Thursday, February 01, 2007

O pintor, o físico e o rock star apaixonados



Quando um jornalista curioso perguntou a Robert Smith quem era Elise, reza a lenda que o líder do "The Cure" fechou a cara e deu a entrevista por encerrada.
"A Letter to Elise" é canção linda e triste do "The Cure" que está no disco "Wish". A letra fala de mágoas, desilusões, desencontros, de uma relação que terminou na frustração. Robert Smith casou-se em 1988 com Mary Poole. "A Letter to Elise" foi lançada como single em 1992. A identidade e a história de Elise permanecem secretamente guardadas na memória do vocalista e compositor. Que não quer falar dela.
Se Elise não tem rosto, a mocinha da pintura acima tem. "Girl with a Pearl Earring" é o quadro mais famoso do holandês Johannes Vermeer (1632-1675). Também chamado de "Mona Lisa do Norte" ou "A Mona Lisa holandesa". Vermeer tornou-se conhecido por retratar mulheres em casa, ocupadas em tarefas domésticas. Não existem registros históricos a respeito de quem foi (e o que foi) a menina de feições delicadas que parece virar-se para atender um repentino chamado de seu nome. Nome que um dia o pintor pronunciou, talvez cheio de sentimento. O mistério que envolve a obra gerou uma história fictícia, narrada no livro que levou o título da tela e que foi escrito por Tracy Chevalier. O romance ganhou uma adaptação para o cinema, filme que teve Scarlett Johansson no papel da jovem. Na mente de Chevalier, ela foi Griet, empregada adolescente da casa dos Vermeer. Encantado com a suavidade da moça, o apaixonado pintor a toma por modelo para seus quadros. O amor não se consuma. Vermeer era casado. A única oportunidade de que dispõe para tocar Griet é durante o momento em que fura sua orelha com o brinco de pérola pertencente à enciumada esposa (metáfora para a perda da inocência). O estado civil do pintor e a posição social de sua musa os separam.
Se o enredo inventado guarda alguma semelhança com a vida real, não se sabe. Mas a beleza do quadro sugere que a identidade e a história da moça do brinco de pérola marcaram o artista holandês.
Erwin Schrödinger nasceu em 1887, em Viena. Estudou e se formou em Física. A partir de 1921, passou a se interessar pela teoria quântica, publicando alguns trabalhos sobre a estrutura do átomo. O austríaco é hoje considerado um dos criadores da mecânica quântica, o pai da mecânica ondulatória. E sua bem sucedida carreira pode ser creditada a uma desconhecida. A uma mulher que não tem nome, como Elise, que não tem rosto, como a jovem de Vermeer. Ela passou algumas semanas na companhia do cientista, entre dezembro de 1925 e janeiro de 1926. Os dois se hospederam secretamente em um hotel nos Alpes suíços. Schrödinger era casado. Mas o motivo da discrição não era a necessidade de preservar o físico, que levava um casamento aberto (sua esposa sabia de seus casos e também mantinha uma ligação com um matemático amigo do cientista). Então, suspeita-se que a amante de Schrödinger era uma pessoa conhecida ou também casada (nos moldes tradicionais). O fato sensacional é que, ao longo dessas reservadas férias, o físico fez a descoberta que mudou sua vida. E os rumos da ciência. Logo após o final do encontro, Erwin Schrödinger retornou à sua universidade, em Zurique, carregando consigo os rascunhos de cinco estudos que apresentavam as bases da mecânica ondulatória. Eles foram o início dos trabalhos e pesquisas desenvolvidas pelo cientista que culminaram na distinção máxima: em 1933, foi contemplado com o Prêmio Nobel de Física, por sua contribuição à mecânica quântica. É mistério se a mulher desconhecida teve apenas papel de musa inspiradora ou se efetivamente ajudou o físico a desenvolver sua teoria. Mas não há dúvidas de que a moça nunca identificada mudou a vida do pesquisador.
Robert Smith, Vermeer e Schrödinger. Rock star, pintor e cientista apaixonados. E se o amor não deu certo, ao menos o sentimento motivou esses homens a tornar a música, a arte e a ciência ainda mais ricas. Sorte nossa.

2 comments:

Anonymous said...

Ana in love? feminista? naum sei, mas o texto tah lindo!
bjos

Anonymous said...

É bem possível que as mulheres tenham sido o "Q a mais" de tudo isso. Não teria sido nenhuma novidade na História.

Os créditos uma hora ou outra irão aparecer.