Thursday, June 29, 2006

Marc Chagall e Flaming Lips


"Do you realize? We´re floating in space...." ("Do you realize?", Flaming Lips)

Wednesday, June 28, 2006

Isaac Newton, Kandinsky e Radiohead





1.675. Em uma carta, Isaac Newton expõe para a Royal Society Of London sua teoria da correlação entre os intervalos do espectro de cores e a escala musical. Para Newton, a proporção verificada entre a graduação de cores seria a mesma proporção existente entre a graduação de notas musicais dentro de uma oitava. Vermelho e azul não são cores harmônicas entre si. Há uma distância de tons entre ambas. A mesma distância de sons que existiria entre notas musicais. Se o vermelho é um mí, o azul seria um lá.

Conclusão maravilhosa: se o famoso cientista estiver correto.....pode-se "tocar" uma pintura! Ou "pintar" uma música!
Pense na sua música predileta. Se fosse pintada, resultaria em qual imagem? Difícil saber. Mas dá para brincar de imaginar.
"Smells Like Teen Spirit", do Nirvana. A música é uma sensacional mistura de explosão sonora e pequenos momentos de calmaria. Em questão de segundos, a voz de Kurt Cobain passa do quase murmúrio para o mais esquizofrênico dos gritos. E, logo em seguida, novamente se recolhe para um tom pastoso, típico de quem pronuncia palavras com a boca quase fechada. A bateria acompanha os repentes de fúria.
Então, se pintada, "Smells Like Teen Spirit" possivelmente seria um quadro de Kandinsky. Multicolorido, repleto de tonalidades desarmônicas entre si.
Já ouviu "No Surprises", do Radiohead? É um legítimo Monet! A voz de Thom Yorke percorre toda a canção em mínimas oscilações. No fundo, uma melodia que se repete, sem sobressaltos. Sonoridade quase homogênea. Logo, por analogia, uma pintura de cores próximas, suaves e harmônicas.
Aí em cima, duas pinturas. Kandinsky e Monet. Adivinhe quem é Nirvana, quem é Radiohead!

Tuesday, June 27, 2006

DNA Music



"Thousands of hairs /Two eyes only /Its you /Some skin /Billions of genes /Again its you /XX XY /That's why it's you and me /Your blood is red /It's beautiful genetic love /Biological I don't know why I feel that way with you /Biological I need your DNA /Your fingerprints /The flesh, her arm, your bones /I'd like to know /Why all these things move me /Let's use ourselves to be as one tonight /Apart of me would like to travel in your veins /Biological I don't know why I feel that way with you /Biological I need your DNA ("Biological", Air).
Que louco. Seu código genético é uma partitura musical! Olha só:
DNA Music
Think you have no musical talent? Think again, your DNA code is a whole orchestra of sounds!
These days music is everywhere with soundtracks in shops, airports and cafes. It sometimes seems as though the entire world has been turned into one giant jukebox. But what if there is music inside you as well? Not that you have hidden talent, but music actually hard-wired into the composition of your body? A British computational biologist, Dr Ross King, has explored this weird idea with Protein Music – a program that converts DNA code, into music.
The idea of ‘music-in-nature’ has a long history. The ancient Greeks imagined ‘the music of the spheres’ – harmonious sounds produced by the grinding of nested ‘cosmic balls’ that constituted the universe. The French composer Olivier Messiaen famously spent hours painstakingly transcribing birdsong into musical notation, then reusing it in his scores. And the sonic experiments of John Cage proposed that any sound, no matter how random or trivial, could be understood as ‘music’.
More recently there has been a flurry of interdisciplinary interest in translating biological and molecular information into musical form – the peaks and troughs of an EKG graph, the structure of proteins, and the sequences of DNA itself.
Dr Ross King originally developed his Protein Music software in collaboration with electronic musician Colin Angus of The Shamen. ‘I knew Colin Angus from university, where he studied microbiology’, King explains. This resulted in the song S2 Translation on the Shamen album Axis-Mutandis, an ode to a protein that, according to Angus, ‘is thus one of the most important molecules in the mediation of both ordinary and non-ordinary (or ‘shamanic’) states of consciousness’.
To download Protein Music and listen to its example gene sequence is an eerie and fascinating experience. The music is spare, minimalist and hypnotic. But it is also hard to shake the sense that it encodes precious information. King explains how programming decisions were made so as to translate DNA into something musically comprehensible. ‘The mapping makes some biological sense, it's not completely arbitrary’, he says. ‘You start with the DNA sequence, which has four letters: A, G, C and T. These map on to four notes in the C major scale’.
That alone would be boring to listen to, so a biologically relevant bassline is added. ‘DNA codes for 20 different amino acids’, King says. ‘You don't want to map them straight on to notes, so we map the chemical and physical properties – some have negative charge, some have positive charge, some are bigger, some are smaller, and so on. These become the notes in the bassline’.
King considers the value of his work to be in auralisation: an educational way of re-presenting information sonically so that its structure can be apprehended more intuitively. ‘I have a student doing a project right now on more general ways of transforming information into sound’, he says. And while he resists the excitable notion that Protein Music somehow demonstrates the fundamental interconnectedness of all things, other researchers in the field have noticed odd similarities.
A mathematical pattern called 1/f noise, for example, seems to be mysteriously ubiquitous not only in DNA sequences and the rhythm of a heartbeat, but also in music, written language and the flow of traffic. Meanwhile, researchers Susumu Ohno and Midori Ohno suggested in an article in Immunogenetics that a ‘principle of repetitious recurrence’ governs both the DNA sequence and the process of musical composition, and even that works of music could be translated into DNA code themselves. Perhaps the music of the spheres really is inside every living thing.
("Culture Lab"/The British Council) Writer: Steven Poole. Published on 03 April 2003.
E aí? Qual música é você?
Eu queria ser "Disintegration", do Cure....

