Monday, October 30, 2006

Guillermo Arriaga



Hoje, aproveitando que o Fórum fechou devido às eleições de ontem, fui ao cinema. Vi "Babel", um dos filmes da Mostra de Cinema de São Paulo. "Babel" é dirigido pelo mexicano Alejandro Gonzáles Iñárritu, que levou o prêmio de melhor diretor em Cannes. É o último filme de uma trilogia. O primeiro foi "Amores Brutos" e o segundo (e mais devastador) é "21 Gramas". Nos três filmes, o acaso - que sempre vem sob a forma de tragédia - une as vidas de pessoas, famílias que nunca se viram antes (fórmula que foi descaradamente copiada em "Crash", vencedor do Oscar desse ano). Três filmes que, dentro de si, misturam tramas paralelas que se confundem e se justificam. A temática principal é sempre a Morte (ou a iminência dela). A Morte determinando as reações e os atos dos vivos, injetando angústia extrema, loucura, egoísmo e crueldade em gente como a gente. Em "Babel", um casal de americanos viaja para o Marrocos para tentar superar uma crise. Lá, ocorre um grave incidente que repercute no cotidiano de duas crianças em San Diego (filhos do par) e de uma governanta mexicana. O inesperado também interfere no destino de marroquinos miseráveis e na vida de uma jovem japonesa que mora em Tokyo. Pessoas que não se conhecem, mas que terão em comum a dor da perda. Brad Pitt interpreta o marido americano. Grisalho, abatido, envelhecido. Convincente (mais por mérito do diretor - que soube explorar muito bem o que o ator podia oferecer - do que por talento do rapaz). Haverá sessões de "Babel" na terça, quarta e quinta. O site da Mostra divulga cinemas e horários.
Bom, toda essa "propaganda" que fiz deve-se.....a Guillermo Arriaga. Guillermo Arriaga é o roteirista de "Babel". Parceiro constante de Iñárritu, também escreveu os roteiros de "Amores Brutos" e de "21 Gramas". Além disso, Arriaga é escritor. Meu escritor preferido (ao lado do Alan Lightman). Ah, e eu sou a leitora preferida dele. É, isso mesmo. Eu sou a leitora preferida do cara. Pelo menos foi o que ele me disse. É uma história esquisita, mas juro que é verdadeira. Em 2003, comprei e li "O Búfalo da Noite", o único romance de Arriaga que foi publicado no Brasil. E adorei. Gostei tanto que passei a procurar informações sobre o autor na Internet. Eu ainda nem tinha visto "Amores Brutos". Gostei do cara exclusivamente como escritor. Encontrei um arquivo de bate-papo no portal Terra espanhol. No fim da conversa, ele divulgava o e-mail dele. Então resolvi mandar uma mensagem, certa de que não daria em nada. Mas deu. Ele respondeu rapidamente! Em espanhol. E o tom da resposta, alegre, informal, mostrava que não se tratava de um assessor se fazendo passar por ele. Simpático, agradeceu por eu ter lido o livro dele, falou que conhecia o Rio de Janeiro, perguntou como eu havia descoberto o e-mail. O tempo passou, veio "21 Gramas" e os dois mexicanos, diretor e roteirista, foram ganhando fama.
Nunca mais escrevi até....ano passado. Estive em Madri e lá comprei o mais recente livro do Guillermo Arriaga, "Retorno 201" (que não foi publicado aqui). Livro sensacional! Então....mandei outro e-mail. Pensando que provavelmente o endereço já tinha mudado. Na minha mensagem, dizia que ele era meu escritor favorito. Mais uma vez.....resposta! E que resposta! Ele falou que estava lisonjeado e que então eu era a leitora preferida dele. Um fofo (embora eu não acredite muito. A leitora predileta dele deve ser uma mexicana...). Conto essa historinha não para me gabar. Apenas para ficar registrado que o sujeito parece ser muito humilde. Conselho: assista a "Babel", um grande filme,....e escreva pra ele! Infelizmente, não tenho mais as mensagens que ele me enviou. Perdi tudo depois que invadiram meu e-mail antigo, o que me levou a deletar a conta. Mas eu não esqueci o endereço dele, que, depois de um ano, talvez ainda seja o mesmo. Acho que não há problema em divulgar, pois catei na própria Internet. É garriga58@yahoo.com. Manda ver. Antes que ele ganhe um Oscar e fique inacessível.

