O textinho que escrevi saiu na Revista Movie n. 02, de novembro. Embaixo a versão original, sem cortes:
Agosto passado, John Hughes faleceu. Nascido em Nova York, o diretor de “Gatinhas e Gatões” e “Clube dos Cinco”, roteirista de “A Garota de Rosa Shocking”, é parte da cultura popular de uma geração. Que quarentão ou balzaquiana não se lembra de “Curtindo a Vida Adoidado”? Segurando um microfone, o personagem Ferris Bueller, cercado por uma multidão dançante na avenida, dublou a voz de John Lennon em “Twist and Shout” e protagonizou uma das cenas mais inesquecíveis (e bacanas) dos filmes nos anos 80. Ferris se firmou como o grande momento da carreira de seu intérprete, o hoje senhor Sarah Jessica Parker (também conhecido por Matthew Broderick). E Hughes foi mestre. Foi feliz ao escrever, produzir ou dirigir comédias leves marcadas por um toque genial: a mão de John Hughes era hábil o suficiente para, com delicadeza e encanto, misturar em seus enredos as alegrias e aflições da adolescência com o apelo irresistível da música pop.
Mas John Hughes morreu mesmo? Há controvérsias. Meses depois de sua morte, chega aos cinemas a comédia americana “500 Days of Summer”, dirigida pelo jovem Marc Webb, roteirizada por Scott Neustadter e Michael H. Weber.
É fácil encontrar John Hughes dentro do filme. Quando Tom (Joseph Gordon-Levitt) desafina “Here Comes Your Man”, da banda Pixies, em um karaokê, você sabe que o cinema desse século já tem seu novo Ferris. Tom paga tamanho mico porque está apaixonado pela colega de escritório, Summer (a fofa Zooey Deschanel, vocalista da dupla She & Him). E o sentimento de Tom nasce por culpa do cupido mais melancólico e fracassado que um apaixonado sem esperanças poderia desejar: a música pop. É no elevador da firma que Summer escuta “There’s a Light That Never Goes Out”, canção dos Smiths escapando pelos fones nos ouvidos de Tom. Summer comenta que ama a banda. E Tom percebe que está perdido. Mas o que esperar de uma relação abençoada pela tristeza e pessimismo de Morrissey? O narrador do filme já avisa logo no início: “Essa é a história - garoto encontra garota. O garoto se apaixona. A garota, não.”
“500 Days of Summer” são os quinhentos dias – mostrados em ordem não cronológica - ao longo dos quais Summer esteve presente na vida do recém-formado Tom, que sonha ser arquiteto mas trabalha escrevendo frases para cartões comemorativos. O amor platônico, a conquista desajeitada. O primeiro beijo e a primeira transa – motivo para Tom sair dançando na rua, contangiando outros pedestres em uma coreografia hilária (outra vez, John Hughes dá as caras). Os momentos felizes da relação (que Summer não assume como namoro). E o pé-na-bunda. Que tem tudo para se consagrar como o pé-na-bunda mais cruel - e pop – da história do cinema: Summer diz que não está feliz, que as brigas do casal são constantes. Compara o relacionamento dos dois à relação destrutiva dos punks Sid Vicious e Nancy Spungen. Tom se ofende, argumentando que Sid havia esfaqueado Nancy – atitude que seria incapaz de tomar. Summer devolve: “EU sou Sid”.
Marc Webb foi capaz de contar uma história fictícia – e comum, sobre jovens fictícios – mas comuns, embalada por canções que foram e serão a trilha sonora de histórias reais – e comuns. Da sua, da minha. O diretor Marc Webb entendeu e assimilou a mágica de John Hughes. Morrissey estava mesmo certo: there’s a light that never goes out.
Mas John Hughes morreu mesmo? Há controvérsias. Meses depois de sua morte, chega aos cinemas a comédia americana “500 Days of Summer”, dirigida pelo jovem Marc Webb, roteirizada por Scott Neustadter e Michael H. Weber.
É fácil encontrar John Hughes dentro do filme. Quando Tom (Joseph Gordon-Levitt) desafina “Here Comes Your Man”, da banda Pixies, em um karaokê, você sabe que o cinema desse século já tem seu novo Ferris. Tom paga tamanho mico porque está apaixonado pela colega de escritório, Summer (a fofa Zooey Deschanel, vocalista da dupla She & Him). E o sentimento de Tom nasce por culpa do cupido mais melancólico e fracassado que um apaixonado sem esperanças poderia desejar: a música pop. É no elevador da firma que Summer escuta “There’s a Light That Never Goes Out”, canção dos Smiths escapando pelos fones nos ouvidos de Tom. Summer comenta que ama a banda. E Tom percebe que está perdido. Mas o que esperar de uma relação abençoada pela tristeza e pessimismo de Morrissey? O narrador do filme já avisa logo no início: “Essa é a história - garoto encontra garota. O garoto se apaixona. A garota, não.”
“500 Days of Summer” são os quinhentos dias – mostrados em ordem não cronológica - ao longo dos quais Summer esteve presente na vida do recém-formado Tom, que sonha ser arquiteto mas trabalha escrevendo frases para cartões comemorativos. O amor platônico, a conquista desajeitada. O primeiro beijo e a primeira transa – motivo para Tom sair dançando na rua, contangiando outros pedestres em uma coreografia hilária (outra vez, John Hughes dá as caras). Os momentos felizes da relação (que Summer não assume como namoro). E o pé-na-bunda. Que tem tudo para se consagrar como o pé-na-bunda mais cruel - e pop – da história do cinema: Summer diz que não está feliz, que as brigas do casal são constantes. Compara o relacionamento dos dois à relação destrutiva dos punks Sid Vicious e Nancy Spungen. Tom se ofende, argumentando que Sid havia esfaqueado Nancy – atitude que seria incapaz de tomar. Summer devolve: “EU sou Sid”.
Marc Webb foi capaz de contar uma história fictícia – e comum, sobre jovens fictícios – mas comuns, embalada por canções que foram e serão a trilha sonora de histórias reais – e comuns. Da sua, da minha. O diretor Marc Webb entendeu e assimilou a mágica de John Hughes. Morrissey estava mesmo certo: there’s a light that never goes out.
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