Saturday, June 24, 2006

Saturday, June 17, 2006

Quando a Arte vira Rock, Parte X





Pintura de Luca Giordano e Ian Curtis, vocalista do Joy Division

Quando a Arte vira Rock, Parte IX



"Pietro Carnesecchi", de Domenico Puligo, e Julian Casablancas, vocalista dos "Strokes".

Friday, June 16, 2006

Quando a Arte vira Rock, Parte VIII



"Cesare Borgia", de Giorgione, e Trent Reznor, do "Nine Inch Nails".

Thursday, June 15, 2006

Quando a Arte vira Rock, Parte VII



"Portrait of Auguste-Richard De La Hautiére", de Eugene Delacroix, e Alex Kapranos, vocalista do "Franz Ferdinand".

Wednesday, June 14, 2006

Zarqawi, Bin Laden e Front 242

"Headhunter". Música do Front 242, anos 80, que a histeria pós 11 de setembro atualizou...

I'm looking for this man/To sell him to other men/To sell him to other men/To make us rich and famous/One you lock the target,/Two you bait the line,/Three you slowly spread the net/And four you catch the man!/I'm looking for this man/To sell him to other men/To sell him to other men/At ten times his price at least/I'm looking for a man/Who knows the rules of the game/Who's able to forget them/To realize my aim/One you lock the target/Two you bait the line/Three you slowly spread the net/And four you catch the man/Lock the target, bait the line/Spread the net then catch the man.

Quando a Arte vira Rock, Parte VI



"Enterro na Rede", de Candido Portinari, e David Gahan, vocalista do Depeche Mode.