Jean-Honoré Fragonard e Yeah, Yeah, Yeahs


"Pack up; I’m straight; /Enough; /Oh say, say, say; /you'll Oh say, say, say; /you'll Oh say, say, say; /you'll Oh say, say, say; /you'll Oh say, say, say you'll /Wait, they don’t love you like I love you;/Wait, they don’t love you like I love you;/Ma-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-aps;/Wait! They don’t love you like I love you./Made off;/Don’t stray;/Well, my kind’s your kind;/I’ll stay the same!/Pack up;/But Don’t stray;/Oh say, say, say;/I'll Oh say, say, say!/Wait! They don’t love you like I love you;/Wait! They don’t love you like I love you;/Ma-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-aps;/Wait! They don’t love you like I love you!Wait! /They don’t love you like I love you...."("Maps", Yeah, Yeah, Yeahs).

O Tim e o Timor

É tarde pacas. Cheguei em casa há duas horas. Estava no Tim Festival. Eu e Marcinha, sister das antigas. Foram quatro bandas. A primeira - Mombojo, Mombojó, Monjolo ou qualquer outro nome que lembre bangôs e capoeiristas - tomei a sábia decisão de não ver. A segunda, TV On The Radio, era a razão da minha ida ao festival (e do desembolso de exorbitantes R$ 180,00). Bacana, mas é melhor em CD. Yeah, Yeah, Yeahs, a terceira banda, acho um pé. Mas pelo menos foi mais suportável do que ouvir os discos. Por fim, não vi o Daft Punk. Não tenho mais paciência para passar da meia-noite em shows lotadaços, ambientes insalubres.
Ah. Entre TV On The Radio e Yeah, Yeah, Yeahs rolou algo no palco. Chama-se Thievery Corporation. Mas não dá pra denominar aquilo de banda, aquilo de show. Foi um batuque tribal dos infernos. Acho que eles estavam chamando chuva.
Mas enfim. A noite foi salva por Zé Fernando. Zé Fernando foi meu veterano na Faculdade de Direito. Tão veterano que, quando entrei na SanFran, ele já tinha se formado. Mas continuava lá, colando nas festas, presente nas viagens, pegando calouras (não, não eu). Figura. Em um dos intervalos de shows, Zé Fernando, de boné e óculos laranja, avistou a gente e chegou para conversar. Zé e Marcinha tinham um assunto em comum: o...Timor Leste. Zé já esteve lá, Marcinha também. Zé, advogado, a trabalho pela ONU. Marcinha, juíza, a lazer, para passear e mergulhar. É, existe uma pessoa nesse mundo que escolheu o Timor Leste para desfrutar suas merecidas férias. Nunca entendi. Além do Timor, Zé Fernando também trabalhou na República Dominicana e no....Congo! Zé e suas "pérolas" foram a melhor coisa do Tim:
"No Timor, eu trabalhava no gabinete do Presidente. Até o dia em que os guerrilheiros invadiram o palácio. Nós tivemos que fugir pelos fundos e pular o muro pra não levar umas balas, hehe".
"No aeroporto do Congo não existem computadores. Nenhum. Até os bilhetes de viagem são feitos a mão ou em máquinas. A gente desembarca e logo é escoltado por soldados do exército com metralhadoras".
"No Congo não deu pra transar! Um terço da população está com AIDS".
"No Congo, eu passei seis meses trancafiado em uma casa, só com estrangeiros. Era como no Big Brother; depois de um tempo começaram os conflitos. Só que infelizmente ninguém era expulso....".
"Uma vez, no Congo, o segundo cara mais importante da ONU teve a infeliz idéia de dar uma corridinha pelo melhor bairro da Capital. O sujeito foi assaltado. Levaram tudo, tudo. Ele ficou completamente pelado e teve que pedir ajuda em um hotel. Ah, ele foi assaltado pela Guarda Presidencial.....".

