Friday, December 08, 2006

...and You Will Know Them by the Trail of Dead



"A Drink Before The War" é música da pálida e ex-careca Sinead O´Connor. A expressão "Darkness, Take My Hand" remete a uma canção de Elvis Presley. "Sacred" desponta como a faixa número 4 do álbum "Music for Masses", do Depeche Mode. A banda punk "Gone, Baby, Gone" formou-se em Boston, EUA. Um dos hinos mais desesperados do The Cure é "Prayers For Rain".
Mas não só. "A Drink Before The War", "Darkness, Take My Hand", "Sacred", "Gone, Baby, Gone" e "Prayers For Rain" são os cinco títulos que compõem a eletrizante série de "crime fiction" criada por Dennis Lehane. Não são filmes, e sim livros, todos lançados no Brasil (embora "Gone, Baby, Gone", o filme, chegue aos cinemas o ano que vem). E Dennis Lehane - natural da mesma cidade de "Gone, Baby, Gone", o grupo de rock - é escritor que, ao lado do compatriota George Pelecanos, do britânico Mark Billingham e do italiano Carlo Lucarelli, faz parte de uma turma de jovens autores que poderia ser batizada de "Os Nick Hornby do Crime".
Você se lembra de Rob Fleming, personagem trintão viciado em música pop, herói do mais famoso livro de Hornby, "Alta Fidelidade"? Pois imagine que Rob Fleming fechou sua lojinha de discos, comprou uma pistola e ingressou na Polícia. Ou abriu um escritório de investigações particulares. Patrick Kenzie, Nick Stefanos e Thom Thorne são, respectivamente, os Rob Fleming de Dennis Lehane, George Pelecanos e Mark Billingham. Protagonistas paranóicos em desvendar a identidade de homicidas, mas sempre buscando alento para suportar os horrores da profissão no álcool, cigarro (seguindo a melhor tradição da literatura "noir" de Chandler e Hammet) e...rock. Thom Thorne, o investigador inventado por Mark Billingham, apaga as luzes de seu apartamento e conta com a ajuda de Massive Attack e Johnny Cash para encaixar as peças dos intrincados quebra-cabeças que representam mortes violentas ocorridas em Londres. Patrick Kenzie, de Lehane, odeia Morrissey. Em "Gone, Baby, Gone" tem ímpetos de socar um coitado que se atreve a tocar "How Soon is Now" na sua presença. Fã de rock progressivo, é apaixonado por Angela Gennaro, sua sócia. A detetive adora indie rock, para desgosto de Kenzie. Dentro do carro usado para as investigações, o casal toma café em copos descartáveis e destila comentários ácidos sobre suas divergentes preferências musicais, enquanto vigia a entrada do prédio onde mora o suspeito. Nick Stefanos, de Pelecanos, se embrenha nos bares escuros e marginais de Washington, à procura de testemunhas e de música que valha a pena. A única exceção vem do italiano Carlo Lucarelli. Sua personagem principal - uma policial que trabalha em Bolonha - não tem afinidades com o pop rock. Mas o serial killer de "Almost Blue" é puro punk. Skinhead, esquizofrênico e atormentado por vozes ilusórias desde a infância, o assassino necessita de música vinte quatro horas por dia. Música demente o bastante para encobrir a voz que o atormenta e para instigar a carnificina. AC/DC e, principalmente, Nine Inch Nails berram nos fones que o rapaz permanentemente mantém nos ouvidos.
Lehane, Pelecanos, Billingham e Lucarelli são, como suas criaturas, apaixonados por música. Lucarelli é vocalista da banda de pós-punk Progetto K. Dennis Lehane, em entrevista, revelou que precisou ouvir Clash e Moby para reunir motivação enquanto escrevia as passagens mais tira-fôlego do sensacional "Sobre Meninos e Lobos" ("Mistic River", filmado por Clint Eastwood). George Pelecanos posta em seu site a relação dos shows a que assiste (ele comenta a performance de Karen O, dos Yeah, Yeah, Yeahs, que viu ao vivo também esse ano) e das músicas que rolam em seu I-Pod (Death Cab For Cutie, Arctic Monkeys, Mark Lanegan, Stooges, entre outros). E é também Pelecanos que atribui à música a responsabilidade por sua carreira de escritor: "punk rock itself conviced me to try and become a writer; if those untrained, unwashed amateurs could pick up guitars and make vital music, then why couldn´t I, equally, untrained and unwashed, write a book?". Que a música, Pelecanos e seus contemporâneos também sirvam de inspiração para futuros autores. Como você. Por que não?

3 comments:

Anonymous said...

A música influencia fortemente minha vida também, é capaz até de mudar meu humor.

Que estranho.....como pode, um simples acorde, uma voz, uma batida, exercer tanta força sobre a vida de tanta gente ? Não tem explicação.

Não consigo imaginar algum policial que goste de Morrissey....imagine um, enfiando o meliante num camburão cantarolando "This charming man". Seria expulso da corporação.

Anonymous said...

me identifiquei com o serial killer de "almost blue". eu também preciso de música 24 horas por dia. i can´t stand the silence!!!
...
e o morrissey, o pete doherty, o thom yorke, o kurt cobain, são como que amigos pra mim, sabe? preciso da companhia deles.
...
falando em policiais que gostam de música, eu participei de uma banda, em uma vida passada, com um cara que se tornou policial militar. muito talentoso, autodidata, tocava muito bem, desenhava muito bem, aprendeu inglês sozinho, tinha um pusta bom gosto ... e resolveu se encostar na polícia. tsc, tsc, tsc.
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quem me dera escrever algo digno de nota.
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um beijo.

O Sem Acentos said...

eu sei de onde vem o titulo desse post...ahahahah