Tuesday, June 13, 2006

A Narina do Budha e Beijos de Aeroporto

Um menino cego e uma garota surda-muda namoram no metrô madrilenho. Na Faculdade de Direito de Buenos Aires, as salas de aula não têm cadeiras, e sim bancos compridos iguais aos de igrejas. Na ilha de Mikonos, na Grécia, patos nadam folgados....no mar!
Viajar para o exterior é bom, ninguém duvida. Mas, na minha opinião, o que engrandece e justifica uma visita a outro país são as pequenas banalidades que não constam das páginas dos guias "Time Out". São os detalhes aparentemente escondidos nas incríveis paisagens, mas que denunciam como transcorre a vidinha diária e comum de um povo que não é o seu. É o tipo de bolsa falsificada vendido pelos camelôs senegaleses da Ramblas, em Barcelona; o sabor do iogurte de banana servido no café-da-manhã dos hotéis italianos.
Conheço pouco do mundo. Mas um sujeito chamado Kevin Dolgin, pelo jeito, conhece bastante. Conhece, observa e anota o "lado B" do roteiro turístico. E essas anotações ele organiza na forma de textos bacanas, publicados no site da revista literária McSweeney, subscrita por jovens escritores norte-americanos (www.mcsweeneys.net). As crônicas fazem parte do link "Kevin Dolgin tells you about places you should go in Europe". O título não é muito correto, pois as viagens também incluem Japão, China, Brasil. Além disso, Dolgin quase não se preocupa em chamar a sua atenção para pontos turísticos consagrados, obras de arte famosas, ruas históricas. Dolgin, divertido, narra o esforço de uma motorista romana para quase criminosamente enfiar o carro em uma vaga apertada qualquer. Faz também uma análise filosófica sobre as batatas-fritas belgas e sobre as diferentes espécies de beijos (!) que nós podemos presenciar em um aeroporto (texto que eu transcrevi aí embaixo). Os escultores de areia mereceram o destaque no texto dedicado ao Rio de Janeiro. Em um templo japonês, turistas de variadas nacionalidades tentam se esgueirar por um pequeno túnel conhecido por "narina do Budha", no fim do qual estaria o Paraíso. E, na Lituânia (!), Dolgin perturba a população com perguntas insistentes sobre a exata localização da lendária estátua de.....Frank Zappa!
O simpático Kevin Dolgin escreve sobre aquilo que aproxima o viajante, que visita, do morador, que é visitado. Não sobre aquilo que os diferencia. Porque, na Itália, as agências bancárias também fecham cedo....
AIRPORT KISSES
Kevin Dolgin

There I was, in Paris's Charles de Gaulle Airport, a place in which I spend far, far too much time. For once, I was early. It was one of France's occasional "everyone goes on strike" days. Part of the fun of these kinds of days is that you're never exactly sure to what degree the call for a nationwide strike will be heeded. You might come to the conclusion that the issue in question is trivial and no one will actually strike, only to find that absolutely every scrap of infrastructure is paralyzed. On the other hand, having been so deceived the last time, you might take myriad precautions only to discover that everything is working almost normally. It's these uncertainties that make life in France so exciting.

I had decided to leave for the airport a couple of hours earlier than I would normally have left, to allow for strike traffic. (Once, during a particularly difficult strike that happened to occur during a snowstorm, it took me over five hours to cover what was normally a 40-minute drive.) This time, though, the strike traffic was far lighter than I had expected, so I found myself just hanging around in Terminal 2F.

Terminal 2F is a great big soaring concrete cathedral to the god of airplanes. It's a pretty impressive place, assuming you really, really like concrete. Its younger sister, Terminal 2E, was designed to be an even greater concrete cathedral, but a chunk of it collapsed upon itself (and a couple of travelers) two years ago and it doesn't quite generate the same aesthetic effect anymore.

Anyway, having nothing to do while waiting for my plane, I just started wandering around observing things. My attention was drawn to a young couple who were wound around each other in a passionate embrace, and this got me thinking about airport kisses.

When you travel a lot you end up witnessing many airport kisses. These are not the same as street kisses or bedroom kisses or hospital kisses. They're not even the same as train-station kisses (I think it's because of the lines and the security in airports, or something). Airport kisses are a class unto themselves.

The couple that first grabbed my attention consisted of a slight young man and a young, rather plain woman with a mole on her cheek. Their kiss was of the lingering kind, a kiss that stops from time to time so you can look into each other's eyes. It was a kiss that said they would be apart for a while. He said something to her, her lips formed "OK," and they kissed again, he holding her face in his hands.

This is a typical kind of airport kiss, and I suddenly realized that this would make a good topic for a dispatch, so I decided to spend the rest of the time before my departure checking out kisses on that Tuesday morning in Terminal 2F. Besides, to be frank, I had nothing else to do.
The next one I found was an entirely different type of airport kiss—it was a woman kissing a toddler who was sucking on a bottle. They were obviously traveling together, probably waiting between flights. The toddler bore the signs of fatigue that could only be produced by that awful period between connections, but he was bearing them like a real little trooper, and his mother seemed proud.

Which raises the point that there are really three broad categories of airport kisses: arrival kisses, departure kisses, and co-traveler kisses.

