modo que Caravaggio: repreendido por pecar pela falta de técnica, de decoro. O punk surgiu áspero e direto, igual a uma obra de Caravaggio, que pintava sem rascunhos, sem ensaios. O punk eliminou os excessos do rock progressivo dos anos 70, reduzindo melodias a poucos acordes, cortando solos de guitarra complicados e intermináveis, produzindo um som rápido, cru, sem floreios, com letras de cunho político. Chocou puritanos, moralistas, desagradou aos fãs do rock sinfônico. Caravaggio foi acusado de destruir a Pintura. O punk, de destruir o Rock.
Caravaggio também cortou excessos: em seus cenários, o fundo era constantemente raso, às vezes totalmente escuro. O foco de luz recaía sobre as expressões faciais dos ídolos, mulheres e homens pintados em estado de surpresa ou choque, de pesar ou sofrimento. As telas de Caravaggio se assemelham a fotografias de shows de rock: músicos e seus instrumentos destacados pela luz do palco contra um fundo negro.
Caravaggio é um artista moderno que foi obrigado a esperar que o mundo se tornasse tão moderno quanto ele. Foram necessários anos para que se aceitasse a ideia de que a Arte poderia se manifestar desacompanhada da beleza convencional, de que poderia ser estranha, inquietante, mas sem perder a honestidade. Visualmente, Caravaggio influenciou até mesmo o REM, banda americana dos anos 90. O REM explodiu graças ao hit “Losing My Religion”. O sucesso da música foi muito impulsionado pelo vídeo idealizado e filmado pelo diretor Tarsem Singh. O contraste entre claro e escuro, atores e atrizes encenando as telas “O Sepultamento de Cristo” e “A dúvida de São Tomás” embelezam a canção entoada por Michael Stipe. Em 1991, o vídeo concorreu a nove prêmios no MTV Music Awards. Ganhou seis, incluindo o de melhor vídeo do ano.
Caravaggio queria mostrar ao observador de suas obras que o angelical e o diabólico, o sexo, a violência e Deus poderiam facilmente, e até mesmo placidamente, coexistir na mesma cena dramática, no mesmo cavalete, na mesma tela. O compositor e cantor australiano Nick Cave incorporou a temática de Caravaggio em suas canções: letras que fundem o sagrado com o profano, o egoísmo criminoso com a culpa, a negação e a reconciliação com a fé. Cave se baseou na história de Lázaro para batizar seu novo álbum, lançado o ano passado - “Dig, Lazarus, Dig!!!” – e inspirar suas músicas. Segundo a Bíblia, Lázaro era um mendigo que, morto, foi ressuscitado por Jesus. Caravaggio montou essa cena, pintou o milagre. E escandalizou seus críticos e inimigos: usou um cadáver de verdade como modelo para Lázaro.
Contestador, visionário, depravado, direto. Brutal.
Caravaggio é puro rock’n roll.
Monday, February 09, 2009
God only Knew
"Trouble comes in slowly/A neverlasting light comes to shine all over me/Bright in the mornin'/ Like all of heaven's love comes to shine on me/And to you who never need/Fuck yourselves, I need some more room to breathe.
Here comes the devil, buy the round/One whiskey for every ghost /And I'm sorry for what I done/Lord it's me who knows what it costs." ("Borracho", Mark Lanegan).
Tuesday, February 03, 2009
Quando a Arte vira Rock, Parte CXXXIX
Sunday, February 01, 2009
Falência Múltipla
Fiquei encantada no dia em que me liguei que o coração do Coração da cidade mais musical do planeta era...uma loja de discos. E agora o coração de Londres parou de pulsar rock.
E o meu ficou apertado. (Consolo: com o fechamento do comércio musical, acaba o risco da gente entrar em uma loja e dar de cara com o Morrissey pelado em uma capa de single. Pirou, tio? Tímido? Não mais. Mas continua criminosamente vulgar.)