Saturday, April 29, 2006

Arrivederci


"De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas". ("As Cidades Invisíveis", Italo Calvino)

Thursday, April 27, 2006

Stars of CCTV


Depois de quatro meses de 2006, finalmente.....um CD para amar!


Audio Bullys + Kasabian = Hard-Fi!!!!



Dá vontade de sair pulando, hehehe.

Tuesday, April 25, 2006

Be a Zebra


Porque zebras não sofrem stress. Nem antes e nem depois que o leão aparece....

Thursday, April 20, 2006

Dona Renita!?



O que Dona Renita, oficial de promotoria, está fazendo com uma guitarra na mão?
Nãoooo......
É Patti Smith, a gêmea perdida.
Ou a perdida é Dona Renita, que foi parar em Atibaia.....

Tuesday, April 18, 2006

Help, Jack!


Abril.....

43 inquéritos policiais, 12 denúncias, 13 pedidos de arquivamento, 130 JECRIM, 52 processos criminais, 8 alegações finais, 5 contra-razões de apelação, 42 processos cíveis, 01 Júri, 30 audiências.....e incontáveis protocolados ambientais....

Será que a Assessoria de Designações não pode mandar Jack Bauer para dar uma mãozinha? Aí, em 24 horas eu zero a promotoria, hehe!

Monday, April 17, 2006

Efeito Cebola


Conserve ao menos uns quarenta anos-luz de distância de "Switching Off", do Elbow...
"Last of the men in hats hops off the coil. And a final scene unfolds inside. Deep in the rain of sparks behind his brow. Is a part replayed from a perfect day. Teaching her how to whistle like a boy. Love's first blush. Is this making sense? What am I trying to say? Early evening June. This room and a radio play. This I need to save. I choose my final thoughts today. Switching off with you. All the clocks give in. And the traffic fades. And the insects like a neon choir. The instant fizz. Connection made. And the curtains sigh. In time. With you. You, the only sense the world has ever made. Early evening June. This room and radio play. This I need to save. I choose my final scene today. Switching off. Ran to ground for a while there. But I came off pretty well. You, the only sense the world has ever made. This I need to save. A simple trinket locked away. I choose my final scene today. Switching off with you".
.....ou então reserve um dinheirinho para os lenços de papel.

Saturday, April 15, 2006

Femme Fatale

"Here she comes, you better watch your step. She’s going to break your heart in two, it’s true. It’s not hard to realize. Just look into her false colored eyes. She builds you up to just put you down, what a clown’cause everybody knows (she’s a femme fatale). The things she does to please (she’s a femme fatale). She’s just a little tease (she’s a femme fatale). See the way she walks. Hear the way she talks. You’re written in her book. You’re number 37, have a look. She’s going to smile to make you frown, what a clown. Little boy, she’s from the street. Before you start, you’re already beat. She’s gonna play you for a fool, yes it’s true’cause everybody knows (she’s a femme fatale). The things she does to please (she’s a femme fatale). She’s just a little tease (she’s a femme fatale). See the way she walks. Hear the way she talks." ("Femme Fatale", Velvet Underground)
Se os advogados de Suzane Von Richtofen queriam mesmo convencer a opinião pública de que a moça é uma boneca inofensiva, deveriam ter passado a ela a lição de casa correta: aproveitar o resto de liberdade pré-julgamento e ir ao cinema para ver "A Dama de Honra". E se inspirar em Senta, a personagem principal, para compor a personagem que iria mostrar na sua entrevista para a TV Globo. "A Dama de Honra" é filme francês, de Claude Chabrol. Conta a história de um rapaz certinho, excelente filho, que se apaixona pela dama de honra no dia do casamento da irmã. Ela é prima do noivo. Maluquete, impulsiva, jura amor eterno ao moço logo após o conhecer. E o arrasta para sua casa: uma mansão abandonada, onde ela mora no porão. Passado nebuloso, doçura interrompida por repentes de fúria, comportamento amoral e um pedido imoral....aos poucos o filme vai abrindo a personalidade de Senta, apelido de Stephanie, aos olhos do espectador que se remexe incomodado na poltrona. Esse desconforto é provocado pela sensacional atuação de Laura Smet, a Senta. Quando séria, a atriz não causa simpatia: tem um rosto muito redondo e duro, olhos claros bastante oblíquos, típicos das pessoas indignas de confiança. Ar de tédio. Contudo, ao sorrir, suas feições se alteram a ponto de induzir remorso naquele que ousou cogitar que a mocinha era dissimulada e desagradável. E tal sensação dura até o final de "A Dama de Honra", quando o quebra-cabeça se completa e os segredos são escancarados.
O filme é de 2004. Laura Smet nasceu em novembro de 1985. Sua Senta já reuniu todos os atributos para entrar para a galeria das psicóticas célebres do cinema. Não fica atrás das mulheres de Hitchcock. Laura Smet compôs uma pós-adolescente que amedronta, sem precisar recorrer a caretas de perversidade, sangue cenográfico (ou ao famoso furador de gelo empunhado pela retocada Sharon Stone em "Instinto Selvagem", essa sim, caricata). E o efeito que Senta surte nos outros é explicado pela própria, em cena na qual ela conta ao namorado Philippe a razão de seu fracasso como atriz iniciante: um teste com John Malkovich foi mal sucedido. Philippe pergunta então se ela se saiu mal. Senta: "Malkovich se saiu mal. Disse que eu o deixava nervoso".

