Thursday, January 11, 2007

O Astronauta-Pintor do Rock



"Everyone will forget soon,/The fourth man on the moon,/But I've got it in my mind./I'd like to paint your eyes,/But I've got to paint the sky./Going to be a painter all my life./As we tumbled down to earth,/We felt the capsule turn,/We saw the blue skies burn." ("Alan Bean", Hefner)
Neil Armstrong teve o prazer e o privilégio de ter sido o primeiro. Entrou para a História e seu nome estará gravado eternamente na memória popular. Então....por que alguém haveria de prestar atenção no quarto homem a pisar na Lua?
Alan Bean nem ao menos foi astronauta tripulante da Apollo 11. Viajou para o espaço na missão seguinte, a bordo da Apollo 12, em novembro de 1969. Sua tarefa: pousar na área nomeada "Oceano das Tormentas" (a Apollo 11 desceu no "Mar da Tranqüilidade") e resgatar pedaços de uma sonda enviada para o satélite anos antes. A chegada na Lua já não era novidade. Não havia mais a angustiante pressão do governo e da mídia. Então, ao invés da postura solene dos astronautas pioneiros, Bean e seu companheiro Charles Conrad encararam a jornada como uma grande chance de aliar trabalho a diversão. Se Neil Armstrong fez questão de dizer ao mundo que sua pequena esticada de perna seria um grande passo para a Humanidade...Conrad, o terceiro moonwalker, disparou: “Este pode ter sido um pequeno passo para Neil, mas para mim que sou baixinho é enorme! Yuuupiiii!!!". Junto com Charles Conrad, Alan Bean passeou pela superfície lunar, riu, brincou, cumpriu seu dever e voltou para casa. Com a cabeça repleta de imagens e idéias.
Bean deixou a NASA no início da década de 80. Engenheiro aeronáutico, passou a se dedicar fervorosamente à Pintura. Alan Bean percebeu que a experiência acumulada por 18 anos como astronauta poderia ser transformada em Arte. Afinal, ele havia visitado lugares e contemplado paisagens que jamais nenhum outro artista, no passado ou no presente, havia vislumbrado. Então, pela primeira vez a Lua foi desenhada e colorida por quem esteve realmente lá. E se um dia Degas criou um inigualável azul-turquesa para pintar as saias das suas bailarinas, se Gustav Klimt carregou nas tonalidades de ouro e prata espalhadas em suas telas, Alan Bean - o quarto homem a encostar na Lua - foi o primeiro pintor a misturar poeira lunar às tintas pinceladas em seus quadros.
O trabalho de Bean é único. Graças a sua mão - e não ao seu pé, o quarto a se encontrar com a Lua - o ex-astronauta ganhou dinheiro, reconhecimento e respeito. E a admiração não veio apenas dos amantes do espaço. Alan Bean foi exaltado pela música, pelo Rock. Os ingleses do Hefner, banda de indie rock, compuseram "Alan Bean", canção que romantiza a passagem do astronauta pela Lua. O mais bacana é que, certo dia, presente o grupo em uma rádio holandesa onde a música foi executada ao vivo, o telefone tocou. Os meninos do Hefner ficaram emocionados quando o locutor anunciou Alan Bean na linha, direto dos EUA, querendo agradecer a homenagem. E não foi só. A doce cantora sueca Stina Nordenstam também se lembrou do astronauta-pintor em "The Return of Alan Bean", canção que está no seu primeiro disco. E a música eletrônica também pagou seu tributo a Bean: sua voz gravada, descrevendo o nascer do Sol visto do espaço, é o vocal de "Spacewalk", música da dupla de trip-hop Lemon Jelly ("Beautiful, beautiful. Zero gee and I feel fine").
Alan Bean, atronauta e pintor, soube retribuir o carinho dos músicos. Talvez não tenha sido por acaso - ou por mero trocadilho - que o quadro acima, de autoria de Bean, tenha sido batizado de "Rock and Roll on the Ocean of Storms". Cool.

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