Saturday, October 28, 2006

We Heart Prints


http://www.weheartprints.com/

Arte mega contemporânea. Tudo é lindo, dá vontade de pegar. Talvez sejam os Renoir, Picasso, Chagall do século XXI...

The Melancholy Death Of Oyster Boy



"The Melancholy Death Of Oyster Boy & Other Stories" é o livrinho de poesias escrito por Tim Burton, diretor de "Edward Mãos-de-Tesoura", "Peixe Grande", "A Noiva Cadáver". Nem é muito recente; ano que vem faz dez anos. Reúne vinte e três pequenas historinhas rimadas, acompanhadas por desenhos muito simples, de traços infantis. São contos, fábulas fantásticas.
Comprei na livraria do Tate Modern, em Londres. Estava exposto entre outros livros para crianças. Pois bem, "The Melancholy Death..." é cruel até o osso. De certa forma, segue o tema do Patinho Feio: o outsider sozinho que não é aceito pelos amigos, que é estranhado pela família. Só que, no final, as crianças e adolescentes de Tim Burton nunca se transformam em cisnes. E o encanto do livro se justifica bem aí: no modo impiedoso, cínico e maldoso como o autor trata seus personagens: o Menino-Múmia, a Menina-Lixo, A Menina-Cheia-de-Olhos, O Menino-Palito. Mas, entendendo a mensagem, você nota que a perversidade do maluco Tim Burton camufla compreensão, identificação: sempre haverá gente ainda mais esquisita e mais marginalizada do que você, relax. Esopo, La Fontaine e Irmãos Grimm ficariam chocados....
Minhas historinhas preferidas são o Menino Queijo-Briê e o Roy, o Menino-Tóxico:
Brie Boy
Brie Boy had a dream he only had twice,
that his full, round head was only a slice.
The other children never let Brie Boy play....
....but at least he went well with a nice Chardonnay.
Roy, the Toxic Boy
To those us who knew him
- his friends -
we called him Roy.
To others he was known
as that horrible Toxic Boy.
He loved ammonia and asbestos,
and lots of cigarrette smoke.
What he breathed in for air
would make most people choke!
His very favorite toy
was a can of aerosol spray;
he´d sit quietly and shake it, and spray it all day.
He´d stand inside of the garage
in the early-morning frost,
waiting for the car to start
and fill him with exhaust
The one and only time
I ever saw Toxic Boy cry
was when some sodium chloride
got into his eye.
One day for fresh air
they put him in the garden.
His face went deathly pale
and his body began to harden.
The final gasp of his short life
was sickly with despair.
Whoever thought that you could die
from breathing outdoor air?
As Roy´s soul left his body
we all said a silent prayer.
It drifted up to heaven
and left a hole in the ozone layer.

Thursday, October 26, 2006

Chagais



“So you´ll aim toward the sky
And you´ll rise high today
Fly away
Far away
Far from pain”
(Grandaddy)