Friday, April 14, 2006

Dez Bons Motivos....

.....para ouvir rock pelo resto da vida. Só rock e derivados. E em Inglês.

"Meça a cabeça do boi:
Um CD colado à testa
Adornaram-no para a festa"
("Cantiga de Boi", Caetano Veloso)
"Mas como posso ser feliz num poleiro?
Como posso ser feliz sem pular?"
("A Carta", Djavan e Gabriel, o Pensador)
"Havia um homem na calçada lendo o 'Código da Vinci´
Ou lia o Código da Venda?"
("Notícias Populares", Ana Carolina)
"Mania de peito
É armação de silicone"
("Mania de Peito", Seu Jorge)
"Mundo pequinês,
Mundo comprimido
Um Midas por mês
Neste grande imenso pet shop"
("Mundo Cão", Zeca Baleiro)
"Tem batom no dente
Tem batom no dente
Tem batom no dente
Tem batom no dente"
("Batom de dente", Marisa Monte)
"Eu digo desenrock-se
Meu nego desenrock-se
Desintoxique-se desse apocalipse
Para evitar complicação com a intoxicação
E o buraco das meninas não aparecer com cera
Paraguai e Argentina querem fechar a fronteira"
("Desenrock-se", Tom Zé)
"Umbigo meu nome é umbigo
Gosto muito de conversar comigo
Quem está contra mim também está comigo"
("Umbigo", Lenine)
"Parece que foi ontem,
eu fiz
aquele chá de habu
Pra te curar da tosse do chulé
Pra te botar de pé"
("Do Sétimo Andar", Los Hermanos)
"Acabo de comprar uma tv a cabo. Acabo de entrar na solidão a cabo. Acabo de cair no 16 a cabo. Acabo me tornando usuário. Do 12 pro 57 é um assalto. É um assalto. É 171, 171, 171. Só não caí porque sou nordestino bem alimentado. 171. Vai Net. Vem Net. Pelo Otto, o que dá lá é lama, é o caranguejo."
("Acabo de comprar uma TV a cabo", Otto)

