Thursday, March 29, 2007

Isolation & Atmosphere



"Words fail me all the time/ I don’t even feel like talking/ still I go on and on/ I’m dying here and you keep walking/ why are you asking me this?/ can’t you see I’m trying?/ I don’t like it like this/ no I think I’m dying/ I can’t calm down at all panic is what panic feels like/ can’t we just stay silent?/ speaking now seems far too violent/ why are you asking me this?/ can’t you see I’m trying?/ I don’t like it like this no I think I’m dying" ("I don´t like it like this", Radio Dept.).
Edward Hopper pintou o silêncio. Do início do século passado até o final da década de 60, o pintor novaiorquino coloriu telas com cenas de pura desolação. Mulheres que acordam sem companhia em quartos de hotéis, homens sozinhos em bares, casais que não se olham mais. Gente que não tem nada a dizer, gente que gostaria de dizer, gente que já se esqueceu de como dizer. E, principalmente, gente que nunca soube dizer. Os espaços intimistas e as personagens vazias de Hopper transmitem isolamento, tensão e incômodo. E essas sensações transformam o silêncio das situações e das figuras humanas no próprio movimento dos quadros. O cuidado com o tratamento das tonalidades, da luz e sombra acentuam o desconforto urbano, a distância, a alienação de uma América branca.
Wong Kar-wai pintou a música. Há quase vinte anos, o diretor chinês colore telas de cinema com cenas de pura desolação. Mulheres que acordam sem companhia em quartos de hotéis, homens sozinhos em bares, casais que não se olham mais. Gente que não tem nada a dizer, gente que gostaria de dizer, gente que já se esqueceu de como dizer. E, principalmente, gente que nunca soube dizer. Os espaços intimistas e as personagens vazias de Kar-wai transmitem isolamento, tensão e incômodo. Wong Kar-wai contou que, em suas histórias, usa a música como uma cor. E que a música tem o papel de transformar o silêncio das situações e das figuras humanas no próprio movimento do filme. O cuidado com o tratamento das tonalidades, da luz e sombra acentuam o desconforto urbano, a distância, a alienação em Hong Kong.
Nova Yorque, Hong Kong ou São Paulo. A vida se repete dentro das telas. E fora delas também.

3 comments:

Anonymous said...

Nossa, fiquei um tempo sem passar por aqui, quanta coisa nova!

Senti falta de um post seu sobre o Wong Kar-Wai.
Após dois filmes, fiquei com essa mesma impressão. É notável como os personagens sentem-se desconfortáveis e inadaptados à vida. Esse é o ponto que mais me chamou a atenção, a falta de raízes desses personagens, o desconforto para as coisas mais simples da vida.

Transformar pessoas e vidas tão desinteressantes em algo tão belo e notável é para poucos, e ele consegue.

Fábio Yamaji said...

É engraçado como clicando numa fotinho a gente vai navegando e chega em alguém que escreve coisas que te surpreende. Confesso que partiu de um estímulo estético, mas resultou em algo muito mais significativo pra mim.

Foi pelo Orkut, na comunidade "Melancholy Death of Oyster Boy" (meu livro preferido), que vi sua fotinho (o tal estímulo estético). Cliquei. Na sua página logo bati o olho no nome "Wong Kar-Wai" e numa referência de livro, "...e os japoneses". Estou viciado num autor japonês, que tem um estilo "wongkarwaiano", e como "Amor à Flor da Pele" é meu filme favorito, cliquei no link do seu blog.

Adorei seu relato sobre a princesinha coreana. Adorei. Que bom que você tirou a foto dela.
Mas foi a ligação que você fez de Kar-Wai com Hopper que me emocionou. Vou ficar parecendo um bobo dizendo mais uma vez de um favorito, mas Edward Hopper é o pintor que mais aprecio. A única reprodução de quadro que tenho é "New York Movie", que achei no Pompidou depois de tanto procurar.
Enfim, você conectou dois artistas que passeiam pela minha cabeça o tempo todo - e me espanta agora nunca ter feito essa ligação. Sempre pensei em Hopper nas fotos de Hannah Starkey (uma jovem fotógrafa irlandesa, outra número 1) e com os personagens de Haruki Murakami, o autor japonês pelo qual estou viciado e de quem agora leio o sétimo livro.
O seu textinho sobre Yoon Ji poderia muito bem ter saído de uma página escrita por Murakami.

Bom, obrigado por alinhar tanta coisa boa. Estética com substância. Começando pela sua fotinho.

Voltarei ao seu blog sempre, OK?
Prazer em conhecê-la,

Fábio

Galaxy Of Emptiness said...

Nossa! Muito obrigada, Fabio! Fico muito contente!
Bjs.