Departure kisses are the ones you probably immediately started imagining when I first raised the whole point about airport kisses (not to mention that it was a departure kiss that got me going on the topic in the first place). Those are the passionate ones, those are the lingering ones. People don't want departure kisses to stop, because after they do, one of them departs. This applies whether they are amorous departure kisses, like the one shared by the young couple I saw, or parental departure kisses, like the ones I've planted on my own children from time to time, the kind where you squeeze your child and smoosh your lips against his cheek until he starts getting embarrassed and tries to wiggle away.

Departure kisses are usually followed by the nondeparture half of the kiss standing around looking like a fool after hearing those terrible words: "I'm sorry, you're not allowed past this point." The departing half of the kiss then gets in some line while the nondeparting half stands and waits until the departer is definitively out of sight, which these days, with all those slow security lines, might take a hell of a long time. Recently, I was at another terminal at the same airport standing in a security line with a man who kept waving back to the nondeparting half of his departure kiss while taking off his shoes, his belt, his jacket ... etc. Off came an article of clothing, up went a wave. Far behind us, a short woman in a red jacket was waving back from behind a metal barrier. Even after he had gone through and was out of sight, she stood looking at the metal detector.

But departure kisses aren't the only kind, and they're certainly not the best kind, so I went downstairs to the arrival hall to observe arrival kisses. Arrival kisses are always shorter than departure kisses, because there's so much to say and so much more time to say it. Arrival kisses tend to be more forceful, less tender, and, surprisingly, often more tearful. This is a thing I've noticed. While it has never bothered me that no one comes with me to say goodbye when I leave from an airport, I confess a twang of regret that no one is ever waiting to pick me up, because arrival kisses can be so very nice. Alas, if anybody is waiting for me, it tends to be a taxi driver. None of them has ever kissed me, let alone jumped into my arms, as sometimes occurs with arrival kisses.

Arrival kisses cause more of a traffic jam than departure kisses, because they often immobilize someone who's pushing a great big cart full of luggage, thereby blocking the passage of everyone behind. Some airports are particularly prone to this kind of thing—it's a function both of airport layout and local culture. For instance, you can take hours to get out of the airport in Chennai, where entire extended families come to throw themselves into the arms of just about everyone getting off the plane and the entire airport becomes clogged with arrival kisses.

The last kind of airport kiss is the co-traveler kiss. These are actually the best. I mean, you write poems and songs about departure kisses, and arrival kisses give you that wild adrenaline burst, but co-traveler kisses are still the best in the long run. These occur between two people who have set off on a journey together. Either they're kissing because they're happy to be leaving together, happy to be arriving together, or happy to be on their way, but there's always a shared complicity and a shared excitement in co-traveler kisses that you just don't find in other kinds of kisses. You're kissing in a setting that's different, you're kissing in the midst of a journey, and a journey shared with someone you want to kiss is usually a journey worth taking.

Monday, June 12, 2006

The Science of Sleep


"Last night I dreamt that somebody loved me. No hope no harm. Just another false alarm. Last night I felt real arms around me. No hope, no harm. Just another false alarm. So, tell me how long before the last one? And tell me how long before the right one? The story is old - I know but it goes on. The story is old - I know but it goes on. Oh, goes on. And on. Oh, goes on. And on" ("Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me", The Smiths).