Tuesday, April 11, 2006

Se meu Focus falasse

"Lóóóógico!"
Foi essa a palavra que ouvi - com o som do "ó" bem prolongado - quando revi Paulinho, ano passado. Paulinho é o santo milagreiro que me ensinou a dirigir. Paulinho não é meu irmão, namorado ou amigo prestativo (e suicida) que se dispôs com benevolência a iniciar uma novata na arte do automobilismo. Paulinho era instrutor da "Auto Escola Jóia". Portanto, paguei Paulinho para desempenhar a missão (quase) impossível. A cruzada rolou há mais ou menos cinco anos. Em 2005, voltei à auto-escola para renovar a carteira de motorista. Foi quando Paulinho, simpático, me cumprimentou, pronunciando meu nome. Espantada com a recordação - cinco anos não são pouca coisa para quem lida com intenso entra-e-sai mensal de alunos -perguntei se ele lembrava mesmo de mim. Daí a incisiva resposta.
Não tinha mesmo como esquecer. E desconfio que não foi devido aos meus belos olhos, hehe. Fui a galinha dos ovos de ouro da "Jóia". Quase três meses de aula. De segunda a sábado. Paulinho suou. Teve trabalho para me botar nos eixos (ou melhor, para evitar que eu saísse deles e invadisse calçadas, praças, ribanceiras). Foi persistente e severo nos ensinamentos e broncas. Eu entendi exatamente o quanto Daniel-San penou nas mãos do Senhor Miyagi, em "Karatê Kid". No bacana "Kill Bill", Uma Thurman foi tratada com carinho pelo velhinho samurai Pai Mei, em comparação com o treinamento militar ao qual me submeteu Paulinho. Paulinho foi meu Mestre Yoda.
Paulinho era careca, um pouco gordinho. A cara de Nick Hornby, aquele escritor britânico que é rei na Indielândia (semelhança confirmada por um amigo, então vizinho, que também teve Paulinho como professor). Batia um certo desconforto olhar para aquele sujeito, sentado no banco do passageiro, e imaginar que eu era discípula de um sósia do homem que inventava personagens nerds e fracassados. Eu acabava por me sentir um. Principalmente após Paulinho acionar rispidamente o freio que mantinha ao alcance do pé, para conter meus ímpetos de revogar leis da Física e provar ao mundo que dois corpos podem ocupar o mesmo lugar no espaço (se dependesse de mim, o Golzinho de Paulinho teria sido fagocitado por um ônibus). Uma vez, perguntei a ele se eu era sua pior aluna. Ele silenciou. Quem cala...
Paulinho tomou conhecimento da minha vida. É difícil compartilhar horas com um estranho, dentro de um compartimento fechado, e não falar sobre si. Paulinho soube que meu avô paterno tinha dezesseis irmãos, que minha cachorra era vira-lata, que eu odiava canela. E suas aulas não tinham apenas caráter pedagógico. Em razão da extrema necessidade de....ahnnn...."aprimorar meu estilo", numerosos foram os percursos. Fizemos "city tour" completo. Com Paulinho, circulei pelas ruas limpinhas do Jardim Europa. Arrisquei nossas vidas nas Marginais. Embrenhei o frágil Golzinho pelas quebradas do Grajaú. Subi a rua da casa da Vovó, para me exibir para a família. Até que a zona urbana já havia sido toda explorada. Na falta de novos lugares, seguimos para a Serra da Cantareira.
Em uma bela tarde, depois de me despedir com um "até amanhã", Paulinho sentenciou: tinha acabado. Não havia mais o que fazer por mim. Ele já me ensinara tudo o que sabia. Agora era comigo, sozinha. Fiquei aflita. Era como se a mãe-pato expulsasse o filhote-pato da ninhada! Como me atrever a enfrentar o cruel mundo do trânsito sem Paulinho-pés-ligeiros do meu lado!? Cogitei em contratá-lo "ad eternum", o que seria esquisitíssimo: motoristas particulares, há de montes no planeta. Mas...."caronas particulares".....duvido.
Então, o inevitável. Me despedi com lágrimas nos olhos e fui para casa. No dia seguinte, lancei o Golzinho da minha mãe nas ruas. Sem minha mãe junto, porque ela disse que não era louca.
No final das contas, nunca envergonhei Paulinho....muito. Jamais danifiquei o patrimônio alheio. Nunca matei ou decepei ninguém. Também nunca tentaram me matar. No máximo, machistas recomendaram que eu fosse exercitar meu talento junto a um tanque de roupas. Ignorei o conselho. Hoje, meu Focus exibe alguns arabescos nas laterais, obras de um pouco de atrito com as paredes da garagem do prédio. Mas tudo bem. Dão um toque personalizado ao possante, hehe (e justificam a presença do vidrinho de cera líquida que carrego no porta-malas, junto com um paninho). Não corro, não dirijo como um trator desgovernado em um milharal. Sou uma dama ao volante.
Dirigir é maravilhoso. Recomendo. É terapêutico, você nem percebe. Posso até afirmar, com orgulho: sou como Ayrton Senna, guio melhor na chuva. E ter um carro é útil. Não apenas como meio de deslocamento. Carro é um prolongamento do seu quarto: você pode entulhar de CDs, espalhar farelo de bolacha nos bancos, tirar uma soneca. Sua mãe não vai ver.

Enfim....aprendam a conduzir automóveis, é o meu conselho! Precisando, a "Auto Escola Jóia", na avenida Turiassu, está de portas abertas. Paulinho tem paciência de Jó. E, graças a mim, nervos de aço.

Monday, April 10, 2006

Enquanto isso, na Sala da Justiça...

