Thursday, December 31, 2009

2009 - Parte 2 - Música (a Música)







Na primeira vez em que ouvi "Never Forget You" no rádio - rádio mesmo, o aparelhinho, não estação on line - eu cheguei a pensar que havia feito as pazes com Amy Winehouse. Que a temporada no Caribe, o recheio siliconado nos peitos e no beiço, sei lá, alguma coisa tinha abençoado a moça e desencadeado um surto criativo. Que toda discografia chata daquela mulher finalmente encontrava redenção em uma música diferente, iluminada, com um pé fincado no swing dos anos 60 e outro neste século, um equilíbrio original e fresco entre R&B e pop rock. Eu não ouvi o locutor dizer o nome da canção e da cantora, mas aquele vocal feminino anasalado tinha cheiro de Amy. Então fui pro Google. Digitei um pedacinho da letra. E Amy, que já estava no meu purgatório pessoal aguardando confirmação para subir ao paraíso (e se sentar à direita de poderoso Lanegan), despencou outra vez para o inferno ao qual condenei artistas diabólicos que torturam meus ouvidos.

Shingai Elizabeth Maria Shoniwa é filha de uma humilde zimbabuana que imigrou para a Inglaterra. Cresceu com os irmãos em um conjunto habitacional no sul de Londres e, embora pobres, foram acostumados a escutar e a gostar de música. A mãe de Shingai insistiu para que toda a prole aprendesse a tocar um instrumento, se empenhou para juntar um dinheirinho, comprar discos de jazz e levar a criançada a shows. Shingai fez jus ao próprio nome, que significa "perseverança": trabalhou como atriz, artista circense, graduou-se em Artes. Até que em 2003 se uniu ao guitarrista Dan Smith e ao baterista Jamie Morrison, para ser a baixista e vocalista de uma nova banda: Noisettes.

Eu vi Noisettes há dois anos e meio, em Paris. Confesso que não dei muita pelota. Na época, eles haviam acabado de lançar o primeiro disco, com faixas de rock de garagem em que Shingai eleva a voz gritando para acompanhar a guitarra. Ao vivo, a banda lembrava uma cópia menos vigorosa da banda californiana BellRays, de punk rock e soul. O que é péssimo, pois os americanos tocam mais rápido, alto, melhor e têm Lisa Kekaula como vocalista. Não dá para comparar, não tem como Shingai competir com Lisa. Seria como jogar Michael Phelps e você numa piscina e esperar pra ver quem chega primeiro do outro lado (Lisa seria Phelps, óbvio, não você, lesma).

Tiro o chapéu para bandas que reconhecem suas limitações, não desistem de ser uma banda, mas....tentam algo novo. Mudar o tipo de som é uma sábia decisão. E eu fico imensamente feliz por Noisettes ter resolvido ser menos rock e mais pop. "Never Forget You", canção que está no novo CD da banda, "Wild Young Hearts", é um sopro de leveza e alegria. Foi produzida e escrita pelo próprio Noisettes. "Never Forget You" é pura homenagem às Supremes, grupo de garotas negras que foi a menina-dos-olhos da lendária gravadora Motown, de Detroit, entre 1959 e 1977 (sua integrante mais famosa era Diana Ross). Dá uma comparada no vídeo de "Chain Gang", das Supremes, e no clipe de "Never Forget You" (Shingai, linda, namorando um Porsche no início e vestida de diva do soul ao final). "Never Forget You" é a canção pop perfeita, com melodia catchy e letra sapeca que remete à inocência dos anos 60, época em que nossas mães davam trabalho para nossos avós ("We were mischievious/And you were always wearing black/I was so serious/You know my boyfriend's mother nearly had a heart attack"). Não tem como não escutar e não abrir um mega sorriso.

Presente de Ano Novo: "Never Forget You" para baixar. Canção sixties que não existia cinquenta anos atrás, mas que felizmente existe hoje, último dia de 2009, e que ainda vai existir quando chegar a década de sessenta deste século. E por todos os outros que também virão.

Dedico para todo mundo que passou por aqui durante esse ano.

E para você, Vovó querida.

Nunca Vou Te Esquecer.

2 comments:

Bacana said...

Feliz Ano Novo, dona Ana Luisa!Tudo de bom nesse 2010, que promete muitas emoções por aqui, no Planalto Central.

Galaxy Of Emptiness said...

Obrigada, Bacana, Feliz Ano Novo Eleitoral pra vc,ahahaha!
E já que vc. é "Nosso Homem em Brasília" manda aí uns boletins de fatos bizarros quando a coisa começar a pegar....pra eu e o Palma termos motivos pra rir (ou chorar) na hora do lanche atibaiense...:)
Bjs!