Um menino tímido ama uma garota, sua vizinha. Mas ama de longe. Então, desenvolve uma técnica de programação de sonhos. Assim, durante o sono, ele encontra a menina, admite seu amor e vive instantes de felicidade. Tudo vai bem, até que algo dá errado. E o garoto fica preso entre o sonho e a realidade.
Esse é o enredo do melhor filme do ano, "The Science of Sleep", que eu ainda não vi. Não rolou estréia, nem aqui, nem nos EUA ou Europa. Mas já é o melhor filme do ano, porque é do diretor francês Michel Gondry. Michel Gondry e seu "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", de 2004, comoveram o mundo. História de um casal de namorados que se separa e procura um especialista em apagar memórias. Eles querem exterminar as lembranças do romance para evitar a dor do rompimento. O filme virou cult, passa dia sim, dia também, nos Telecines da vida.
Enquanto "Brilho Eterno" carrega na fantasia - a lavagem de arquivos cerebrais indesejados - a história de "The Science of Sleep" encanta porque não é totalmente inverossímil. Quem já não deitou a cabeça no travesseiro, virou para o lado, apagou as luzes e fez figa para ter o sonho invadido por aquela pessoa especial? E, em sonho, vale tudo. Tudo se aceita, tudo se perdoa. Se, de repente, em um campo de papoulas surge o ser amado e você nota que ele/ela assumiu a forma do....Bussunda ou da Regina Casé, não faz mal. Você não vai se importar. Vai curtir o beijo de qualquer maneira. Durante o sono, você pode abrir o coração. Pode pagar micos que arrasariam sua reputação no mundo real (como esse mico aí da foto, que mostra o protagonista do filme fantasiado de gatinho), pode fazer confissões, declarações, reclamações e....tirar dúvidas! "Você gostou de mim, pelo menos um pouquinho?". "Você sente a minha falta?". A possibilidade da resposta ser muito doce é enorme. Afinal, quem escreve os diálogos é o seu subconsciente. Você vai ouvir aquilo que você quer ouvir. Porque sonhos nada mais são do que filmes escritos e dirigidos pelo seu cérebro, projetados na escuridão dos seus olhos fechados e estrelados por você. Se o seu sono dura cerca de oito horas.....que maravilha! Você pode chegar a ter a impressão de que passou um terço do seu dia discutindo com o seu querido ou querida se o novo CD do Snow Patrol é mesmo comercial (é. E por isso mesmo é sensacional). Sonhos, dizem os entendidos, duram segundos, minutos. Mas um bom sonho produz o efeito de uma noite inteira. Só que aí vem o dia seguinte. Em um momento, você estava de mãos dadas com ele ou com ela. Que se desintegra em um abrir de olhos, sem nem ao menos falar "tchau", logo que o alarme do despertador berra "corta"! Aí, acabou. Quem sabe na próxima noite. Até lá, você tem dezesseis longas horas de realidade. Então, melhor vivê-la e não sonhar acordado. Porque, como bem lembra aquela canção do Mercury Rev, "I dreamed of you in my arms, but dreams are always wrong".

Saturday, June 10, 2006

Quando a Arte vira Rock, Parte V



Escultura de Antonio Canova e Alison Mosshart, vocalista do The Kills.

Friday, June 09, 2006

Quando a Arte vira Rock, Parte IV



"Primavera", de Sandro Botticelli, e a cantora Beth Orton.

Quando a Arte vira Rock, Parte III



Renoir, Self-Portrait, e Thom Yorke, vocalista do Radiohead.

Quando a Arte vira Rock, Parte II



"The Betrothed", de Marc Chagall, e Hope Sandoval, vocalista do Mazzy Star.

Quando a Arte vira Rock



"O Grito", de Edward Munch, e Keith Flint, do "Prodigy".

Thursday, June 08, 2006

Arise


Mercury Rev, dia 27 de novembro de 2005 no Razzmatazz, em Barcelona.
Saudades.

Wednesday, June 07, 2006

O Rei de Quase-Tudo



1974, um ano antes do meu nascimento. Um professor brasileiro escreve e ilustra uma fábula infantil que talvez esteja carimbada na memória dos meus contemporâneos. O autor é Eliardo França, ilustre desconhecido. O livrinho, "O Rei de Quase-Tudo". Um conto singelo. Para uns, crítica ao consumismo. Para outros (e para mim), uma simples história de solidão encerrada com final didático e feliz:

"O Rei de Quase-Tudo tinha quase tudo.
Tinha terras, exércitos e tinha muito ouro.
Mas o Rei não estava satisfeito com o quase tudo.

Ele queria tudo.

Queria todas as terras.
Queria todos os exércitos do mundo.
E queria todo o ouro que ainda houvesse.

Assim, mandou os seus soldados à procura de tudo.
E mais terras foram conquistadas.

Outros exércitos foram dominados.
Nos seus cofres já não cabia tanto ouro.

Mas o Rei ainda não tinha tudo.
Continuava o Rei de Quase-Tudo.

Por isso ele quis mais....
Quis as flores, frutos e os pássaros.
Quis as estrelas e quis o sol.

Flores e frutos e pássaros lhe foram trazidos.
Estrelas foram aprisionadas e o sol perdeu a liberdade.