Não canso de me surpreender com advogados. Advogados se tornaram os publicitários do Direito. A maioria desapegou-se da lei. Ao invés de buscar argumentos jurídicos para convencer juízes, jurados e tribunais de que o cliente tem sempre razão....escolheu o uso das idéias criativas, mirabolantes, inéditas. Traduzindo: boa parte da categoria tem preguiça de estudar. Estudar pra quê? Geralmente, quem paga os serviços de um advogado é leigo em Direito. Não sabe a diferença, por exemplo, entre legítima defesa e estrito cumprimento de dever legal (muitos advogados também ignoram, apesar de quatro ou cinco anos de faculdade). Mas aquele que contrata um advogado procura segurança, não aulas sobre as centenas de artigos que os códigos e as leis enumeram. Então, ser atendido por um terno engravatado, em um escritório com carpete e secretária de voz macia....são os requisitos que bastam para o incauto entregar seu futuro, sua liberdade e até sua vida nas mãos de um desconhecido que usa anel no dedinho. Ah. E, fundamentalmente, entregar seu dinheiro.
Ontem, a televisão exibiu entrevista com Suzane, a ré mais famosa do Brasil. Matou os pais. Menina rica. Orientada por seus bem pagos advogados, Suzane apareceu diante das câmeras vestindo camisetinha da Minie (minha cachorra tem uma parecida), pantufas de coelhinhos e cabelo enfeitado como arraial de festa junina: vários lacinhos e fivelas coloridas prendendo fios falsamente loirinhos. Se a mocinha de 22 anos pintasse as bochechas de vermelho e saísse na rua, certamente não seria reconhecida ou agredida pela população revoltada. Qualquer um a confundiria com a boneca Emília, a do Sítio. Suzane chorou lágrimas de crocodilo e conversou com a repórter simulando voz infantil. Constrangedor. Farsa escancarada. A TV nem precisaria ter mostrado a cena em que, distraído, o advogado explica a Suzane como responder às perguntas. O doutor esqueceu que o microfone pregado na roupa da cliente já estava ligado....
Resultado: ao contrário de comover, os advogados conseguiram aumentar o índice de rejeição da garota. Foi presa novamente hoje....
Suzane dispõe de grana para financiar sua defesa. Terminou como "vítima" de profissionais que ensaiam roteiros, enquanto deveriam exercitar argumentação jurídica. E quem não tem dinheiro? É defendido de que forma? Com muito descaso, segundo eu vejo diariamente no Fórum.
Em Júri, já presenciei réu agarrado à Bíblia, terço enrolado nos dedos, ajoelhado no chão com o olhar fixo no Cristo pregado na parede. Um pecador arrependido? Não, um pecador travestido por um advogado sem noção do ridículo.
Já li, espantada, um pedido de liberdade provisória subscrito por advogado que pedia a soltura do cliente, traficante. Explicava que a Lei de Crimes Hediondos proibia que fosse concedida a liberdade provisória em caso de tráfico ilícito de drogas. Contudo, a lei era expressa: ao crime era vedada a liberdade.....não ao autor do crime!!! Ou seja, o rapaz poderia ganhar as ruas, caso o...ahnn...."crime" continuasse a jogar truco com os demais detentos lá na carceragem. Vergonhoso.
Em um processo no qual o réu era acusado de ter estuprado, em uma noite, quatro vezes uma mulher, saiu a seguinte "pérola": não foi estupro, e sim um crime impossível. Pois "nenhum homem teria potência para tanto". Promotores (homens) se juntaram em torno dos autos para comentar sobre a pobre vida sexual da advogada que havia elaborado a tese. Meninos....
As aberrações continuam em delitos de menor gravidade. Homem que furta em supermercado garrafa de uísque. E mulher que, em farmácia, enfia creme de beleza dentro da bolsa. Defesa? "Estado de necessidade". Afinal de contas, nem só de pão e água vive o homem. E amenizar as rugas do rosto é realmente uma necessidade feminina....
A inventividade de certos advogados extravasa o texto escrito. Uma vez, chegou nas minhas mãos um pedido de indenização trabalhista.....em formato de história em quadrinhos! O advogado desenhou o cliente, na frente do cruel patrão, ouvindo a demissão de cabeça baixa. Desenhou o cliente entrando no barraco onde morava e contando o ocorrido à eposa, que segurava um nenê nos braços (sobre o qual foi colocado um balãozinho contendo a palavra "buá"). O último quadrinho da historinha era o desenho do próprio advogado, segurando uma folha que estampava seu número de inscrição na OAB. Sem comentários.

Advogados. Tomara que você nunca precise de um.

