Se Grace, filha do baixista Duff McKagan, da banda Guns'N Roses, está viva....talvez tenha muito a agradecer a...Mark Lanegan. Quando Grace nasceu, o riacho existente nos fundos da casa de Mckagan passou a ser um risco para uma criança que logo começaria a andar. Foi Lanegan quem notou o perigo e alertou o amigo, que não pareceu muito preocupado. "Você não está entendendo. Você vai ter que levantar uma cerca". O seco Lanegan deu a última palavra e atualmente uma cerca adorna o quintal de Duff.
Se eu hoje sei dessa - e de algumas mais - historinhas envolvendo meu carrancudo ídolo e outros músicos bacanas, com certeza tenho muito a agradecer a....Eric T. Miller. Eric T. Miller, trinta e seis anos, magrelo, óculos no rosto alongado, é a personificação de Wally, aquele personagem do livrinho infantil "Onde está Wally?". Mora na Philadelphia, EUA, mantém um pouco visitado blog sem-graça onde lista prêmios cinematográficos, e pode ser encontrado no Myspace. Em sua página no site de relacionamentos, a gente vê poucos recados. E logo percebe que os principais amigos do esquisito Eric são: seu terrier Higgins (cão dotado de pouca beleza), políticos do Partido Democrata (!) e...a Magnet Magazine.
Eric Miller edita, publica e distribui a revista Magnet, sobre música independente, desde 1993. Eric é o dono da Magnet, que não é vinculada a corporação alguma. Na página da Magnet no Myspace, cerca de 3.200 amigos (número modesto, dez vezes menor do que o mostrado na página da revista Rolling Stone). Eu, mulher dotada de pouca velocidade, descobri a Magnet...apenas dias atrás. Ao acaso, entrei no site da revista. Que é...O Site Mais Feio Do Mundo. Assim mesmo, com maiúsculas. Site tosco, desalinhado, em azul e caramelo, as cores da revista (http://www.magnetmagazine.com/). Poucos e desorganizados links, não há campo de busca ou pesquisas. Nada de propagandas ("We don't believe in banner ads; we just believe in us", responde Eric aos eventuais interessados em anunciar no seu site).
Pois bem, se a minguada forma faz chorar, o conteúdo do site é um banquete de informações para qualquer ser que ama música. Entrevistas longas com gente que costuma, em outras publicações, a falar pouco ou a falar de má-vontade. Ou as duas coisas. Como Mark Lanegan. Lanegan foi entrevistado por jornalista da Magnet (que emprega pouca gente) há três ou quatro anos (imagino eu, pois o site não faz questão nenhuma de mencionar data ou edição). Lanegan estava vivendo em Antuérpia, na Bélgica (a cidade mais linda do mundo, posso dizer) e se deu ao trabalho de atender o telefonema do sujeito, reclamando do cansaço após subir só quatro lances de escada carregando as compras da mercearia (Lanegan é fumante convicto). A conversa é bem-humorada, as perguntas são inteligentes. Lanegan tanto responde como pergunta ("Onde você mora em Pittsburgh?""Acho que já fui pegar drogas lá."), conta casos hilários (o repórter pergunta se o cantor está sendo hostilizado na cidade por ser americano. Lanegan: "Todo mundo aqui na rua usa turbante. Então digo que vim do Território Yukon, no Canadá!").
O brilho da Magnet está justamente aí: as entrevistas são geniais. Não somente o fechado Lanegan demonstra disposição em papear com gente da pequena revista que, muitas vezes, é até atrevida: ao entrevistar Thom Yorke, em setembro de 2003, Matthew Fritch comenta que, quando ouviu "Creep" pela primeira vez, gostou, mas achou o nome da banda - Radiohead - imbecil. Thom Yorke ri e concorda. Adiante na entrevista, Fritch consegue resposta sensacional do líder da banda de nome imbecil, ao pedir sua opinião sobre fãs de rock que torcem o nariz para música eletrônica: "Maybe there’s just not been enough death in electronic music for people. If there were more suicides and Lester Bangs articles over the years and general hysteria and cult of personality surrounding the people who did electronic music, I think people would find it difficult to resist the temptation to get into it. But the fact is, one of the greatest things about good electronic music is it’s got none of that shit".