Qual é o nome?
Acho que ninguém batizou.
Talvez porque sejamos poucos. Será?
Estou falando de nós, admiradores convictos de bandas como Grandaddy, Mercury Rev, Flaming Lips, Secret Machines, Sparklehorse. Ou seja, fãs de gente que, no século XXI, tratou guitarras, baixos, teclados e baterias com tamanha delicadeza e cuidado....que o rock se fundiu às cantigas. De camponeses modernos e caipiras que, sem disfarçar a pronúncia rural, cantam e contam histórias místicas de gigantes apaixonados por sereias, peixes e sapos caídos como chuva do céu, riachos de prata que encerram segredos, princesas enfeitiçadas transformadas em unicórnios, espectros que pairam sobre telhados, aranhas que fiam teias de pérolas. Enfim, de melodias e letras que já compõem um cancioneiro....sem denominação.
Injusto. Só porque já passamos, em nossa maioria, dos trinta anos? Ou porque tais bandas não são blockbusters de mídia como, por exemplo, os representantes da atual geração dos moleques com rímel escorrido pelo choro? Quem é adolescente, está na casa dos 20 ou lota o I-Pod com as lamúrias de grupos como Chemical Romance e congêneres...é emo. E nós? Somos o quê? Se não tem nome, tomo a liberdade de inventar um. Mas deve ser um termo que sirva para identificar todas as bandas "oníricas". Que traga à lembrança algo que seja comum tanto aos veteranos do Sparklehorse como aos caçulas do Secret Machines. Algo....ou alguém. Então, duas pessoas. Dois pintores: Marc Chagall e Odilon Redon. Pois o russo e o francês, já falecidos, se anteciparam ao rock "poeira de estrelas"; rabiscaram, pincelaram e coloriram todas as canções mágicas, sensacionais e sensoriais que seriam criadas a partir do final do século passado por Mercury Rev e companhia. Até então, o rock andava de mãos dadas com a pintura do desespero. "Creeps" rastejantes e vampiros torturados haviam saltado das telas sombrias de William Blake, Goya, Hieronymus Bosch e invadido os pesadelos de Thom Yorke, vocalista do Radiohead, e do príncipe das trevas Trent Reznor, o amargurado Nine Inch Nails. Em contrapartida, as pinturas de Chagall e Redon ganharam identificação com a música de gente que entendeu que a melancolia podia ser leve, etérea e repleta de cores. Chagall saiu na frente do vocalista e compositor Wayne Coyne e ilustrou a história dos apaixonados que flutuam no espaço de “Do you realize?”. Redon acertou no branco faiscante ao pintar os próprios Sparklehorses (quadro aí de cima) e as aranhas artesãs que frequentam as canções iluminadas do Mercury Rev. Chagall, fazendeiro da pequena cidade de Vitebsk, destacou a importância de bichinhos domésticos no cotidiano das vidas que reproduziu em seus quadros. Os mesmos animais que hoje fazem companhia aos personagens entediados que sonham fugir dos cenários desoladores cantados pelo Grandaddy. E as esperanças, memórias e incertezas que borram os sonhos evocados pelo Secret Machines também aparecem borradas pelo giz de cera das telas embaçadas e líricas de Odilon Redon.
Entre Chagall e Redon, prefiro Chagall. Aliás, é meu pintor preferido.
Então serei parcial. No meio de punks, góticos, metaleiros, indies e emos....nós, apaixonados pelos delírios do Flaming Lips, pela mitologia de Mark Linkous, pela poesia folk do Grandaddy, pela guitarra chuviscada do Secret Machines e pelas fábulas cantadas por Jonathan Donahue, somos "chagais".
Pode ser?

Tuesday, October 24, 2006

Rodin & Say Hi To Your Mom

"Young Girl Kissed By a Phantom", de Rodin.


"I think I'll be a good ghost when it's time for me to haunt all the people I knew when I was alive. I'll wear designer sheets as my only ghost clothes and get good scissors to cut the eye holes.
And hey, it'll be nice to be see-through for a while. And hey, it'll be cool to be feather light for a while.
I think I'll be a good ghost when it's time for me to haunt all the people I knew when I was alive. But I wonder if the girl ghosts will know that I'm there. Or if ghosts don't really care ("I Think I´ll be a Good Ghost, Say Hi To Your Mom).

Sunday, October 22, 2006

2046

Essa é para vários:
Você está na metade da sua vida.
Faltam mais quarenta anos.
De qual metade você vai ter se arrependido, em 2046?
Da primeira ou da segunda?
Hein?

