Tuesday, December 23, 2008

Em 2009, Eu Quero Ser a Ana Maria Braga

No próximo dia 2 faço trinta e quatro anos (parabéns e presentes não serão rejeitados!). Feliz, porque já descobri o que espero da vida. Aos seis anos, queria ser mãe solteira. Aos nove, chacrete. Aos vinte e cinco, PJ Harvey. Trinta e três, Mrs. Lanegan. Pois agora é definitivo. Eu quero ser a Ana Maria Braga.
E que fique claro: não é pela grana ou fama. Nem por causa da habilidade no manuseio de frigideiras, fornos elétricos, processadores de legumes (Culinária, no meu caso, é algo tão impraticável quanto Ginástica Olímpica). E ter um papagaio de látex empoleirado na janela da promotoria não é exatamente meu ideal de decoração cool.
Eu quero ser a Ana Maria Braga porque, por duas vezes (eu disse duas vezes), ela me surpreendeu com sua capacidade de..hã..."encaminhar vidas"! Não há uma palavra certeira para nomear esse dom. Vou explicar fazendo um resumo dos casos concretos:
Primeira vez: eu era promotora em São Sebastião. Faz cinco ou seis anos. Durante um verão, um rapaz foi preso em flagrante por tráfico. Ele tinha nos bolsos uma certa quantidade de droga (maconha, acho). E dólares. O cara era bem ripongo: pulseirinha de couro no tornozelo, acampado em barraca na praia de Maresias, dreads na cabeça, a cara do Zack de La Rocha, o vocal do Rage Against the Machine. Interrogado pelo juiz, o moço apresentou seu álibi. Ana Maria Braga. "A droga era minha, eu ia usar. Tatuei uma flor de henna no seio da Ana Maria Braga. Ela me pagou com os dólares. Não era dinheiro de tráfico". Eu olhei para o juiz, o juiz olhou para mim. Era uma história muito louca...para ser mentira. O que fazer? Investigar. Primeira providência: assistir ao "Mais Você" no dia seguinte e focar a vista nos peitos da apresentadora, tentando enxergar a rosa (era uma rosa, segundo o réu). Falhou. O decote era recatado. Segunda diligência: arrolar Ana Maria Braga como testemunha no processo. E isso rolou. Ela foi intimada para ir depor no Fórum Criminal aqui em São Paulo. Compareceu, desatou a falar e...confirmou a história do hippie! Tudo verdade. As palavras salvadoras de Ana Maria Braga tiveram o poder de livrar o rapaz do xadrez. A pena aplicada foi só pelo porte de entorpecente para consumo pessoal, para ser cumprida em liberdade.

