Wednesday, January 03, 2007

William Harvey, House e Massive Attack



"Love, love is a verb/Love is a doing word/Feathers on my breath/Gentle impulsion/Shakes me makes me lighter/Feathers on my breath/Teardrop on the fire/Feathers on my breath/In the night of matter/Black flowers blossom/Feathers on my breath/Black flowers blossom/Feathers on my breath/Teardrop on the fire/Feathers on my breath/Water is my eye/Most faithful my love/Feathers on my breath/Teardrop on the fire of a confession/Feathers on my breath/Most faithful my love/Feathers on my breath/Teardrop on the fire/Feathers on my breath/Stumbling a little" ("Teardrop", Massive Attack).
Rabugentos, sarcásticos, machistas, pouco estimados pelos colegas. Geniais. Dois médicos. Um real, outro fictício. Um, no século XXVII, revolucionou a Anatomia. O outro, no século XXI, é sucesso na televisão.
William Harvey nasceu em 1578, na Inglaterra. Casado com a filha do médico que atendia a realeza, destacou-se pelos próprios méritos. Além de clinicar, Harvey dedicou-se com afinco à pesquisa científica. Seu objetivo era desvendar o enigma da passagem do sangue por todas as partes do corpo humano. Naquela época, a Europa ainda acreditava que o fígado(!) era o órgão responsável pelo bombeamento de sangue. O erro era resultado da inexperiência: por razões religiosas e humanitárias, estudiosos da Anatomia não ousavam expor o peito de animais vivos e em sofrimento para ver seus corações ainda batendo. Tentativas em humanos, óbvio, nem pensar. Mas William Harvey não tinha pudores. Impiedoso, imune a gemidos e guinchos, abriu cachorros, tartarugas, cobras, caracóis, gansos. Foram mais de cem espécies de animais. Tamanha frieza contribuiu para aumentar sua fama de pessoa não muito agradável. Obcecado pelo trabalho, Harvey, que não teve filhos, pecou pela falta de atenção à esposa. Anos depois, embora viúvo, lamentou-se com um colega de que o momento mais triste de sua vida havia sido o da perda de seu manuscrito sobre insetos. No meio científico, o médico era respeitado, mas não querido.
Mas nem sempre simpatia faz História. Desprezado ou não, o fato é que Harvey revolucionou a Medicina. Sua obra "De motu cordis", de 1628, é para a Anatomia tão fundamental quanto a Bíblia para o Catolicismo ou Shakespeare para a Literatura. Foi nela que o cientista descreveu o correto sistema de circulação do sangue: ejetado pelo coração para a aorta e as artérias, retornando através das veias para o coração, completando assim o ciclo.
Gregory House não existe. É o médico interpretado por Hugh Laurie no ótimo seriado "House", que passa na TV. O charme da série reside na excelente produção (meu pai, médico fanático pelo seriado, diz que os personagens médicos não falam besteiras) e na personalidade do "mocinho": House é rude, ácido, anti-social. Debocha dos pacientes, não poupa nem a equipe de médicos que o auxilia. Em cada episódio, a "vilã" é uma doença rara ou causadora de sintomas contraditórios, de origem obscura. A tarefa de House é também a de desvendar os enigmas. Diagnósticos certeiros lhe garantem admiração e respeito. Como médico, não como pessoa.
A abertura do seriado é linda. Mostra um desenho do corpo humano...enquanto tocam os primeiros acordes de "Teardrop", música da dupla britânica Massive Attack cantada por Elizabeth Fraser, vocalista da banda "Cocteau Twins".
O videoclipe de "Teardrop" não é menos maravilhoso: imagens borradas e etéreas vão ganhando definição até mostrar um feto no útero materno (http://www.youtube.com/watch?v=NjUwMvMPKvA). Tudo a ver com a melodia: o ritmo docemente marcado da canção sugere as batidas de um coraçãozinho. Coraçãozinho que impulsiona o sangue da forma descoberta por William Harvey. Que, incansável apaixonado pela Medicina, também lançou um novo e acertado conceito: o de que a vida - a mesma embalada por "Teardrop" - começava a partir de um óvulo. E o ciclo se fecha.

2 comments:

sam drade said...

oteeeeeeeeeeeeeeeemo blog... te linkei!;D

Anonymous said...

Huuum, Teardrop me lembra Risingson que me lembra o Mezzanine. Que disco!

Três dias, como um louco, ouvindo Risingson, sem parar.

Não tão louco quanto William Harvey, mas é loucura.