A irreverência - ou "folga" mesmo - dos poucos repórteres da Magnet seria impensável em revistas mais "sérias", estabelecidas e com nome a zelar. O repórter Jonathan Valania encontrou-se com Jon Spencer antes do show de sua banda, Jon Spencer Blues Explosion. Sua missão seria entrevistá-lo para a revista. Acompanhou a passagem de som, jantou. Pouco antes da banda subir no palco, Jonathan se liga de que....se esqueceu da entrevista! E que o tempo é curto. Decide então fazer apenas perguntas cretinas. Quando Valania descobre que Carl Crack, da banda atari Atari Teenage Riot, está no local e não compreende Inglês muito bem....bom, vai lá no site da Magnet e leia.
Você sabia que o álbum "Daydream Nation", do Sonic Youth, foi honrosamente registrado nos arquivos da Biblioteca do Congresso Americano (!?). Eu não (fui conferir no site da biblioteca e está lá mesmo!). Thurston Moore fala de sua surpresa com a "anotação" em outra boa entrevista da Magnet.
Bom, não conheço a trajetória da Magnet. Mas tenho impressão de que editor Eric Miller - que começou sua revista aos 23 anos - tem muita moral entre os músicos e atraiu muita simpatia por tocar uma publicação honesta que não tem rabo preso com ninguém. Respeito e simpatia dispensados não somente por músicos pequenos e praticamente desconhecidos: Eddie Vedder, da mainstream banda Pearl Jam, agradeceu a Magnet por ter dado a ele a oportunidade de entrevistar as bem alternativas meninas da banda Sleater-Kinney. Na entrevista, Vedder e as moças conversaram sobre a importância de bandas como Sonic Youth e Fugazi. Na fotografia acima, Eddie Vedder posa para a Magnet, entre sua vassoura e seu pet.
Aliás....as fotografias redimem o site da Magnet. Lindas. Há até o registro de uma rara aparição: os rapazes do Daft Punk, sem os capacetes (ao ver a foto, entendi a necessidade do acessório...). Aqui no post, ao lado de Vedder, Mark Linkous, do Sparklehorse (também entrevistado pela revista, depois de quase ter as pernas amputadas: "In a way, it was the best time of my life, just being in a wheelchair and being on morphine all the time.”).
Dá para assinar a Magnet, na boa. No site, há um link - pavoroso, diga-se - que explica os planos de pagamento e remete a outro link para a encomenda. Embora a configuração da página cause péssima impressão (lembra aquelas mensagens passadas por emails piratas, que tentam induzir você a abrir um link espúrio que vai copiar seus dados), existe segurança: Eric Miller já mandou mensagem esclarecendo que receberei minhas doze edições. A assinatura bianual (a revista sai de dois em dois meses) custa setenta e cinco dólares. Ou seja, dez reais a edição. Barata e de qualidade! E vem CD junto! Pronto, já fiz o comercial, hehe.
Por fim, se você, além de interessado em música, também não resiste a uma fofoquinha envolvendo seu artista preferido....a Magnet é mesmo a sua revista! Johnny Marr, que depois dos Smiths montou o Electronic com Bernard Sumner, entrega sem dó: o ator que interpretou Bernard no filme "24 Hours Party People", de Michael Winterbottom, era preguiçoso e não pesquisou direito: Sumner descobriu a água oxigenada bem depois da fase Joy Division!
Por fim, se você, além de interessado em música, também não resiste a uma fofoquinha envolvendo seu artista preferido....a Magnet é mesmo a sua revista! Johnny Marr, que depois dos Smiths montou o Electronic com Bernard Sumner, entrega sem dó: o ator que interpretou Bernard no filme "24 Hours Party People", de Michael Winterbottom, era preguiçoso e não pesquisou direito: Sumner descobriu a água oxigenada bem depois da fase Joy Division!
E a Magnet vai mais fundo: para meu desgosto, o próprio Mark Lanegan informa, em entrevista junto com Josh Homme, que pinta o cabelo para esconder o grisalho! Eu desconfiava. Graças a Eric T. Miller, não posso mais viver na ignorância. Um exemplo cruel de liberdade de imprensa sendo usada para o fazer o Mal, hehe!
Pouco entendo de música. Não sou jornalista, não tenho banda, nada. Sou uma simples promotora (de justiça, não de eventos) que há poucos dias descobriu Magnet, a revista do meio nerd, muito incrível Eric T. Miller. A Revista De Rock Mais Bacana do Mundo.
Assim mesmo, com maiúsculas.