Mas o Rei ainda não tinha tudo.
Porque, tendo as flores, não lhes podia prender a beleza e o perfume.

Tendo os pássaros, não lhes podia prender o cantar.
Tendo as estrelas, não lhes podia prender o brilho.
E, tendo o sol, não lhe podia prender a luz.

O Rei era ainda o Rei de Quase-Tudo.

E ficou triste.
Na sua tristeza saiu a caminhar pelos seus reinos.

Mas os reinos eram agora muito feios.
Não tinham flores, frutos e estrelas
e o dia não tinha sol.

E triste como ele eram os seus súditos.

Então o Rei de Quase-Tudo não quis mais nada.
Mandou que devolvessem as flores aos campos
e que entregassem as terras conquistadas.

Mandou que plantassem árvores para que dessem frutos
e que soltassem os pássaros.

Mandou que distribuíssem as estrelas pelo céu
e que libertassem o sol.

O Rei ficou feliz.
Na sua imensa alegria, sentiu a paz.

E, sentindo a paz, o Rei viu que
não era mais o Rei de Quase-Tudo.

Ele agora tinha tudo".

Em 1990, Depeche Mode, uma das primeiras bandas de rock a trilhar o caminho eletrônico adotado pelo New Order, lança a canção "Enjoy the Silence". É produzido um videoclipe para a música. E as imagens....bom, as imagens reproduzem praticamente a conclusão da história do Rei de Quase-Tudo. O vídeo é lindo. O vocalista David Gahan vestido de rei, coberto por manto e de coroa na cabeça, caminha por uma floresta. Carrega uma cadeira de armar, na qual às vezes se senta para sozinho contemplar paisagens do seu reino. Ao fundo, a voz de Gahan entoa, no refrão, que o Rei de Quase-Tudo não precisava mais de nada: "All ever wanted/All ever needed/Is here, in my arms/Words are very unnecessary/They can only do harm/Enjoy the Silence". "Enjoy the Silence" estourou. Talvez tenha se tornado o maior hit do Depeche Mode. A canção tem hoje várias versões, de Tori Amos a Linkin Park (muito decente, diga-se). Até a banda grega (!) Oberon apresentou sua tímida versão da música, no álbum "A Greek Tribute To Depeche Mode". Após alguns anos em inatividade - por conta da dependência química de Gahan - o Depeche Mode lançou o CD "Playing the Angel", ano passado. Em 2004, o álbum "Depeche Mode Remixes 81-04" vendeu mais de um milhão de cópias no mundo inteiro. "Enjoy The Silence" aparece também lá, remixada por Timo Maas e Ewan Pearson.

O livrinho "O Rei de Quase-Tudo" ganhou prêmios literários. Está esgotado nas livrarias. O autor sumiu.

"Enjoy The Silence" é música do CD "Violator", que está nas lojas e em formato mp3. É só pegar na net. O videoclipe dá pra assistir fácil, no www.youtube.com.
O Depeche Mode está de volta. Vida longa aos reis do pop-rock!

