Para quem gosta de Mark Lanegan e Greg Dulli, história engraçada contada em entrevista para o The Sun:
http://www.thesun.co.uk/sol/homepage/showbiz/sftw/article858871.ece
Tem junto o áudio com o Lanegan rindo, coisa rara!
Conclusões:
1) Meninos passam dos 40 anos, mas continuam bobos...(mas no fundo, nós meninas gostamos dessa bobeira). 2) O "Garagem" faz muita falta. Típica história garagística, que eles contariam se estivessem no programa. Deu saudades. 3) Uma das melhores coisas da vida é viajar com amigos...(né, Anna!!!)
Monday, August 25, 2008
Saturday, August 23, 2008
Tuesday, August 19, 2008
I Know It's Over
"This is our last goodbye/ I hate to feel the love between us die/ But it's over/ Just hear this and then I'll go." ("Last Goodbye", Jeff Buckley)
"Close my eyes/ Feel me now/ I don't know how you could not love me now." ("Sometimes", My Bloody Valentine).
Itália, novembro de 1.912. "O melhor que você pode fazer é me odiar. Detesto assinar isso". As duas frases - geladas - encerram a carta endereçada a Louie Burrows. D.H. Lawrence, escritor inglês e autor de "O Amante de Lady Chatterley", anunciava à noiva que iria se casar. Com outra. Fim de romance, sem anestesia. Lawrence estava com vinte e sete anos de idade. Se vivesse no século XXI, teria mandado um e-mail. Provavelmente redigido ao som de "I´m your villain", da banda escocesa Franz Ferdinand, tocando no I-Pod..."I know what I am/ I'm your villain/ I don't give a damn if/ I'm your villain".
A jornalista Elisabeth Orsini teve uma idéia luminosa: "Cartas do Coração - Uma Antologia do Amor" é uma compilação. Beethoven para a amada imortal, Dostoievsky a Anna, Napoleão para Josefina. Poetas, músicos, chefes de Estado, pintores, figuras históricas que em algum momento de suas vidas escancararam sentimentos através de tinta e papel. D. Pedro I, apaixonado, assina com apelido ridículo sua cartinha para a Marquesa de Santos: Fogo Foguinho. O compositor Torquato Neto (1.944-1.972) pede a Ana Duarte que telefone entre 4 e 10 horas (!), porque o papel acabou. Mas teve tempo de enviar, no finzinho, "uns 90 beijos enormes". Mas nem tudo é arrebatamento e felicidade no livro organizado por Beth Orsini. "Difícil Adeus" é o título do último capítulo. Desfile de cartas que têm em comum a delicada, penosa ou no mínimo desconfortável missão de comunicar à até então cara-metade...que a fila andará. E também o outro lado: mensagens aflitas e suplicantes dos desprezados que tentam reverter, ou evitar, o que muitas vezes é definitivo. O temido pé-na-bunda.
Ana Bolena, por exemplo, não quis salvar apenas seu casamento quando, encarcerada, escreveu ao rei Henrique VIII. Sabia que o marido pensava em matá-la, acusando-a de adultério, incesto e feitiçaria! "Senhor, vosso desprezo e minha prisão parecem-me coisas tão estranhas, que não sei o que escrever ou que desculpas apresentar." A carta é humilde, o tom é de humilhação. Na despedida, uma última tentativa de comoção: "De minha triste prisão na Torre, aos seis de maio. Vossa esposa muito leal e sempre fiel, Ana Bolena". Inútil. Ana Bolena foi decapitada em 1.536. Abandonada. Personagem com história que se encaixa perfeitamente à letra triste de "Woman Left Lonely", da meiga Chan Marshall, a Cat Power: "A woman left lonely/ she’s the victim of her man/ yes she is./ When he can’t keep up his own way/ good Lord/ She’s got to do the best that she can, yeah!/ A woman left lonely/ Lord, that lonely girl/ Lord, Lord, Lord!"
Diante do fim, há quem reaja com amargura. "Estou sozinho. Mil vezes não te tivesse conhecido. (...). O que me causa horror é o teu desapreço por mim, homem de pensamento, a tua desatenção pelo espírito que sou". Frases fortes, não? Ah, se o responsável por elas - o poeta Augusto Frederico Schmidt - não tivesse morrido três anos antes do nascimento de Thom Yorke, se seu caso de (des)amor com Yêdda Schimdt rolasse nos dias atuais...poderia pegar emprestada do Radiohead essa agulhada no coração, em forma de verso que Thom pronuncia no meio da sublime canção "All I need": "I'm all the days/that you choose to ignore". Yêdda mudaria de idéia, com certeza.
