Saturday, September 09, 2006

Camille Claudel, PJ Harvey e Céline Curiol






Oh love, you were a sickly child/And how the wind knocked you down/Put on your spurs, swagger around/In the desperate kingdom of love/Holy water cannot help you now/Your mysterious eyes cannot help you/Selling your reason will not bring you through/The desperate kingdom of love/There's another who looks from behind your eyes/I learn from you how to hide/From the desperate kingdom of love/At the end of this burning world/You'll stand proud, face upheld/And I'll follow you, into Heaven or Hell/And I'll become, as a girl/In the desperate kingdom of love ("The Desperate King Of Love", PJ Harvey).
Camille Claudel nasceu em 1864, nos arredores de Paris. Família burguesa, cresceu desprezada pela mãe, invejada pela irmã mas incentivada pelo pai, que desde cedo notou sua sensibilidade artística. Ainda adolescente, Camille já aproveitava a abundância de argila caseira e um forninho para moldar esculturas admiráveis. Foi autodidata até mudar-se para Paris, onde, aos dezenove anos, foi recomendada para ser discípula do consagrado Auguste Rodin. Rodin, quarenta e três anos, foi seu catalisador. Graças a ele, Camille ganhou técnica, afirmou seu estilo e engrandeceu sua obra. Graças a ele, Camille amou e o amor conduziu suas mãos na criação de imagens apaixonantes em barro e bronze. Graças a ela, Rodin foi tocado por um sentimento de admiração e paixão até então não experimentado em seu casamento. Graças a ela, Rodin passou a esculpir não mais somente com as mãos, mas principalmente com o coração. Amantes e juntos, influenciaram-se mutuamente, concebendo obras magistrais e por vezes complementares, verdadeiros reflexos dos sentimentos que compartilhavam. Mas os anos passaram. Camille, moça ousada para os padrões da época, lutava por reconhecimento. Em sua arte - campo dominado pelos homens - e em sua vida pessoal. Vivia à sombra de Rodin, que não a queria como companheira oficial. Desiludida e ferida, Camille se afastou do ex-mestre. A mágoa tomou a forma de ódio. A ausência detonou a paranóia. Camille foi internada pela família, altiva e envergonhada, em asilo para doentes mentais. Praticamente esquecida, entregou-se à prostração e apatia. Após trinta anos de clausura, em 1943 morreu como viveu e sonhou: só.
Céline Curiol. Francesa de Lyon, trinta anos de idade. Escritora e jornalista, lançou ano passado seu primeiro livro, "Voix Sans Issue" ("Voz Sem Saída", que acaba de ser publicado por aqui, para a felicidade geral da nação). Jovem, como Camille Claudel foi um dia, a francesa domina com mão firme a arte que escolheu. Como Camille Claudel. Escrita original e cheia de estilo para tecer um enredo demasiadamente comum: o comportamento, as percepções, os enganos e os efeitos psicológicos sofridos por uma garota que não consegue lidar com a rejeição. A história é narrada na terceira pessoa. O nome da protagonista nunca é revelado. Certamente, poderia ser Camille.
Polly Jean Harvey, inglesa. Também na faixa dos trinta anos. Também incentivada pelo pai, que desde cedo notou que a adolescente magrelinha e tímida guardava dentro de si imenso talento para a arte. No caso, música. Como Camille, autodidata. Mãos ágeis - mas para a guitarra - voz para conquistar os céticos e alcançar o merecido reconhecimento. E, acima de tudo, criatividade. Criatividade para verter humilhação, rejeição e decepção em letras e melodias impressionantes.
Cada música, uma história possivelmente autobiográfica. Ou a história de uma personagem, uma Catherine, Elise ou Angelene marcada pelo Desamor. Certamente, poderia também haver uma Camille. Ou uma Céline.
Escultura, Literatura, Rock. Artes diversas, três meninas geniais que não se encontraram. Mas que sem dúvida um dia desarmaram o coração e ofereceram sentimentos a alguém, sentimentos recusados, derramados e talvez evaporados pelo esquecimento. A Arte fica.

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