Wednesday, October 18, 2006

Marc Chagall e Sparklehorse

"I could look in your face/ For a thousand years/ It’s like a civil war/ Of pain and of cheer/ But if you was a horse/ I could help you with your chains/ I could ride you through the fields/ By your fiery mane/ May your shade be sweet/ And float upon the lakes/ Where the sun will be/ Made of honey/ I grab diamonds, write you a poem/ 'Cause no one here can save you/ She’s returning to the Earth/ But one day she’ll be silver/ Stars are dying in my chest/ Till I see you again/ She was born with the wings of a hawk/ Where she combs her hair with blood/ May your shade be sweet/ And float upon the lakes/ Where the sun will be/ Made of honey/ May your shade be sweet/ And float upon the lakes/ Where the sun will be/ Made of honey/ May your shade be sweet/ May your shade be sweet/ And float upon the lakes...May your shade be sweet." ("Shade and Honey", Sparklehorse)

Monday, October 16, 2006

Quando a Arte vira Rock, Parte XXXVI




Francis Bacon, Self Portrait, e o cantor Johnny Cash.

Saturday, October 14, 2006

Your Point Of View



Sou formada em Direito. Mas esbarrei em Propaganda e Marketing. Fui aprovada no vestibular da ESPM. Não cursei. Preferi ficar com as leis. Porque a faculdade de Direito era grátis (um bom motivo), ocupava um prédio de arquitetura charmosa (um bom motivo) e apresentava um cronograma anual de festas, cervejadas e viagens que seduzia qualquer calouro (excelente motivo. Pelo menos pra quem acabou de ser alforriado da FUVEST - e quer mais é curtir a vida...). E outra: eu nunca olhei Publicidade com olhos muito amistosos. Sinto vergonha da maioria dos anúncios e comerciais brasileiros. Odeio a idéia que costuma ser vendida: a de que a melhor forma de mostrar um produto ou serviço é humilhando a concorrência. E convencendo o consumidor de que ele será mais feliz, mais invejado, mais importante do que o vizinho, se apenas honrar a quitação de dez suaves prestações que garantirão o carro da vez. Eca!
Dias atrás, estava eu, atrapalhada, no aeroporto de Heathrow, Londres. Com vontade de virar um polvo, pra conseguir segurar (e empurrar) malinha, malona, bolsa e casaco pelos corredores longos que levavam até o terminal 2. Por isso, fiquei bem contente quando apareceu uma esteira rolante para dar um descanso aos meus pés e me permitir brincar de "Jetsons", hehe. Foi quando eu vi. Na parede que acompanhava o percurso da esteira. Os cartazes da campanha publicitária do Banco HSBC. Linda. Simples e criativa. E, principalmente, sem um pingo da presunção brasileira. Tentei fotografar, mas foi um desastre. Não deu tempo para abrir a bolsa, sacar a máquina, fazer o foco....e ainda tomar conta da malinha onde eu carregava o tesouro (todos os CDs comprados e parte dos livros...). Só consegui essa foto aí de cima, parte de um conjunto de cartazes (eram uns quatro, sobre assuntos diversos: música, ciência, tatuagens...). Mas eu queria mesmo era registrar os cartazes dos astronautas (que eu achei no Google e botei aí em cima, ó). É uma seqüência: a palavra "art" sobre foto de um astronauta; a palavra "science" sobre o desenho infantil de um astronauta; a palavra "science" sobre a foto do astronauta e "art" sobre o mesmo desenho. No último cartaz, uma mensagem, lembrando que um mesmo tema pode ser tratado sob diferentes pontos de vista e que essa percepção, por revelar uma mente aberta, é enriquecedora, é aquilo que o banco procura e pretende incentivar. Depois dos astronautas, outros cartazes: uma menina tatuada tocando guitarra. Sobre ela, "insuportável". Ao lado, uma indiana tocando uma espécie de viola. Sobre ela, "agradável". Depois, novamente as palavras se invertiam sobre cada cartaz. E a mesma mensagem sobre os pontos de vista.
Fiquei meio besta porque esses anúncios.....definiram Londres pra mim! Porque eu percebi, em alguns dias, que em Londres não há "cultura erudita, intelectual" (do rico) e "cultura popular" (do pobre). Existe cultura. Sem hierarquias. Na música, artistas pop dividem as prateleiras das lojas de CDs com a galera indie e roqueiros das antigas (Justin Timberlake está grudadinho em Tilly And The Wall, na letra "T". Você já viu Kelly Key na mesma bancada da Maria Rita? Eu nunca. Porque a garota do "baba baby" não merece a pecha de MPB. E quem é verdadeiramente popular?). As rádios não têm vergonha de emendar "Chasing Cars", do Snow Patrol, a uma canção da Kelly Clarkson (aqui em SP, lembro que Kid Vinil quase foi metralhado ao incluir uma música da Britney Spears em um especial de fim de ano da rádio Brasil 2000). Na rua, um teatro de arquitetura mega moderna ocupa o andar superior de um prédio. Embaixo, as paredes foram grafitadas e o espaço é aberto para os skatistas. Sem preconceitos. Nos museus, meninos e meninas de sete, oito anos de idade esparramam lápis de cor pelo chão e tentam copiar quadros de Picasso. Nos ouvidos da criançada....IPod! E, por fim, a idéia do HSBC eu conferi na prática: Arte e Ciência andam mesmo de mãos dadas. O Science Museum bomba todo dia. A exposição, além de instrutiva, é um deleite para os olhos. A BBC e a "Prospect Magazine" se uniram para criar o "National Short Story Prize". Uma tentativa de revigorar na Inglaterra o gênero literário dos contos, que foi celebrizado por escritores como Roald Dahl mas que, atualmente, anda meio esquecido e negligenciado pela nova geração de autores. A parceria - que foi bem sucedida e gerou um livro onde foram publicadas as histórias vencedoras - teve o apoio financeiro do NESTA (the National Endowment for Science, Technology and Arts).
Ciência é Arte. E vice-versa. Grande sacada, portanto, da campanha do HSBC. Por um instante, vi que a Publicidade pode gerar coisas bacanas. O banco até criou um site, no rastro da campanha: http://www.yourpointofview.com/. O objetivo é colher a opinião das pessoas do mundo todo sobre diversos assuntos. Pode se cadastrar. Se tudo isso não bastar pra você se interessar em dar uma espiada, uma informaçãozinha: alguns comerciais da campanha do HSBC, transmitidos pela TV no exterior, têm música composta e tocada por....Thurston Moore, do Sonic Youth! Sim, aquela guitarra inconfundível que nos faz sorrir. Coisa finíssima.