Saturday, April 08, 2006

Girl Power

Começou com a Mulher-Maravilha. Culpa da televisão. Era um seriado tosco, a atriz principal, ex-Miss Estados Unidos. Mas qual menininha não ficaria abismada vendo uma séria executiva girar em torno de si mesma, levantar fumaça....e aparecer vestida como um traveco egresso da parada gay!? Bom....naquela época, aos cinco anos de idade, obviamente não via qualquer restrição ao berrante figurino da minha heroína favorita. Eu amava a Mulher-Maravilha. Mais do que a minha mãe. Mulher-Maravilha era sagrada. E também todos os acessórios relacionados a ela: revistinhas em quadrinhos (que meu pai era obrigado a ler em voz alta, pois eu ainda era analfa), lancheira, uniforme (o top da fantasia era vestido sobre uma malha(!), pois ganhei o conjuntinho de presente em um inverno....), desenhos para colorir (caseiros. Papai, again). Aí passou. Ou melhor, aí passou para outra. Mulher-Biônica. Fiquei encantada com a moça que levantava carros com o dedo mindinho, sem lascar esmalte e sem precisar usar calção azul com estrelas estampadas. Mas a série acabou. Tudo bem, adotei "As Panteras". Não tinham super poderes. Mas possuíam super laquês armando os super cabelos. E eram muito melhores do que a Mulher-Maravilha: essa, folgada, prendia bandidos após arremessar um laço. Tipo peão de rodeio. Nem precisava sair do lugar. As detetives, não. Corriam atrás dos meliantes, equilibradas em saltos-agulha!
Anos 80...."Dama de Ouro". Policial ruiva, Kate Marrone. Os maldosos a apelidaram de "Kate Machone". Injusto. Em um episódio, ela até chorou. Vi todos.
Fiquei grandinha. E pensei que tivesse me curado da febre do heroísmo feminino.
Ledo engano. Em 1997, o vício adormecido aflorou. "La Femme Nikita", o melhor e mais injustiçado seriado de todos os tempos. Melhor porque os enredos eram repletos de armadilhas; a gente mordia a poltrona de nervoso (os roteiristas do LFN futuramente criaram o aclamado "24"). Melhor porque todos personagens apresentavam caráter dúbio (os mocinhos não valiam muito mais do que os vilões: torturavam, encomendavam assassinatos, fingiam sentimentos e puxavam o tapete uns dos outros). Melhor porque a trilha sonora foi escolhida a dedo. Rolou PJ Harvey, Curve, Depeche Mode, Massive Attack, Hooverphonic, Prodigy e uma infinidade de sons bacanas. E seriado injustiçado porque.....só eu vi, hehe. Cheguei a propor pagamento para que amigos dessem uma espiada nos capítulos e me proporcionassem a alegria de alguns comentários no dia seguinte.
Comprei botas e roupas pretas iguais às da Nikita, repetindo o efeito Mulher-Maravilha (o fato da minha idade já ser quase seis vezes superior a cinco anos não me envergonhou). Terminado o último episódio, respirei aliviada. Estava livre!
Sim....livre. Mas só até a estréia de....."Alias". Cópia descarada de "La Femme Nikita". Agente da CIA empenhada em salvar o mundo (e mundo, nesses casos, limita-se aos EUA) de toda a sorte de terroristas. E lá voltei eu pra frente da TV....

Desisti. E resolvi assumir. Sou fanática por seres humanos com dois cromossomos X que ganham a vida tentando botar malfeitores atrás das grades!
Tão fanática, que virei um.

Friday, April 07, 2006

Japa Girl

"One...take control of me? You're messing with the enemy. Said its 2, it's another trick. Messin with my mind, I wake up. Chase down an empty street. Blindly snap the broken beats. Said it's gone with the dirty trick. It's taken all these days to find ya. I tell you I want you. I say I need you. Friends, take control of me. Stalking cross' the gallery. All these pills got to operate. The colour quits and all invade us. There it goes again. Take me to the edge again. All I got is a dirty trick. I'm chasin down all walls to save ya. I say I want you. I say I need you. I...the blood on my face. I just wanted you near me. I say I want you. I say I need you. I...the blood on my hands. I just wanted you near me" ("Club Foot", Kasabian).

Quero ir para Tokyo. Esse ano. Por causa de "Club Foot", música metropolitana do Kasabian. Porque "Club Foot" merece ser ouvida durante a noite, marcada por passos rápidos e nervosos no meio da multidão, dos letreiros de neon e do trânsito. Não vou esquecer de usar minhas botas de cano alto....