Chantagem emocional. Outro recurso eleito pelo angustiado que sente o amor de sua vida escorregando por seus dedos (situação que Auguste Rodin modelou, também com os dedos, criando "Fugit Amor" - escultura tocante fotografada acima). E lá vai Jarvis Cocker, da banda Pulp, em "Don't you want me anymore", traduzindo em palavras mais um momento loser: "And now the whole damn town has come around to laugh at me/ Oh yeah Oh they can stare for evermore/ you do not care for me/ Oh no Oh they can stare now for a hundred thousand years/ Don't you want me anymore?". Sem ao menos imaginar, Vladimir Maiakovski antecipou em algumas décadas a técnica de Cocker para injetar remorsos e pena no coração de uma desalmada (no caso de Maiakovski, Lili Brik): "Estou sentado num café e choro. As garçonetes riem-se de mim. Dá medo pensar que toda minha vida futura será assim". Eis as curiosas semelhanças entre um poeta russo revolucionário e um cantor nerd de brit pop!
E se, diante da perda, o amor de um homem por uma moça pode se misturar ao desespero...o amor de um moço...por outro moço percorre o mesmo calvário. "Se eu não mais devo revê-lo, entrarei para a marinha ou exército. Oh, volte, eu choro a cada momento. Diga-me que vá ao seu encontro, eu irei, diga, telegrafe". Tentativa exagerada de Arthur Rimbaud para convencer Paul Verlaine a largar a esposa. "Don't punish me/For wanting your love inside of me/Don't punish me/For wanting your love inside of me", canta o andrógeno Antony, do Antony and the Johnsons.
Jorge Luis Borges, em sua carta a uma Estela Canto inclinada a romper o romance, pede com timidez: "Estela, Estela, quero estar contigo, quero estar silenciosamente contigo." Paul Banks, vocalista do Interpol, é bem mais explícito ao chamar por outra Stella, na maravilhosa "Stella was a diver and she’s always down": Stella/ Stella/ Oh Stella!/ Stella I love you/ Stella I love you/ Stella I love you!"
Em 1979, o inglês Ian Curtis, vocalista da banda Joy Division, redigiu um lamento, um esforço para explicar um angustiante sentimento de finitude. Não propriamente em forma de carta, mas de canção. A avassaladora "Love Will Tear Us Apart". Seu casamento com Deborah Curtis estava esmorecendo, havia uma amante. "When the routine bites hard/ And ambitions are low/ And the resentment rides high/ But emotions wont grow/ And were changing our ways/ Taking different roads/ Then love, love will tear us apart again". Curtis sentia culpa, questionava a causa de seus erros, o porquê da relação ter se tornado opaca, vazia. A pergunta crucial: "Is it something so good/ Just can't function no more?". Sem conseguir resposta, o sofrimento do epilético e depressivo Ian Curtis só terminou quando encontrou uma medida extrema, o suicídio. Talvez a resposta pela qual Curtis tanto ansiasse pudesse ter sido dada por um talento tão genial quanto o do músico. Fernando Pessoa não compunha. Mas escreveu os poemas mais arrebatadores da língua portuguesa. E também uma carta, em 1920, para Ophelia Queiroz, a Ophelinha. Mensagem calma, respeitosa, delicada e carinhosa para justificar a razão natural de um fim. Vale a pena a transcrição de um trecho:
"Agradeço a sua carta. Ela trouxe-me pena e alívio ao mesmo tempo. Pena, porque estas cousas fazem sempre pena; alívio porque, na verdade, a única solução é essa - o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos, fica uma estima profunda, uma amizade inalterável. Não me nega a Ophelinha outro tanto, não é verdade?...
[...] O tempo, que envelhece a face e os cabelos, envelhece também, mas mais depressa ainda, as afeições violentas. A maioria da gente, porque é estúpida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contraiu o hábito de se sentir a amar. Se assim não fosse, não havia gente feliz no mundo. As criaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade dessa ilusão, porque nem podem crer que o amor dure nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por ele a estima, ou a gratidão, que ele deixou.
Estas cousas fazem sofrer, mas o sofrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão de passar o amor e a dor, e todas as mais cousas, que não são mais que partes da vida?..." Fernando Pessoa faleceu em 1935. Ophelinha se casou. E aceitou o fim.
Tuesday, August 05, 2008
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