Friday, October 13, 2006

Genética, Chocolate e o Orkut dos Cientistas

"100 Things To Do Before You Die" é uma preciosidade. Livrinho lindo que eu comprei na livraria do Science Museum de Londres. Porque, além dos salões onde estão expostos motores de trens, peças de carros antigos e estruturas de foguetes, além do pavilhão futurista que explica o significado do DNA (na foto ao lado), o museu ainda vende pencas de livros sobre Ciência. Livros técnicos e de "popular Science" (crítica: cadê os livros do Alan Lightman? Imperdoável. Não tinha). "100 TTDBYD" é uma coletânea de 100 textinhos reunidos pela revista "New Scientist". Diversos cientistas assinam esses cem pequenos conselhos relacionados a viagens, tarefas e experiências pelas quais você tem que passar antes de bater as botas. Todos do ponto de vista científico.

A leitura é uma delícia. Algumas atividades bacanas e divertidas que merecem ser cumpridas nessa vida: inalar hélio e cantar "Nessun Dorma" (a baixa densidade desse gás faz com que as ondas sonoras viajem mais rápido do que viajariam no ar. Então, sua voz sai fininha e ridícula como a do Mickey Mouse); fazer o parto de uma vaca, faturar uma grana legal resolvendo problemas de Matemática (quer tentar? Vai lá: www.mathpuzzle.com) e até.....se apaixonar por alguém (essa eu já cumpri)!