Wednesday, April 05, 2006

Deseducada

Celso Limongi, atual Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, me chamou de "deseducada" (isso parece início de coluna do Diogo Mainardi. Não é). Os motivos - jurídicos - são irrelevantes aqui. O fato é que tal termo, pouco usual, levou-me à reflexão. Penso que, ao atribuir a mim adjetivo de sonoridade tão incomum, o chefe do Judiciário paulista teve receio em ser....deseducado. Porque a pecha de "mal-educada" ou até mesmo "sem educação" é demasiadamente forte e explícita. Também um pouco ofensiva. Insinua que meus desafortunados genitores desempenharam com displicência a árdua tarefa de tornar sua pimpolha uma pessoa civilizada. Ou pior: que esse casal me largou ao Deus-dará, negligenciando por completo o dever de ensinar à sua descendente valores básicos de convivência e respeito. "Deseducada", parece, é a pessoa que se desfez da educação que de fato recebeu. Então, mamãe já pode respirar aliviada. Ela cumpriu sua parte. A crítica não foi dirigida a essa pobre mulher, e sim à degenerada na qual me transformei.
Mas o "deseducada" atiçou meu pensamento. Lembrei que, durante os anos de faculdade, um professor de Direito Processual Penal demonstrava profunda afeição pela palavra "inverdade". Mais uma vez, a questão da suavidade do vocábulo. É feio e...ahnn..."deseducado" dizer que "o réu contou uma mentira". Melhor: "o acusado afirmou uma inverdade". O "inverdadeiro" não ficará magoado com o comentário. E, esteticamente, a grafia nos autos sairá elegante.
Já percebi: profissionais do Direito têm esse vício. A tendência, às vezes inconsciente e mecânica, de injetar glamour no banal e de travestir de classe o pejorativo. Nas sentenças, denúncias e petições em geral, "carros" não são furtados, leiloados ou danificados. Somente "veículos". Ora, apenas vendedores de concessionárias e narradores de comerciais televisivos pronunciam "veículos" ao invés de "carros". Se tiver coragem, pare seu possante em um posto de gasolina e peça ao frentista que abasteça o seu "veículo". Eu não tenho. Qual o problema da injustiçada palavra "carro"? É gíria? Palavrão? Não. Talvez seja a aspereza do som. Os dois erres machucam os ouvidos e olhos. Não merecem integrar o chique linguajar jurídico.
E por aí vai: "fugir" vira "empreender fuga"; um simples e comunzinho "entrar" é elevado à categoria de "adentrar" ou "ingressar". E nenhum policial "consegue" prender o bandido. Todos "logram êxito em". Medonho. Agora, já tem até gente trocando o mundano "maconha" por...."diamba"! Socorro, Pai dos Burros.
E, na vida cotidiana, "o preconceito contra palavras perseguidas" continua. Por que um sujeito não pode jantar no Fasano e perguntar ao garçom onde fica o sanitário? E por que o mesmo rapaz seria motivo de chacotas se, no Terminal Rodoviário Tietê, pedisse informações sobre a localização do toalete? Afinal, ambos os espaços são destinados à idêntica colheita de materiais!
Mas enfim. Deixa para lá. Desculpa, Celsão! Foi mal. Prometo: não voltarei a ser grosseira. Ops! "Grosseira" é uma palavra muito...."grosseira". Perdão, eu não aprendo mesmo. Coisa de gente deseducada.

Monday, April 03, 2006

Santíssima Trindade da Dor

Se a música dos anos 80 fosse uma espécie de vertente do Catolicismo, não faltariam santidades com nomes pincelados na Bíblia do Pop-Rock. E algumas canções poderiam ser elevadas à categoria de verdadeiros milagres, ou ao menos de poderosos ungüentos para almas angustiadas. Então, se você procura alívio para os males do espírito (e, fundamentalmente, do coração), ajoelhe-se e inicie a prece: "Em nome de Joy Division, Smiths e The Cure....Amém".
Porque Ian Curtis, Morrissey e Robert Smith, líderes das respectivas bandas, são os Arautos da Dor. Passados mais de vinte anos, ainda imploramos a Eles por um pouco de conforto, compreensão, consolo. Afinal, Eles também padeceram e sofreram de tristeza e melancolia. Um Deles, a ponto de morrer. Não crucificado, mas enforcado. Os sobreviventes espalharam sua Dor sob a forma de versos e melodias. E arrebanharam seguidores cegos e eternamente fiéis.
O mundo cai, o coração aperta.....e lá vai o devoto percorrer o mesmo caminho de espinhos: busca de palavras de apoio (geralmente proferidas por um outro mortal, qualificado como "melhor amigo"), contato com água-benta (no caso, convertida em aguardente) e....peregrinação até o arquivo pessoal de discos. Na hora da desesperança, o fiel recorre às autoridades máximas. Vai direto ao lugar mais alto da hierarquia dos especialistas em caos interior. Nesses momentos, não se atreve a acionar entidades menos graduadas para apaziguar a alma. Bloc Party, Interpol...ótimas baladas, com certeza. Mas para instantes passageiros de melancolia, nunca como bálsamo para corações afundados! Radiohead? Esse tem futuro. Thom Yorke progride em sua escalada rumo ao altar dos Messias. Mas ainda não. Coldplay? Deus nos livre! Ou melhor, Cure, Joy Divison e Smiths nos mantenham longe desses falsos sofredores, Judas do Rock.
Joy Division, The Cure ou Smiths. Escolha o seu Salvador. E inicie o ritual de reclusão: tranque o quarto, bata a porta do carro. E reze junto com Eles. Peça. Pode chorar. Eu não vou ver mesmo.

