Sunday, November 05, 2006

Rivais



O distinto cavalheiro da fotografia é, pasmem, David Bowie.
Irreconhecível. David Bowie, cantor, também encara uns bicos como ator. E seu personagem mais recente é esse mostrado na foto, o inventor Nikola Tesla, que aparece no filme de Chris Nolan, "O Grande Truque". "O Grande Truque" tem seu charme (e David Bowie, perfeito, rouba a cena), embora eu não tenha gostado do final. História: a rivalidade entre dois jovens mágicos no final do século XIX. O filme está em cartaz. O curioso é que o próprio "O Grande Truque" tem um rival: logo rolará a estréia de "O Ilusionista", filme cujo enredo também conta as aventuras de um mágico há mais de cem anos.
Nikola Tesla não é uma ficção. Ele existiu mesmo. Foi um dos cientistas mais importantes da História. E talvez o mais azarado. Incrível que o nome dele seja tão pouco mencionado no meio leigo. Injustamente, o croata Tesla sempre é ofuscado por outro grande nome: Thomas Edison. Famoso cientista....e grande rival de Tesla.
Sei disso graças a um livraço: "Rivalidades Produtivas" ("Acid Tongues and Tranquil Dreamers"), do britânico Michael White. Michael White, jornalista científico, foi membro de uma banda pop, Thompson Twins (também nunca ouvi falar). Mas talvez seja por isso que o autor tenha uma redação tão descolada: explica com clareza conceitos de Ciência, seu texto é leve, irônico, não cansa nunca. No livro há oito capítulos. Cada um dedicado a contar a história emocionante de uma rivalidade científica. Porque, segundo Michael White, "segundos inventores não têm importância". Os grandes gênios têm consciência dessa sentença. Então o livro revela até que ponto crânios da Ciência e prêmios Nobel são propensos a fofocas, intrigas, conflitos de personalidade e...puxadas de tapete para eliminar a concorrência. Os casos são cronológicos: o primeiro, "Isaac Newton X Leibniz"; o oitavo e último, "Bill Gates X Larry Ellison". O quarto e emocionante capítulo, batizado de "A Batalha das Correntes", narra a rivalidade - e o ódio - entre Nikola Tesla e Thomas Edison.
Thomas Edison foi um calhorda. Tudo bem, ele inventou mesmo o fonógrafo (ou seja, Edison foi o primeiro a se ligar de que a música, até então só executada ao vivo, podia ser "armazenada" em disco. Ele é o pai do CD. Amém). Mas Thomas Edison também deu uma tremenda bola fora: seu projeto para o processo de criação da iluminação doméstica em larga escala - ambição também de Tesla - era inviável. Thomas Edison era defensor da "corrente contínua", forma de eletricidade que, para ser distribuída, exigiria que cada prédio, cada casa, tivesse um gerador próprio. O sistema rival - desenvolvido por Nikola Tesla - não sofria as mesmas restrições: a "corrente alternada" podia ser transportada por longas distâncias a partir da estação de energia, dispensando um gerador em cada imóvel. É o método usado hoje, no mundo inteiro.
Thomas Edison, mesquinho e invejoso, percebeu que Tesla estava correto. E engatou uma campanha na mídia para falsamente informar à população que o sistema de "corrente alternada" era perigoso. As idéias de Nikola Tesla foram acolhidas e salvas pelo empresário George Westinghouse. Homem de visão - e com dinheiro no bolso - Westinghouse financiou uma contra-campanha para esclarecer o povo e neutralizar a difamação de Thomas Edison. Foi bem sucedido....e convenceu o ingênuo Tesla a vender os direitos sobre as patentes de sua invenção. Nikola Tesla iluminou o planeta. Em troca, recebeu a ninharia de 216.000 dólares, que ele torrou em outras pesquisas científicas. Pagamento fechado, sem direitos a "royalties" posteriores. Nikola Tesla, no século XIX, foi mais genial do que Bill Gates. E infinitamente mais pobre. Foi esquecido pela comunidade científica e morreu aos 87 anos em um quarto de hotel, cercado por pombos.
Dia 25 de novembro, sábado, rola show do Bravery em São Paulo. E daí? Daí que o Bravery é a grande banda rival....do Killers. Pra quem não sabe - tipo....Cazetta, Bourgogne, Guilherme...né meninos! - Killers e Bravery faziam o mesmo tipo de som, rock e pose que buscam referências em bandas dos anos 80, como Duran Duran. Quando lançaram seus primeiros CDs, há cerca de dois anos, as bandas dividiram opiniões. A maioria virou fã do Killers, Bravery foi considerado inferior. Também achava. Achava. Até....assistir ao show do Bravery em Barcelona! Tudo de bom! Os meninos são talentosos porque, no palco, as músicas do disco ganham consistência, novos arranjos, outro andamento. Eles são espantosamente melhores ao vivo. Já o Killers....lançou um segundo CD farofa, este ano. O Bravery lançará CD novo em 2007. Então vamos conferir. Porque em termos de rivalidade, vale para o Rock o lema da Ciência: na memória histórica, não há espaço para segundos lugares.

5 comments:

marcio castro said...

falando da segunda parte. dos segundos.

quen sabe a partir do segundo disco o bravery decole. estou um pouco decepcionado com as segundos discos: kasabian, killers e interpol são exemplos disso.

em contraponto, é muito bom a trajetória de franz ferdinand e strokes. tem me surpreendido mesmo as vezes mantendo o estilo gerado inicialmente.

grande beijo.

O Sem Acentos said...

Porra,
Killers e Killers, apesar desse segundo disco ja devidamente estracalhado por mim.
Gostar mais do bravery e igual falar que o bebeto que era o bom na dupla com o romario.Apesar do baixinho ter feito mta merda na carreira (descontanto a colecao de mulheres, pois isso e um golaco), o cara era o cara.
Bom, chega de analogias futebolisticas pq vc nao entende mesmo.
inte!

marcio castro said...

não disse que o bravery é melhor que o killers, disse que torço para que o segundo disco surpreenda, coisa que o killers não fez.

e na verdade, meu amigo ou minha amiga, não sei se polemizar aqui o que é bom ou o que é mal tem sentido. a lebre que levantei foi outra.

e sobre outra coisa: não sou muito chegado ao futebol mesmo, mesmo assim me lembro bem de bebeto e romário, copa de 90, 94 e afins... mas tem cabimento esta colocação de que não entendo mesmo?

abraço!

Anonymous said...

Bem, me metendo na confusão Ana eu ainda não vi nenhuma das duas bandas ao vivo, tampouco ouvi o segundo disco do Killers, então ainda fico com eles!!
Eu já sou supeito pra falar dos textos, o que dizer de um que ainda tem David Bowie (mesmo que pouco)?! sinceramente naum sei...
bjos Ana

O Sem Acentos said...

po quina vida, eu nem tava falando contigo..ahahahaha
tava falando com a ana mesmo.