Algumas dicas são lições de casa. Então, você pode tentar medir a velocidade da luz com....chocolate!!! Um microondas, uma barra de chocolate e uma calculadora. É tudo que você precisa para comprovar, na sua cozinha, que a luz percorre 299.792.458 metros em um segundo. Mas a experiência faz uma sujeira danada. O livrinho também ensina a fazer sorvete de nitrogênio líquido (!) e....a extrair seu próprio DNA! Isso dá para fazer mesmo. Já diminuí para 97 o número das minhas tarefas. Receita: dê uma boa bochechada de uma mistura de água com sal. Cuspa em um copinho que já contenha uma mistura de detergente (uma colher de chá)diluído em água (três colheres de chá). Misture bem, pois o detergente tem que quebrar as células para o DNA ser liberado. Pegue uma bebida de forte teor alcoólico, gelada (eles sugerem gim. Eu fiz com álcool de limpeza mesmo, pois na geladeira só tinha a cerveja sem álcool que meu pai adora....) e cuidadosamente despeje o equivalente a duas colheres de chá pela borda do copo. Pronto. Logo você verá o surgimento floquinhos brancos. Parabéns. Essa gosma é seu DNA. É o que faz com que você seja único.

Tarefa cumprida número três: transformei meu computador em um "pára-raio de ET"! É um projeto sério, científico, desenvolvido em Berkeley/EUA. Chama-se SETI, "Search for Extraterrestrial Intelligence". Para conectar seu computador, você deve entrar no site do SETI (http://setiathome.ssl.berkeley.edu/) e baixar o programa BOINC. E pronto! Sua lata-velha vira candidata a eventualmente receber sinais alienígenas captados por um telescópio em Porto Rico! Se rolar, você ficará famoso. Se não rolar...pelo menos dá para se divertir brincando no SETI. Sim, porque o seu cadastro envolve a elaboração do seu perfil. Você abre uma página na qual poderá colocar foto, descrever quem você é, mencionar seus hobbies e.....receber mensagens de outros usuários. Geralmente cientistas, que até respondem às suas dúvidas. Existem também comunidades ("teams") e você pode ingressar na qual quiser. Enfim....o SETI é o Orkut dos cientistas (muitos dos quais se apresentam como astrônomos e membros de bandas de rock. Ou biólogos e alpinistas)! Cool demais!

Ahhh! O livrinho não termina exatamente na centésima atividade em vida. São enumeradas ainda cinco tarefas....para depois que você passar dessa para uma melhor. A última - e mais poética - é....tornar-se um diamante. Vale a pena ler:

"Become a diamond. If you don´t fancy being compost, think shooting stars are just a flash in the pan, but would still like to become a lasting memorial, this is for you. LifeGem of Chicago, Illinois, will take a small portion of your cremated remains, extract the carbon, and turn it into a diamond using the high pressure and high temperature of an industrial diamond press. It takes 18 weeks to make a diamond of anything from 0.25 to 1.0 carat, but what´s that compared with all eternity?"

Moby estava certo. We´re all made of stars.

Quando a Arte vira Rock, Parte XXXV



"Portrait of Harry Earl Aged 15", de Nathaniel Hone, e Ian McCulloch, vocalista do Echo & The Bunnymen.

Thursday, October 12, 2006

Golden Touch


Londres. À noite, com lua cheia, na frente do Palácio de Buckingham. By me.

Quando a Arte vira Rock, Parte XXXIV




"John Wilson Crocker", de Francis Chantrey, e Frank Black, vocalista e guitarrista dos Pixies.

Quando a Arte vira Rock, Parte XXXIII



"Leopold Zborowski", de Amadeo Modigliani, e Thom Yorke, vocalista do Radiohead.

Sunday, October 01, 2006

Férias

Segunda-feira vou para Londres. Estou de volta no dia 12.
Beijos
Ana