Sunday, April 02, 2006

Daryl Hannah, f * e mal paga

Madrugada de ontem, logo antes de "me recolher" (expressão senil, mas que serve bem para definir o ato de ir para a cama praticado por aqueles cujos ossos já doem), lembrei de....Daryl Hannah. Não sei o motivo. Não pensei primeiro em um filme no qual ela houvesse atuado. Esquisito, simplesmente Daryl Hannah apareceu na minha mente, acompanhada da pergunta: "Por onde será que anda Daryl Hannah?" Só que minha dúvida não era exatamente essa. Não demorou muito e me recordei de que recentemente Daryl Hannah filmou "Kill Bill", dirigido por Quentin Tarantino. Minha curiosidade a respeito dessa, agora, quarentona era: "Afinal de contas, por que Daryl Hannah não deu certo?".

Daryl Hannah ganhou status de musa graças a "Splash", de 1984. Encarnava o papel de uma sereia que se perdia na cidade grande. Boa parte do filme, desfilava pelada. A imensa cabeleira loira - que ela conserva até hoje - tapava o necessário. "Splash" foi para a década de 80 aquilo que "Uma Linda Mulher" representou para os anos 90. A mesma temática: mocinha engraçada, simpática, meio burra que se apaixona pelo americano trabalhador padrão. Só que a prostituta de "Pretty Woman" impulsionou Julia Roberts para uma carreira promissora. Tom Hanks, o par romântico que servia de "escada" para Daryl, futuramente enfeitou a lareira de casa com estatuetas do Oscar. E a sereiazinha morreu na praia.

"Splash" não foi a estréia de Daryl Hannah no cinema. Antes, a moça apareceu em "Blade Runner", filmaço. Era uma andróide punk, com olhos de guaxinim e corte de cabelo tipo cúpula de abajur (na época, ninguém achou ridículo). Famosa a cena em que a personagem se contorce em piruetas e aplica uma "chave-de-pernas" em volta do pescoço do protagonista Harrison Ford. "Blade Runner" é venerado até hoje como um "cult". Harrison Ford teve vida longa em Hollywood. Luc Besson plagiou descaradamente a idéia da replicante ginasta ao filmar o horroso "O Quinto Elemento". Daryl Hannah levou o papel principal em "Splash". E, a partir daí, nada mais.

Injusto. Daryl Hannah não perdia em beleza para Julia Roberts, Meg Ryan. O talento também não era inferior. Todas eram igualmente péssimas. Julia Roberts engatou comédias açucaradas que encheram sua bolsinha de dinheiro. Daryl Hannah até surge como atriz em uma delas, como discreta coadjuvante. Tarantino escalou Daryl para personificar a vilã caolha de "Kill Bill". Outra vez, a atriz não é a estrela principal. A imagem mais forte de "Kill Bill" é Uma Thurman em seu macacão amarelo, sorry. O filme é de 2004. Entre 1984 e 2004, Daryl Hannah não deu o ar da graça em um único filme expressivo. Pior: passado o efeito "Kill Bill", a veterana não aprendeu a lição. Ao invés de valorizar o passe, continuou a se arriscar em projetos que certamente não irão vingar como sucessos cinematográficos ou campeões de locações de DVDs....