Segunda vez: essa é recente, as pessoas estão sabendo. Ana Maria Braga tomou as dores de Suzana Vieira, aquela atriz veterana que se casou com um policial. Que não foi um marido modelo. Que, drogado, espancou uma moça e destroçou um quarto de motel. Que perdoado pela esposa traída, abusou da sorte e foi descoberto com a amante. Separação do casal, pedido de gorda pensão (por parte dele). E a indignação da solidária Prag.., digo, Braga, que em rede nacional aconselhou o infiel a...desaparecer da face da Terra. Tarefa que, uns poucos dias depois, ele cumpriu à risca - e com distinção.
Já faço aqui a defesa da Ana: em momento algum ela mencionou que o sujeito merecia sofrer o...como dizer?...Mal Maior! Se ele resolveu seguir a recomendação de forma cem por cento literal - e não figurada - a culpa não é da mãe do Louro José, em absoluto. Cada um sabe de si e é livre para fazer o que tem vontade, ué.
Bom, mas o fato é que, após esses dois ilustrativos episódios, Ana Maria Braga provou seu poder. Maior do que o do gênio do Akinator. E foi ontem, folheando ao acaso um livro jurídico, que o desejo de ser não mais Ana Luisa, mas Ana Maria, bateu forte. Ganhei o livro de presente. Portanto, à minha revelia. É um conjunto de textos, de diversos autores, sobre adolescentes que cometem infrações. Um deles criticava a postura dispensada por juristas à forma como são tratados os menores que delinqüem. Forma que seria muito rígida. Sério, não dá para deixar de transcrever um pedaço. Vou me dar ao trabalho de copiar, mantendo os grifos:
"Existem trabalhos sérios, mas poucos. Na sua maioria são empiristas totalitários embrulhados em papel de presente garantista que, quando se deixam abrir, avivam suas posturas (...). Lugar sempre empulhador, que serve para aplacar a falta dos neuróticos de todos os dias (...). O que há é o acolhimento irrefletido das every day theories indicadas por Baratta ou de americanismos em moda, dentre eles o da Teoria das Janelas Quebradas (...). Mas, de qualquer forma, vive-se em uma democracia, e se estes discursos satisfazem os atores jurídicos, não se pode os obrigar a sair da geléia geral em que se encontram".
Entendeu? Nem eu. Quem escreveu? Não, não foi o Tom Zé. Foi um juiz mesmo (não o conheço). O "artigo" tem umas vinte e cinco páginas. Li e reli uns trechos, pouco consegui compreender. Ou melhor, pouco quis acreditar: o subscritor dessa maravilha diz que a responsabilidade pela delinqüência juvenil é do pai. Devido ao Complexo de Édipo. E do irmão. Não do irmão do moleque traficante ou assaltante. Do Irmão. Ah, só mais um pouquinho, vai: "por detrás de toda a democracia de fachada, esconde-se, na maioria das vezes, uma postura que pode ser designada de Complexo de Big Brother, ou seja, o adolescente precisa sofrer até aceitar a amar o Grande Irmão que lhe oprime. (...). Qualquer similariedade com a postura dos pais e dos atores da Justiça da Infância e Juventude não é mera coincidência. O ato de desrespeito ao Pai da Horda (Freud), representado pelo Grande Irmão não é tolerado. Mas longe de matar o sujeito, o processo de depuração moral o submete a um aniquilamento da autonomia".
Ou seja, a culpa é da lei, da Justiça. Da família e da sociedade que impõem regras e oprimem a natureza livre da meninada, que prefere vender bagulho a fazer lição de Matemática. Sintetizando: para o Tom Zé de toga, a culpa é sua.
O que eu digo? Nada. A melhor resposta encontrei em outro livro, que cita essa frase, de autoria do Volney Corrêa Leite de Moraes Júnior (que também não conheço): "Se o ladrão violento, o estuprador, o traficante de drogas (etc.) são realmente, como pretendem alguns penalistas modernos, apenas vítimas da Sociedade, isso quer dizer que a Sociedade é moralmente muito pior do que eles, porque só alguma coisa mais vil, mais torpe e mais ignóbil que o autor de crime hediondo pode constranger alguém congenialmente puro a se tornar bandido". Nome do livro do Volney? "Crime e Castigo: Reflexões Politicamente Incorretas". Desde já e para sempre, o mais sensacional título para um livro de Direito Penal.
Bom, mas voltemos...para Ana Maria Braga e, como eu já falei, ao seu dom para "encaminhar vidas", "definir destinos" (lindo, não?).
She´s got the Power. She rocks!

Caetano, parnasianos culturais, parnasianos justo-sociais, Daniel Dantas, Gilmar Mendes...

A lista seria um pouco longa. Mas valeria a pena.
Vou pedir para o Papai Noel. Torçam por mim, por favor.
Porque se eu me transformar em Ana Maria Braga, 2009 será um Ano Realmente Novo.
(Beijos, beijos e beijos para todos que passaram por aqui durante esse ano. Boas Festas. Cuidem-se!)

13 comments:

Cris Ambrosio said...

é meio chocante entrar no seu blog e dar de cara com essa mulher e o papagaio dela, haha. Mas de qualquer maneira fico feliz que você tenha descoberto o que quer ser - mesmo achando Mrs. Lanegan mais legal. Também quero que o ano seja novo.

