Friday, December 29, 2006

Futuristas





"Perfection Mekanik/Aero Dynamik/Materiel et Technik/Aero Dynamik/Condition et Physik/Aero Dynamik/Position et Taktik/Aero Dynamik" ("Aero Dynamik", Kraftwerk).
Luigi Russolo, Carlo Carrà, Filippo Tommaso Marinette, Umberto Boccioni e Gino Severini. Os cinco homens de preto na fotografia. Três pintores e dois poetas italianos que, já na primeira década do século passado, inauguraram o Futurismo. Movimento cultural de exaltação à modernidade, ciência, tecnologia e velocidade como as novas formas de beleza plástica e literária. Carros, trens, fábricas como alvos de interesse da Arte. Os futuristas abominavam a arte tradicional, rudimentar. Desdenhavam a nostalgia. Na Pintura, criticavam a estática das obras: quadros e esculturas deveriam captar o movimento real, registrar a velocidade de figuras e objetos no espaço. Tal ideologia foi bem retratada na tela "Dinamismo de um ciclista", de Boccioni. Na Literatura, pregava-se a destruição das bibliotecas. A agressividade do Futurismo e sua ânsia por uma Itália avançada sugeriam simpatia ao Fascismo. O Cubismo esteve presente nas obras dos pintores futuristas. Mas o Futurismo foi além e incorporou os conceitos de dinamismo e simultaneidade: formas e espaços que se movem ao mesmo tempo e em direções contrárias. Carlo Carrà, por exemplo, elaborou o esboço de Ritmo dos Objetos e Trens. O movimento futurista determinou sua importância por se revelar influente. Inspirou o Futurismo na Rússia (que teve papel na Revolução Bolchevique de 1917). Foi assimilado pelos artistas brasileiros destacados na Semana de Arte Moderna de 1922. Anos e anos depois, foi responsável pelas primeiras narrativas de ficção científica (a estética futurista aparece em "Blade Runner", de Philip K. Dick). Sem Futurismo, não nasceria o Cyberpunk. A Música não ficou imune. Obviamente, o Futurismo se uniu ao Rock.
O Futurismo foi precursor do punk. Karen Pinkus, professora de italiano, frânces e literatura da University of Southern California, redigiu o bacaníssimo "Futurism: Proto-Punk?" (tem na Internet: http://creativetechnology.salford.ac.uk/fuchs/modules/input_output/Futurism/ProtoPunk.htm), onde compara as semelhanças dos dois movimentos. Os egos de Filippo Marinetti, líder do Futurismo, e de Malcolm McLaren, produtor do Sex Pistols e New York Dolls, seriam igualmente inflados. As performances artísticas do Futurismo eram tumultuadas como um show punk: objetos atirados na platéia, aparições da polícia. Gravatas estreitas e cabelos curtos arrepiados seriam estilo futurista adotado pelos punks. E tanto representantes do Futurismo como do punk sofreram mortes trágicas. Diversos futuristas não voltaram da guerra. Boccioni -defensor da velocidade na Arte - ironicamente morreu ao cair de um cavalo em disparada. Na música, Sid Vicious se matou depois de assassinar a namorada, Nancy.
E o Futurismo foi mais longe. Motivou, na Alemanha, a formação da primeira banda de música eletrônica: o Kraftwerk. Ralf Hütter e Florian Esleben uniram-se no final da década de 60 e fundaram o "Organisation", grupo que se exibiu em galerias de arte, universidades e clubes. Já no início dos anos 70, passaram a se apresentar como Kraftwerk - banda à qual iriam aderir Wolfgang Flür e Karl Bartos - e lançaram o primeiro disco.
O futuristas italianos foram cruciais para o Kraftwerk. O Futurismo imprimiu sua marca no visual da banda (homogêneo, adepto dos uniformes. E a identidade de roupas percebe-se nas duas fotografias), no visual dos shows e grafismos das capas dos discos (sempre enfatizando meios de transporte em movimento e a paixão pela dinânimica das bicicletas - Boccioni e os alemães compartilharam a mesma fascinação pelo ciclismo), no nome do grupo, nos títulos dos discos e músicas ("Kraftwerk" significa "usina"; discos foram batizados de "Autobahn", "Radioactivity", "Trans Europe Express", "The Man Machine", "Computer World" e "Tour de France" - esse último, uma referência à famosa corrida de bicicletas; os demais, alusões à velocidade e relevância das máquinas) e, logicamente, no som (completamente metálico - até nos vocais, que inauguraram o "speech-singing style" - produzido por sintetizadores, teclados, bateria eletrônica). A paternidade da música eletrônica é creditada ao Kraftwerk. Industrial, dance, house, electro, techno...todos os gêneros têm sua matriz na banda alemã. E se hoje você curte e dança música eletrônica, é porque há quase cem anos os senhores alinhados da fotografia antiga tiveram a grande sacada: a máquina deveria servir não apenas ao Homem. Mas também à Arte.

Saturday, December 23, 2006

Mercadante é Pop



Aloizio Mercadante e Borat
Feliz Natal!!!

Friday, December 22, 2006

Quando a Arte vira Rock, Parte XLIX



Escultura de Andrea Verrocchio e Pete Townshend, vocalista e guitarrista do The Who.