O mundo apenas não apagou Daryl da memória devido à sua vida pessoal. Daryl Hannah foi namorada do milionário, solteirão e bonitón John Kennedy Jr. Tal condição talvez explicasse a sua distância de produções lucrativas. Daryl Hannah não precisava de grana, pois andava de braços dados com ela. Contudo, nem no amor a menina foi feliz. Era odiada pela mãe de John-John que, legalmente, nem sua sogra chegou a ser. Comenta-se que Jackie Kennedy a considerava muito parecida com a rival Marilyn Monroe. Após anos de relacionamento, Júnior largou a boemia e subiu ao altar. Com outra. Mais loura, mais jovem, mais aristocrática. E mais rica, bem mais rica do que uma atriz pouco empenhada. O casamento de JKJr terminou. Mas se Daryl Hannah ainda suspirava pelo rapaz, nem ao menos teria oportunidades para reconquistá-lo. O milionário e a esposa morreram em um acidente aéreo, voltando de uma festa.

Pelo menos dessa sorte, a moça se safou. Daryl Hannah, fodida e mal paga. Mas viva.

Saturday, April 01, 2006

Einstein e Squash

"Em um mundo onde o tempo é um sentido, como a visão ou o paladar, uma seqüência de episódios pode ser rápida ou lenta, branda ou intensa, salgada ou doce, motivada ou sem motivo, ordenada ou aleatória, dependendo da história anterior do observador. Filósofos sentam-se nos cafés da Amthausgasse e discutem se o tempo realmente existe fora da percepção humana. Quem pode dizer que um evento acontece rápido ou devagar, com ou sem motivo, no passado ou no futuro? Quem pode dizer que os eventos realmente acontecem? Os filósofos sentam-se com olhos semi-abertos e comparam suas estéticas do tempo". ("Einstein´s dreams", Alan Lightman)

Para Einstein, toda medição do espaço e do tempo é subjetiva. Essa é a idéia fundamental da Teoria da Relatividade, que ele sintetizou usando um exemplo divertido: "Quando você está namorando uma bela garota, uma hora parece um segundo. Quando você senta numa brasa viva, um segundo parece uma hora. Isso é Relatividade".
Será que Einstein chegou a acompanhar um jogo de squash? Porque squash é uma atividade completa não apenas por aliar força, rapidez e elasticidade. Esporte algum é tão feliz ao fundir as noções de espaço, velocidade e tempo.
Espaço. Fala-se em "quadra" de squash. Quadra, no entanto, é o retângulo gigante no qual tenistas, jogadores de basquete e de vôlei se movimentam freneticamente em busca de uma esfera, a bola. Mas uma quadra é um espaço unidimensional. Um quadrado ou retângulo, nunca um cubo. Squash, sim, rola dentro de um cubo. "Sala", ao invés de "quadra". Ao fechar a porta de vidro desse espaço, para iniciar o treino ou a partida, a sensação é de ingresso em uma big caixa. Como se o jogador de squash fosse uma pecinha dentro do painel de uma máquina de fliperama (que é uma enorme caixa).
Velocidade. Quer se dar bem no squash? Então nada de preguiça nas pernas, OK? E prepare seu braço preferido. Ele terá que desenhar ligeiras parábolas no ar. Esqueça seus dedos. Seu membro superior agora termina no ápice de um arco de titânio: a raquete. Aliás, o corpo que rejeita essa prótese resistente e leve transforma o jogador em inevitável perdedor. Acostume-se a sentir que suas veias e nervos ultrapassam "your fingertips" e que também se ramificam pela trama de cordas da raquete. Suas chances começam aí. E corra. Corra muito. Sebo nas canelas, para usar expressão antiga. Persiga a bolinha com passadas velozes. Mas atenção. Perseguir não significa necessariamente correr atrás. Squash não é tênis. O chão não é o limite. A bola terá à sua disposição cinco superfícies. Cabe a você ir de encontro à sua trajetória, seja à direita, à esquerda ou em altura superior à sua (lembre-se: seu braço encompridou). Monte estratégias. Para ganhar o ponto, module sua velocidade na batida. Se você não matar a jogada, com sorte poderá prever aonde será seu próximo encontro com a pequena esfera. Posicione-se e espere por ela.
Tempo. Aulas de squash duram meia hora. Se todas as batidas de bolinhas e pegadas de tênis deixassem marcas de tinta na "quadra".....jogadores experientes (e obviamente velozes) decorariam boa porcentagem de solo e paredes no espaço de trinta minutos.....
E provavelmente a mesma meia hora seria insuficiente para um pintor preencher com pinceladas um muro de dimensões semelhantes à parede lateral do caixote de squash....
Será que Einstein aprovaria minha Teoria da Relatividade da Aula de Squash?