(E meu, quem esses juízes pensam que são?)

Bjs, boas festas!!!

Galaxy Of Emptiness said...

Ah, Mrs. Lanegan é muito mais legal! Mas não sei se ele seria bom marido, viu. A ex-mulher se separou porque, um dia após o casamento, ele se mandou em turnê com o Queens of The Stone Age, hehe.

Mas, entre tudo aquilo que já quis ser, "mãe solteira" é a única coisa factível! Pra você ver que, aos seis anos, eu era muito mais razoável e pé-no-chão, hehe...
(ah, "mãe solteira" porque eu queria um bebê - embora ainda fosse um. Mas achava que homem junto só atrapalhava. Ah, a sabedoria dos seis anos de idade...infelizmente perdi, rs!)

Feliz Natal, Cris!!! Bjs!

Annix said...

chacrete o_O

acho a idéia de Mrs. Lanegan melhor, he :)

(mas tudo bem, de repente a gente te dá um fantoche de papagaio de presente, boa idéia!)

Annix said...

Ah! Ficou legal a versão black do blog!
E FEEEEEEEEEDS!!!!! eeeeeeeee

Cris Ambrosio said...

Adorei!!! E são os vitrais do Chagall no nome, não? Lindo!

Galaxy Of Emptiness said...

Aeee! Sabe tudo essa menina! É Chagall mesmo. Aliás, tá tendo exposição no Centro Judaico, lá na Oscar Freire (bem do lado do Metrô Sumaré, coisa que só descobri depois que parei o carro nos Jardins e andei a rua inteira a pé, he). Fui lá hoje. Embora tenham anunciado como sendo a exposição dos vitrais...po...são os rascunhos e...dois vitrais, ou melhor, apenas dois quadradinhos de dois vitrais, ou seja, duas pecinhas fora do todo!! Pobreza total!
Bom, pelo menos queimei calorias. Posso comer pipoca doce sem culpa, agora.

Anonymous said...

Poxa, volte a querer ser Mrs Lanegan. Justo agora quando eu tava querendo virar Mr Lanegan...
Nada como começar o ano fazendo aniversário. Tenha um ano bom.
Bem, nunca te vi, sempre te amei.

Galaxy Of Emptiness said...

Ah, que bonito! Obrigada!! Feliz Ano Novo pra vc. também!

Anonymous said...

Parabéns, Ana, por seu anivesário e por quem você é: a promotora mais "cool" do planeta, que escreve como poucos, poderia ser uma grande jornalista cultural, mas acabou fazendo da promotoria de Atibaia o seu lugar de trabalho (por sinal, as fotos mostram que o visual de sua sala melhorou muito desde a época de minha visita...) Feliz 2009 Bjs, Gilberto.

Galaxy Of Emptiness said...

Obrigada!!

Mandei um email pra vc.!!

(jornalismo não...não tenho jeito e vivo desatualizada, hehe!)

Anonymous said...

Uau, quantas mudanças por aqui!

Sabia que vc faz aniversário logo no começo do ano mas não lembrava o dia, Ana.

Meus parabéns!!! Muitas felicidades, você merece muito!
E que esse ano que chega seja repleto de realizações e felicidades (acho que isso ficou meio brega, mas sabe como é, ainda estou contaminado pelo clima de festas de fim-de-ano).

E nada mal seu pensamento aos 25 anos, mas ser a Ana Luisa parece ser a melhor idéia ahahhaha. Ao meu ver, é uma grande pessoa.

Por fim, que venham bons shows para assistirmos.


Grande beijo!

Galaxy Of Emptiness said...

Obrigada, Daniel!!!
Sim, tomara que esse ano seja bacana pra todo mundo, né!!!
Beijos!!

Iago Nascimento said...

Pô,Ana Maria Braga...Me decepciou!

hahaha