Tuesday, December 19, 2006

Quando a Arte vira Rock, Parte XLVIII



"Portrait of a Young Man", de Simon Vouet, e Brian Molko, vocalista do Placebo.

Saturday, December 16, 2006

Quando a Arte vira Rock, Parte XLVII



"Marie Laurencin", Self-Portrait, e Kazu Makino, vocalista do "Blonde Redhead".

Friday, December 08, 2006

...and You Will Know Them by the Trail of Dead



"A Drink Before The War" é música da pálida e ex-careca Sinead O´Connor. A expressão "Darkness, Take My Hand" remete a uma canção de Elvis Presley. "Sacred" desponta como a faixa número 4 do álbum "Music for Masses", do Depeche Mode. A banda punk "Gone, Baby, Gone" formou-se em Boston, EUA. Um dos hinos mais desesperados do The Cure é "Prayers For Rain".
Mas não só. "A Drink Before The War", "Darkness, Take My Hand", "Sacred", "Gone, Baby, Gone" e "Prayers For Rain" são os cinco títulos que compõem a eletrizante série de "crime fiction" criada por Dennis Lehane. Não são filmes, e sim livros, todos lançados no Brasil (embora "Gone, Baby, Gone", o filme, chegue aos cinemas o ano que vem). E Dennis Lehane - natural da mesma cidade de "Gone, Baby, Gone", o grupo de rock - é escritor que, ao lado do compatriota George Pelecanos, do britânico Mark Billingham e do italiano Carlo Lucarelli, faz parte de uma turma de jovens autores que poderia ser batizada de "Os Nick Hornby do Crime".
Você se lembra de Rob Fleming, personagem trintão viciado em música pop, herói do mais famoso livro de Hornby, "Alta Fidelidade"? Pois imagine que Rob Fleming fechou sua lojinha de discos, comprou uma pistola e ingressou na Polícia. Ou abriu um escritório de investigações particulares. Patrick Kenzie, Nick Stefanos e Thom Thorne são, respectivamente, os Rob Fleming de Dennis Lehane, George Pelecanos e Mark Billingham. Protagonistas paranóicos em desvendar a identidade de homicidas, mas sempre buscando alento para suportar os horrores da profissão no álcool, cigarro (seguindo a melhor tradição da literatura "noir" de Chandler e Hammet) e...rock. Thom Thorne, o investigador inventado por Mark Billingham, apaga as luzes de seu apartamento e conta com a ajuda de Massive Attack e Johnny Cash para encaixar as peças dos intrincados quebra-cabeças que representam mortes violentas ocorridas em Londres. Patrick Kenzie, de Lehane, odeia Morrissey. Em "Gone, Baby, Gone" tem ímpetos de socar um coitado que se atreve a tocar "How Soon is Now" na sua presença. Fã de rock progressivo, é apaixonado por Angela Gennaro, sua sócia. A detetive adora indie rock, para desgosto de Kenzie. Dentro do carro usado para as investigações, o casal toma café em copos descartáveis e destila comentários ácidos sobre suas divergentes preferências musicais, enquanto vigia a entrada do prédio onde mora o suspeito. Nick Stefanos, de Pelecanos, se embrenha nos bares escuros e marginais de Washington, à procura de testemunhas e de música que valha a pena. A única exceção vem do italiano Carlo Lucarelli. Sua personagem principal - uma policial que trabalha em Bolonha - não tem afinidades com o pop rock. Mas o serial killer de "Almost Blue" é puro punk. Skinhead, esquizofrênico e atormentado por vozes ilusórias desde a infância, o assassino necessita de música vinte quatro horas por dia. Música demente o bastante para encobrir a voz que o atormenta e para instigar a carnificina. AC/DC e, principalmente, Nine Inch Nails berram nos fones que o rapaz permanentemente mantém nos ouvidos.
Lehane, Pelecanos, Billingham e Lucarelli são, como suas criaturas, apaixonados por música. Lucarelli é vocalista da banda de pós-punk Progetto K. Dennis Lehane, em entrevista, revelou que precisou ouvir Clash e Moby para reunir motivação enquanto escrevia as passagens mais tira-fôlego do sensacional "Sobre Meninos e Lobos" ("Mistic River", filmado por Clint Eastwood). George Pelecanos posta em seu site a relação dos shows a que assiste (ele comenta a performance de Karen O, dos Yeah, Yeah, Yeahs, que viu ao vivo também esse ano) e das músicas que rolam em seu I-Pod (Death Cab For Cutie, Arctic Monkeys, Mark Lanegan, Stooges, entre outros). E é também Pelecanos que atribui à música a responsabilidade por sua carreira de escritor: "punk rock itself conviced me to try and become a writer; if those untrained, unwashed amateurs could pick up guitars and make vital music, then why couldn´t I, equally, untrained and unwashed, write a book?". Que a música, Pelecanos e seus contemporâneos também sirvam de inspiração para futuros autores. Como você. Por que não?

Friday, December 01, 2006

Delacroix & Killing Joke


"Mark out the points/Build the pyre/Assemble different drummers/Light up the fire/Put on your masks/And animal skins/Illumination, illumination/Listen to the drums/Between each beat, each beat of the drum/O beloved mother of liberty/Hold me in your arms" ("The Death and Resurrection Show", Killing Joke & Dave Grohl).