Tuesday, June 06, 2006

Love



E os meus olhos ficaram líquidos. Piscadelas rápidas para acomodar a fina película aquosa que por uns instantes distorceu minha visão. Uma pressão invisível estreitou o tecido da minha garganta e o ar passou com dificuldade, junto com a dor. E veio uma onda de felicidade calma. Agradeci. A mesma sensação, duas vezes na vida. Dois homens, duas nacionalidades, duas épocas.
Fim do século XV, início do século XVI. Leonardo da Vinci mergulha no estudo da anatomia humana. Na busca cega pelo conhecimento, profana dogmas e disseca corpos. Um pequeno universo de ossos, cavidades, órgãos e um complexo emaranhado de condutores sangüíneos assombram o homem que, além de pintor, já foi chamado de "o primeiro cientista". Cada imagem revelada é convertida, graças ao punho habilidoso do gênio, em esboços, desenhos minuciosos de crânios, feixes de músculos, costelas e vértebras. Da Vinci abriu crânios à procura de almas. E reproduziu o amor. Em 1492, linhas delicadas de tinta sobre o papel estamparam homem e mulher em simbiose. Pueril e belo. Anatomia e Arte.
Fim do século XX, início do século XXI. Chris Cunningham mergulha na construção audiovisual. Na busca cega pelo videoclipe perfeito, modelou fibra de vidro e criou robôs com texturas de porcelana. Um pequeno universo de braços mecânicos, cabeças desmontáveis, moldes de plástico, tinta branca e efeitos digitais cercam o homem que, além de diretor, já foi escultor e pintor. Cada imagem produzida recebe tratamento em terceira dimensão, resultando no total de quatro minutos que condensam o cenário que se funde à canção da islandesa Björk. Cunningham recorreu a efeitos visuais para enriquecer a música. E reproduziu o amor. Em 1999, maquetes e tratamento computadorizado incorporaram dois andróides sem sexo em simbiose. Pueril e belo. Tecnologia e Arte.
Os esboços de Da Vinci estão exposto na Galleria Degli Uffizi, em Florença. São o que a Itália, nação atrasada das cantinas, tavernas e sorveterias, tem de mais avançado. Um presente para os olhos e para o coração.
O videoclipe de "All Full Of Love" está disponível em http://www.youtube.com (basta digitar Björk no campo de busca). É o que a islandesa, cantora cujas músicas costumam aborrecer, tem de mais avançado. A música ganha brilho por mérito das imagens. Um presente para os olhos, para os ouvidos e para o coração.
Da Vinci e Cunningham. Pintores, artistas, amantes da Anatomia separados por quinhentos anos de História. Gênios.

Sunday, June 04, 2006

Copa do Mundo


2006, Copa do Mundo. Futebol é tema de todas as rodas. Dos taxistas reunidos no ponto aqui da esquina aos presos que se apertam no xadrez número 9 da Cadeia de Atibaia, todo mundo dá seus pitacos, sejam eles confiantes ou críticos. Análises inteligentes, ácidas e divertidas rolam no boca-a-boca e na mídia, que já inclui até blog futebolístico subscrito pelo brazuca-ítalo-californiano Bruno Romani e seus comparsas: http://www.chorumelos.blogspot.com/.
Lula, o porteiro Zé, a copeira do Fórum, minha professora de Inglês, Marcola. A Copa tem o poder de unir bandidos (estejam eles nos presídios, nas ruas ou no Planalto), gente trabalhadora, vovozinhas. Todos terão algo a dizer, comemorar, reclamar e debater.
Menos eu. Confesso: entendo de futebol tanto quanto entendo de boxe tailandês. Não compreendo o básico, hehe. É, o basicão. Pensou em "impedimento"? Pra mim, iletrada, impedimento não é o básico. Somente um curso avançado de futebol talvez pudesse me esclarecer porque o moço esforçado que correu bastante e chegou até a cara do gol não pode simplesmente chutar a bola, balançar a rede e correr para o abraço. Por que o rapaz tem que estar uns passos atrás (ou na frente?) dos estraga-prazeres do outro time? Outra: pra quê tanto jogador em campo? São onze ou doze em cada time? Não lembro. Não importa. Se dois ou três são expulsos, nem se nota. É gente demais! Qual a finalidade? Cobrir o campo inteiro? E por que não são feitos campos menores? Desperdício de grama....
Não sei a diferença entre "futebol-força", "futebol-arte" e congêneres. Não sei o que é um esquema tático 5-4-2, 3-7-1, 6-2-4 ou qualquer outra combinação de números que mais pareça senha de cartão de banco.
Não sei se Parreira é bom técnico, não sei porque não repetiram o Felipão ou mandaram o Leão. Não sei qual é a chave do Brasil, o dia do primeiro jogo (é, não sei), direito quem é reserva e quem é titular.
Não sei quantos são os juízes de linha ou quantos são os bandeirinhas. Não sei qual a diferença entre um juiz de linha e um bandeirinha. Não sei também qual o efeito maléfico dos cartões amarelos. Pra expulsão, é necessária a soma de cartões amarelos? Ou só o vermelho leva à triste despedida do campo? Vale para a partida seguinte? Sei lá....
Enfim, meus conhecimentos futebolísticos são nulos.
Mas tenho bom coração, vou torcer pela seleção.
Prometo dar pulos de alegria quando aquele tal Juan mandar a bola para o gol!

Saturday, June 03, 2006

Itália, Lado B


* Mulher de vestido, casaco-de-peles, salto alto, berrando maluquices nas ruas de Milão. Muito Fellini.

