Saturday, March 05, 2011

Wedding Dress



Calma. Deixa explicar. Seguinte: isso é um bobblehead. O homem. Quer dizer, o Mark Lanegan. Que mais parece o Stephen Malkmus, não? Bom, é um boneco cabeçudo de resina, com os pés colados em uma plataforminha. Tá, é ridículo, eu sei, não precisa ficar me lembrando. Já basta minha mãe. Eu vi em um show, vendendo. Primeiro eu ri. Depois fiz pouco. "Ter isso seria o cúmulo da indignidade". Aí, enquanto o Lanegan cantava no palco, a sábia voz da consciência entoou seu mantra na minha cachola sem juízo. "Vocênãovaicomprarvocênãovaicomprarvocênãovaicomprar...". E eu não comprei.
Naquela noite.
Loja virtual, porque você existe, hein? Enfim. Ele chegou em casa, a diarista me zoou, guardei na gaveta dos vestidos que não amassam. Tive medo de colocar na estante de livros. Vai que quebra. E eu não consigo dormir com gente me olhando.
Eu sou maluca por bonecas. Bonecas tipo mocinhas, não bebês. As mais lindas da face da Terra são verdadeiras obras de arte: Marina Bychkova leva nove meses para montar uma joia assim. Quer uma? É só vender o carro e pagar. A russa mete a faca. Mas os chineses, graçasaDeus, não. Então não resisti e adotei essa noivinha meiga aí de cima. Tirei Lanegan doll do castigo, catei a capa do I Feel Alright, vinil do Mike Johnson, e fiz uma montagem indie-pobre inspirada nos casais de bonecos da Bychkova.
Foto com tema. Wedding Dress. É a terceira faixa de Bubblegum, último disco solo do Lanegan. Esse álbum foi gravado entre 2003 e 2004, quando ele estava se divorciando da Wendy Rae Fowler. A ex é atriz e cantora. Canta bem pra burro aliás. Faz uns anos ela soltou umas músicas na web, por uma banda/projeto/pseudônimo, ou sei lá, chamado Katie Cruel. Não dá para ouvir a lindaça "Hollow" e não lembrar (dos bons tempos) da PJ Harvey. Atualmente a moça é metade da dupla We Fell to Earth. Pois bem, parece que o fim do casamento foi iniciativa dela. Cansou do vício do marido, das farras com os amigos, da ausência prolongada do lar. Segundo consta, Lanegão ficou MAL. Bem mal. Wedding Dress é um pedaço amargo da dor-de-cotovelo de Mark Lanegan. Um esforço desajeitado e meio patético de consertar aquilo que já se sabe inconsertável. Um apelo alcoolizado do cara que liga no meio da madrugada, implorando para ser aceito de volta. Uma tentativa tardia de arrancar o "sim" de uma boca que, exausta de tanto perguntar, se recusa agora a responder. Eu adoro Wedding Dress. Porque a letra exagerada, esbarrando na cafonice e ironia, é carregada por aquela irresistível melodia blues rock que o Lanegan faz à perfeição. Porque a voz dele atinge o tom exato de constrangimento, dor contida, medo da solidão iminente e inevitável. Porque é um dueto melancólico. E absurdamente sexy, do primeiro ao último segundo. Porque é uma música pouco executada em shows, já que exige uma parceira - nem sempre à mão - no palco. Porque a versão de estúdio torna tudo mais penoso: é a própria voz da Wendy, delicada, se confundindo à mágoa de um Lanegan que arrisca tudo por uma última chance..."the end could be soon, we'd better rent a room, so you can love me...". Porque a versão ao vivo, com a voz da bonita Shelley Brien, resultou no vídeo de maior tensão sexual entre um homem e uma garota. Lado a lado no palco, os dois mal se olham. Mas, de uma forma indizível, se entendem por completo.


Sem mais, Wedding Dress. Enjoy.

Would you put on that long white gown
And burn like there's no more tomorrows?
Will you walk with me underground
And forgive all my sicknesses and my sorrows?
Will you be shamed if I shake like I'm dyin'
When I fall to my knees and I'm crying?
Will you visit me where my body rests?
Will you put on that long white dress?
Ba dadada, da, badadadada dadada
Ba dadada, da, badadada
The end could be soon, we'd better rent a room
So you can love me
Will you put on that long white dress
While I burn when there's no more tomorrows?
Will you remember me through the years I'll miss
And forget all the sadnesses and the sorrows?
Ba dadada, da, badadadada dadada
Ba dadada, da, badadada
We got buried in the fever
Now you love me
Get a room, so you can love me

4 comments:

claudio said...

Valeu Ana por mais este texto bacana!
Realmente Wedding Dress é uma grande música neste disco repleto de músicas incríveis.bjos

Galaxy Of Emptiness said...

Obrigada. Mas por favor, já falei, pára de me agradecer, rs! Claudio, manter esse blog não é um favor que eu faço pra ninguém, pelamoderdeDeus. Se alguém tem que agradecer aqui, sou eu, por ser lida.
São só textos com imagens. Sou eu pensando alto, nada mais do que isso. Leitura rápida para dar um sorrisinho no final, fechar a página e continuar as atividades diárias. Só.
bj.

Daniel said...

Ana, meu comentário é fora do contexto:

Desde de "White Chalk" que a PJ não grava um disco bom. Faz tempo!

Os últimos dois discos, são fraquíssimos. O estilo de canto que ela tem adotado é insuportavelmente chato e forçado, e esse é o grande diferencial da PJ, a voz, que é naturalmente bela.

Ele deveria voltar a andar com o pessoal do Desert Sessions para buscar inspiração.

Galaxy Of Emptiness said...

Fora do contexto nada....como se a zona desse blog tivesse algum contexto, hehe...

Pois é, não é porque alguém é muito, muito bom naquilo que faz, que necessariamente será bom em tudo o que tentar fazer. PJ Harvey não se tocou disso. Thom Yorke e sua trupe são outros, que com essa mania de querer fazer som "maduro", "experimental", ou coisa do tipo, ficaram chatos. Acho que é crise de meia idade de roqueiro, viu. O povo fica com vergonha de empunhar uma guitarra, passa a achar que isso é apenas para moleques. Aí começa a tocar sanfona, teremim, harpa, a tirar sonzinhos eletrônicos de laptops caros...sei lá, ahaha. O que salva são os eternos moleques - tipo Josh Homme, Lanegan, Grohl, Thruston Moore - que seguem ao pé da risca o sábio mandamento "keep on rockin'", de outro menino, Neil Young.