* Pirulitos com a cara do Papa, em Roma.

* Telejornal italiano: âncoras que não olham para a câmera e baixam a cabeça para ler notícias no papel.

* Manchete de jornal impresso: o corvo (!) é o quinto animal mais inteligente do mundo. O polvo é o décimo.

* táxis conversíveis em Capri.

* Lemoncello, a caipirinha italiana.

* Luciano Ligabu. Bon Jovi italiano piorado.

* times de futebol corrompidos. E o campeonato italiano nem passa na TV aberta. A Copa, idem.

* Parcheggiatore abusivo. Em bom português: flanelinha.

* Hamburguer de rim de veado, em Palermo. O inferno em formato de comida.

* Capuccino sem canela. Graças a Deus.

* Vinhos mais baratos do que Coca-Cola. Graças a Deus.

* Morrissey rolando em loja de departamentos grã-fina, Hard-Fi tocando em cantina, durante a janta. Life is good.

* Homem fantasiado de sarcófago, em Roma.

* Mãe italiana chorando, em programa de TV, a saída de casa do filho de 40 anos.

* Xaveco italiano. O mais veloz do mundo.

* lojinhas de produtos por um Euro. Mas não tem palhaço falando em megafone, como nas lojinhas de R$ 1,00....

* "Messaggieri", em Roma. CDs a perder de vista...prima pobre da Amoeba, prima rica de qualquer loja em São Paulo...

* Pizza. Não, a nossa não é melhor. Nem em sonho.

Thursday, June 01, 2006

Kurt & Julieta


Itália. Legiões de turistas entopem as ruas estreitas das cidades de maior porte: Florença, Veneza, Roma. Americanos desajeitados, australianos bronzeados, japoneses sorridentes e nórdicos mega-loiros direcionam câmeras fotográficas para captar cores, formas e emoções irradiadas por edifícios imponentes, pinturas centenárias, gente pelada de mármore. No Vaticano, pessoas se acotovelam para ver o túmulo do Papa-pop João Paulo II. Em Florença, fila de duas horas diante da Galleria Degli Uffizi, que concentra as obras de Leonardo Da Vinci (agora, com o efeito "Código", também pop). Em Roma, centenas de moedinhas voam diariamente das mãos esperançosas dos gringos atraídos pela Fontana di Trevi. Mas o alvoroço maior não é provocado pelo corpo de um líder religioso, por um gênio da Arte e da Ciência ou por esculturas de pedra que traduzem a perfeição. Brancos, branquelos, amarelos, feios, moleques, pais de família....se unem nos jardins da casa dela, mulher que nem sequer existiu. Julieta. No quintal, adolescentes espinhudos se revezam para posar ao lado da mocinha mais romântica da Literatura. Nada respeitosa, a molecada taca a mão no peito da Capuletto de bronze. O momento é registrado pelos flashes. Todo dia, Julieta é molestada sem oferecer resistência. Nenhum Romeo defende sua honra. Mas, apesar dos abusos impostos à donzela, o que atrai a meninada e a velharada à casa de Julieta....é o Amor. Sim, descobri que o Amor movimenta o turismo. Olhos que focalizam enternecidos o suposto balcão do qual a menina que nunca existiu ouvia as promessas de amor do menino que nunca existiu. E dedos de meninos e meninas que existem que rabiscam promessas de amor para meninas e meninos que existem. As paredes do jardim de Julieta estão completamente marcadas por Matheos que dizem amar Luizas, por Jennifers que não vivem sem seus Pauls, Ericks, Daves...Quem visita a casa de Julieta, inevitavelmente deixa no muro, colado com um bom chiclete, seu recado ao ser amado. Mas nem todos. Afogado no meio da batelada de papéis melosos, um chamou a minha atenção. O desenho de uma carinha triste, um garrancho tipicamente masculino e a famosa sentença: "I hate myself and I wanna die. Kurt Cobain. Nirvana forever". Um pedacinho de Desamor no meio do mar de votos dos queridos e amados. Escrito por um menino que existe, citando um menino que um dia existiu, mas que pôs fim à própria existência, grudado na parede da casa de uma menina que nunca existiu, mas que, mesmo assim, pôs fim à própria existência.